DISCOS
Gene Bowen
Bourgeois Magnetic
· 17 Set 2007 · 08:00 ·
Gene Bowen
Bourgeois Magnetic
2007
Amorfon


Sítios oficiais:
- Amorfon
Gene Bowen
Bourgeois Magnetic
2007
Amorfon


Sítios oficiais:
- Amorfon
O piano caracteristicamente delicado de Harold Budd valoriza em muito um curto disco perdido no tempo e na sua própria atmosfera melódica.
Em termos gerais, Bourgeois Magnetic representa um recanto de catálogo que serve ao frisar ainda mais vincado de um dado que se lê às entrelinhas do historial criativo da primeira metade da década de 80: altura em que floria nos dedos do visionário norte-americano Harold Budd toda a ténue graciosidade melódica de que necessita um piano para que este se torne no instigador de sensações etéreas e sedativas que se conhece às históricas colaborações ambient com Brian Eno Ambient 2: The Plateaux of Mirror e The Pearl. Coube agora à japonesa Amorfon descobrir o tal recanto à Cantil Records, pertença de Budd e Bowen, que editara este disco originalmente no ano de 1981.

A verdade é que permanecem intactas as propriedades mais luminosas do piano de Harold Budd que, através do seu cunho minimalista (“A Bride and Her Bachelor” decide-se repetidamente pelas mesmas notas), se instala em três das cinco faixas que constituem um disco que não deixa de suscitar estranheza por surgir em nome próprio e não enquanto colaboração. Talvez assim seja por culpa do desenquadrado díptico “Bourgeois Magnetic / The Phase of a Dinasty”, que, quase criminosamente, desperta quem escuta do mais terno sonho, através de todo o saltitar pós-punk que Gene Bowen procura tornar contagioso ao servir-se do irrequieto baixo como batuta para uma orquestra de instrumentos onde é saliente a indisciplina de um berimbau quase Naná Vasconcelos em modo vanguardista.

Não chega a ser esse rasgo de idiossincrasia suficientemente penoso para manchar o melhor pano. É tão absorvente a autenticidade primaveril das melodias gémeas da primeira “Tourmaline” e da ligeiramente mais adornada última “Amethyst” (ambas peças de joalharia), que, a partir daí, percebe-se o porquê do magnético surgido no título. Serve o fluxo naturalmente físico, que move em ciclo Bourgeois Magnetic, para o tornar num boomerang de fragrâncias que têm em Harold Budd o alquimista da sua essência e em Gene Bowen o artesão que sabe perfeitamente como garantir o requinte periférico que exige um piano de valor impagável, que nunca o deixou de ser durante os últimos 30 anos de música.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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