Os Made in Mexico distorcem os limites do rock como se operassem um golpe de estado. Cientes da escassa margem de manobra que resta ao rock ácido e bizarro da casa Skin Graft, outrora representada por ameaças como Melt Banana ou os Arab on Radar, os Made in Mexico honram as origens zapatistas declaradas no nome e reencaminham o alvoroço no sentido do reggaeton. Sim, essa miscelânea que, durante um efémero reinado, combinou tesão, reggae e rap da América latina, ao mesmo tempo que convidava a que toda a dignidade e pudor se perdessem no inflamável single “Gasolinaâ€. O mesmo não significa que as vozes de Daddy Yankee (rei do reggaeton) e de Rebecca Mitchell (a furibunda porta-voz dos Made in Mexico) evidenciem semelhanças de maior. Pelo contrário, os padrões rÃtmicos do bastardo reggaeton encontram-se em toda a parte da conspiração entre bateria e baixo, e nos riffs de uma guitarra que é tocada como uma baioneta que fura inércia e pacifismo (“Grindton†é fatal nesse aspecto).
A garra de Guerillaton aponta ao preenchimento das batalhas que separam a declaração presente em “Conquest†(tema de Patti Page, entretanto recuperado pelos White Stripes) do cessar-fogo heróico cantado por Johnny Cash em “Johnny Rebâ€. Em certas alturas, a voz viperina de Rebecca Mitchell anda mais próxima de uma Jarboe perdida na febre de uma fiesta, e assim disposta a chafurdar num ambiente dominado por lutas entre galos e maus hábitos com o alto patrocÃnio da Cerveja Sol. O segundo álbum dos Made in Mexico faz-se essencialmente de música que anuncia chapada: “Yes We Can†antecipa o slogan de Barack Obama em explosão de ritmos da América Central; “Mundo 2†restaura o discurso em que Hugo Chávez chama burro a George W. Bush (You are a donkey, Mr. Danger). E assim, descobrindo rock e referências polÃticas num mesmo cocktail, os mais saudosos dos velhos Rage Against the Machine podem até ter aqui nova banda de culto.
Sem nunca ser especialmente irritante, a novidade acaba por acusar algum desgaste. Os Made in Mexico não devem, mesmo assim, ser confundidos com a excelente anedota conhecida por Brujeria (a super-banda de metal "cantado" em espanhol que, em paralelo, mantinha a farsa de actuar também como cartel de narcotráfico). Guerillaton leva demasiado a sério o seu fundamento revolucionário. Confia nos atractivos de uma fórmula que, para seu bem, deve subsistir apenas durante um álbum. Quem não faz história, consegue, pelo menos, reacender o brio e intensidade de alguns dos seus momentos. Boa nota de rodapé pintada com as cores da bandeira colombiana.