DISCOS
Albert Hammond Jr.
Cómo Te Llama?
· 23 Jul 2008 · 08:00 ·
Albert Hammond Jr.
Cómo Te Llama?
2008
Rough Trade / Popstock


Sítios oficiais:
- Albert Hammond Jr.
- Rough Trade
- Popstock
Albert Hammond Jr.
Cómo Te Llama?
2008
Rough Trade / Popstock


Sítios oficiais:
- Albert Hammond Jr.
- Rough Trade
- Popstock
A revolta e emancipação power-pop da injustiçada sombra de Julian Casablancas, nos Strokes, resulta em disco capaz de reagrupar os cacos dos corações despedaçados pelo Verão.
São usualmente óbvias as formas encontradas, por algumas bandas e não apenas por certos rappers, para reflectir na música a promiscuidade sexual vivida em períodos de enorme popularidade em que o céu é o limite. Quando os Blur se encontravam prestes a ser merecedores de alta rotação nas rádios de todo o mundo, Damon Albarn cantava Du bist sehr schön, But we haven't been introduced(És muito bonita, mas ainda não fomos apresentados), no libertino single-trampolim que foi “Girls & Boys”, e, muito subversivamente, apelava a que todas as diferenças entre turistas alemães e ingleses fossem resolvidas entre as paredes de quarto de hotel e não ao murro nas ruas. Os sotaques, assim como a habilidade de seduzir numa língua que não a materna, são bens altamente sensuais.

Denunciado pelo seu título em espanhol, Cómo Te Llama?, o segundo álbum de Albert Hammond Jr., que normalmente se ocupa da guitarra-ritmo nos Strokes, é a materialização power-pop da oportunidade reservada a alguém sem a aparência atraente de Damon Albarn, mas com talento e charme suficientes para orientar o seu próprio Du bist sehr schön como isco para lançar a um possível coração-gémeo que se atreva a trincar a frase que procura “meter conversa” . Ou seja, recorrendo a outras palavras, pode-se referir Cómo Te Llama? como disco perfeito para ser gravado em cassete – o seu travo seventies aponta nesse sentido - e distribuído numa estância de férias como cartão-de-visita de um “cromo” (underdog, se preferirem) acanhado e introvertido, contudo capaz de alegrar a felizarda que o preferir aos atletas bronzeados de beira-mar.

Albert Hammond Jr. não vive certamente carente de atenção feminina (namora com a modelo Agyness Deyn) e é só mesmo por desporto que Cómo Te Llama? foi (possivelmente) criado nesses termos de loser que se vinga na power-pop. A gestão desportiva que Hammond Jr. faz de um cancioneiro com soluções para tudo, é, aliás, uma das características que aproxima mais esta sua segunda aventura do sabor descontraído e variado da sangria: a fruta descobre-se sumarenta a uma delícia de guitarras descaradamente college rock com o nome de “The Boss Americana”, o sabor exótico sente-se a “Borrowed Time”, reggae com a ponta de cinza prestes a cair sobre o tapete , enquanto que o ingrediente espirituoso andará mais espalhado pela suite instrumental “Spooky Couch” e pelos arranjos sinfónicos do que podia ser um Final Fantasy a reviver a magia de todos os dias de Verão em apenas 7 minutos. A sangria é também conhecida por agradar a jovens e graúdos: quem ainda não descobriu como resistir a estimulantes intemporais como “Glory Days” de Bruce Springsteen ou “Walk of Life” dos Dire Straits, contará também com muito por onde escolher em Cómo Te Llama?.

O gozo pessoal e quantidade considerável de fantasias que desfilam em Cómo Te Llama? torna-o também útil como cassete a deixar no gravador de chamadas, em sinal fingido de que tudo vai bem e sem arrependimentos, caso a ex-namorada volte a ter um momento de fragilidade que a leve a ligar para o telefone de casa (normalmente soterrado entre os discos de Buddy Holly e Jonathan Richman). Quando o clube do coração não ganha e encontra-se arrefecida a metade esquerda da cama, pode ser que Cómo Te Llama? faça muito jeito. Passam assim a ser dois os factores favoráveis a que o disco seja escutado em fita. Se o meu conselho não morrer em águas de bacalhau, a Rough Trade ainda vai a tempo de acrescentar esse formato aos que se encontram disponíveis para Cómo Te Llama?. Bem o merece Albert Hammond Jr. por ter criado um álbum sincero e consistente que ombreia destemidamente com qualquer coisa recente a cargo da nave-mãe Strokes.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros