DISCOS
V/A
Controversy
· 18 Mar 2008 · 07:00 ·
V/A
Controversy
2008
Rapster / Popstock!


Sítios oficiais:
- Rapster
- Popstock!
V/A
Controversy
2008
Rapster / Popstock!


Sítios oficiais:
- Rapster
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A controvérsia resolve-se assim que alguém descobrir que pecado tão capital cometeu Prince para merecer tão pesada pena quanto este inútil disco de versões.
É admirável o esforço demonstrado por Prince ao manter uma expressão de agrado na fotografia megalómana que acompanha a frente do seu último disco Planet Earth (que conheceu distribuição revolucionária ao ser oferecido como anexo do jornal Mail On Sunday no Reino Unido). Mesmo assim, o arrojo do anão de Minneapolis, que ousou ser maior que o mundo, em nada se compara com aquele que levou alguém a crer que Controversy podia fazer justiça a Prince através de uma compilação de versões tão descabida quanto terrivelmente planeada.

O mundo sabe do desastre que foi a interpretação em Purple Train e existirá também quem possa não ter ainda recuperado totalmente do trauma provocado pela capa de Lovesexy, em que Prince passou a ser o artista a partir daí conhecido por Adão, mas que mal de maior fez o autor de Diamonds and Pearls para ver o seu legado ser trucidado e desonrado por uma série de versões que, em grande parte dos casos, gravitam em torno de um chill-out sem alma, da pura novidade de longevidade bubblegum ou, no pior dos casos, da electrónica para novos yuppies? Veja-se, por exemplo, como o funk soletrado de “Alphabet Street”, passa à condição de música exótica de supermercado na mão dos Blue States ou como o produtor nova-iorquino Onsulade segue a mesma via com a achega a “Crazy You”. Algures, o Símbolo contorce-se em espasmos de raiva.

Adiante, a frágil seriedade de Controversy atinge fundo rochoso quando os Dynamics tentam conjugar “Girls & Boys” sob a forma de um reggae genérico que ofenderia os fãs de Gentleman. Escapam à guilhotina do desinteresse as apropriações executadas pelo príncipe da nova soul D’Angelo - mesmo assim, capaz de elevar os índices libidinosos de “She’s Always in My Hair” – e Susanna & The Magical Orchestra, que não soa tão chata como quase sempre enquanto aproveita convincentemente a melodia e dramatismo do original “Condition of the Heart”.

Ao que parece, as capas dos discos de Prince são de uma importância obrigatória. Afinal, quando, no último Planet Earth, surge diante do globo terrestre, Prince encontrava-se realmente a testar uma versão virtual do software Google Earth e a tentar descobrir a morada dos responsáveis pela concepção desta compilação e de grande parte dos seus intervenientes (D’ Angelo está a salvo). Presume-se que a qualquer altura esses possam receber uma visita de orientação “quebra-ossos” por parte da bisarma que era o baterista da New Power Generation (cujo porte pode ser consultado no teledisco da orgiástica leitura do kamasutra “Get Off”). Não há como escapar às evidências: Controversy é, de facto, sofrível na sua selecção e aproveitamento nulo de tão sólido e rico cancioneiro como o de Prince. Estes são os tristes sinais dos tempos.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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