DISCOS
Damani Van Dunem
Mutatis Mutandis
· 24 Jan 2008 · 08:00 ·
Damani Van Dunem
Mutatis Mutandis
2007
Very Deep / Som Livre


Sítios oficiais:
- Damani Van Dunem
- Very Deep
- Som Livre
Damani Van Dunem
Mutatis Mutandis
2007
Very Deep / Som Livre


Sítios oficiais:
- Damani Van Dunem
- Very Deep
- Som Livre
Saúde, sangue na guelra e algumas arestas a limar é o que se descobre a este estreante MC angolano.
Enquanto o mundo se ressente da crise económica global, a cotação da música angolana continua a subir indiferente a tudo o resto. Arrastado também por esse ascendente, Damani Van Dunem é MC de pátria angolana que, pelo que dá a conhecer o seu disco de estreia Mutatis Mutandis, mantém habilidade e sofisticação suficientes para transcender o prazo que condena ao esquecimento precoce os fenómenos de natureza meteórica. Afinal, Damani conheceu já a oportunidade de viver em Cuba, Rússia, Moçambique, encontrando-se actualmente sedeado em Portugal, mais precisamente em Odivelas (que é zona fervente em termos de hip-hop) – percebe a dimensão global do hip-hop e anda nisto desde os anos 90 (conforme sublinha numa rima).

Mudando apenas o que deve ser mudado, Mutatis Mutandis é eficiente retrato de alguém fiel às raízes, indisposto a envolver-se em rivalidades que não existem e aparentemente franco nos reparos cortantes dirigidos a questões mais especificas (o tráfico exposto em “Diamantes de Sangue”) e outras mais saturadas (um continente Africano que não se endireita conforme denunciado em “Roots”). Esse alguém que não é gangsta nem playboy, acaba por ser generoso nas portas que abre a produtores vários e a MCs convidados – agentes de uma heterogeneidade que beneficia um triunvirato de hip-hop que abomina a ideia de provocar bocejos. Mutatis Mutandis peca só mesmo por se exceder além do que permite o seu fôlego – a partir da décima faixa “Mic Checka” parece adoptar um piloto automático que armazena corpulência e nem tanto algo de propriamente relevante.

Faça-se, porém, jus à estrondosa série que, desde o reconhecível single “Papão (Eu Sou)” a “16 and 1”, dispara certeiramente quatro tiros de topo e deixa fumegante a arma na mão de Damani. Na mesa de poker que é o actual hip-hop tuga, as passagens mencionadas servem como uma boa mão para ir a jogo, ou não incluísse os seguintes trunfos: samples centrais inquestionavelmente bem elaborados na sua vénia a uma recomendável “velha escola”, a atitude decidida que demonstra “What!” na sua intenção de ser hino de festa de bairro ao rubro, o nome da “bomba” Soraia Chaves e de estrelas da NBA atirados ao ar na fulminante “Papão (Eu Sou)”, o inesperado Joker que é o MC Verbal no pomposo ponto alto”16 and 1”. Infelizmente, e assim que se sente a quebra aos seus índices mais inspirados, o debute lança-se em queda livre, deixando mesmo transparecer a amarga sensação de que a sua segunda metade é uma réplica menor da primeira (apesar de diferenças como a novidade sentimental do tema mais r & b “Não vai dar (mais)”). Acaba Mutatis Mutandis por ser um passo maior que a perna, mas um muito promissor passo, ainda assim.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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