DISCOS
Made in Mexico
Guerillaton
· 16 Dez 2008 · 09:31 ·
Made in Mexico
Guerillaton
2008
Skin Graft


Sítios oficiais:
- Made in Mexico
- Skin Graft
Made in Mexico
Guerillaton
2008
Skin Graft


Sítios oficiais:
- Made in Mexico
- Skin Graft
Rock fervente e reggaeton encontram-se num híbrido perfeito para acompanhar estrilho político e conferências de imprensa que acabam mal.
Os Made in Mexico distorcem os limites do rock como se operassem um golpe de estado. Cientes da escassa margem de manobra que resta ao rock ácido e bizarro da casa Skin Graft, outrora representada por ameaças como Melt Banana ou os Arab on Radar, os Made in Mexico honram as origens zapatistas declaradas no nome e reencaminham o alvoroço no sentido do reggaeton. Sim, essa miscelânea que, durante um efémero reinado, combinou tesão, reggae e rap da América latina, ao mesmo tempo que convidava a que toda a dignidade e pudor se perdessem no inflamável single “Gasolina”. O mesmo não significa que as vozes de Daddy Yankee (rei do reggaeton) e de Rebecca Mitchell (a furibunda porta-voz dos Made in Mexico) evidenciem semelhanças de maior. Pelo contrário, os padrões rítmicos do bastardo reggaeton encontram-se em toda a parte da conspiração entre bateria e baixo, e nos riffs de uma guitarra que é tocada como uma baioneta que fura inércia e pacifismo (“Grindton” é fatal nesse aspecto).

A garra de Guerillaton aponta ao preenchimento das batalhas que separam a declaração presente em “Conquest” (tema de Patti Page, entretanto recuperado pelos White Stripes) do cessar-fogo heróico cantado por Johnny Cash em “Johnny Reb”. Em certas alturas, a voz viperina de Rebecca Mitchell anda mais próxima de uma Jarboe perdida na febre de uma fiesta, e assim disposta a chafurdar num ambiente dominado por lutas entre galos e maus hábitos com o alto patrocínio da Cerveja Sol. O segundo álbum dos Made in Mexico faz-se essencialmente de música que anuncia chapada: “Yes We Can” antecipa o slogan de Barack Obama em explosão de ritmos da América Central; “Mundo 2” restaura o discurso em que Hugo Chávez chama burro a George W. Bush (You are a donkey, Mr. Danger). E assim, descobrindo rock e referências políticas num mesmo cocktail, os mais saudosos dos velhos Rage Against the Machine podem até ter aqui nova banda de culto.

Sem nunca ser especialmente irritante, a novidade acaba por acusar algum desgaste. Os Made in Mexico não devem, mesmo assim, ser confundidos com a excelente anedota conhecida por Brujeria (a super-banda de metal "cantado" em espanhol que, em paralelo, mantinha a farsa de actuar também como cartel de narcotráfico). Guerillaton leva demasiado a sério o seu fundamento revolucionário. Confia nos atractivos de uma fórmula que, para seu bem, deve subsistir apenas durante um álbum. Quem não faz história, consegue, pelo menos, reacender o brio e intensidade de alguns dos seus momentos. Boa nota de rodapé pintada com as cores da bandeira colombiana.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros