DISCOS
David Vandervelde
The Moonstation House Band
· 08 Ago 2007 · 08:00 ·
David Vandervelde
The Moonstation House Band
2007
Secretly Canadian / Flur


Sítios oficiais:
- David Vandervelde
- Secretly Canadian
- Flur
David Vandervelde
The Moonstation House Band
2007
Secretly Canadian / Flur


Sítios oficiais:
- David Vandervelde
- Secretly Canadian
- Flur
O faro da Secretly Canadian rende mais um escritor de canções potencialmente clássico, mas indisposto a percorrer linearmente o caminho até esse estatuto.
Com o lançamento de The Moonstation House Band, a Secretly Canadian garante o carimbo num diploma que destaca a label como caso singular na descoberta e cultivo de escritores de canções instantaneamente clássicos. Depois do excêntrico Richard Swift ter devolvido charme, nostalgia e graça a contextos amorosos adversos, é David Vandervelde quem redescobre crença na noção de que um disco pode manter uma atitude frontal rock sem descartar a ambição de ser memorável e inteligente na alquimia dos seus arranjos mais orquestrais. A associação entre ambos os talentos da Secretly Canadian descobre-se até às semelhanças sonâmbulas entre “Moonlight Instrumental” e “Walking Withouth Effort Theme”, ambos instrumentais que provam, em abono de Vandervelde e Swift respectivamente, que existem por aqui compositores que poetizam o sentimento mesmo quando verbalmente silenciados.

A anterior menção da riqueza patente nos arranjos obriga a que, em primeiro lugar, sejam mencionadas as aptidões que tornam David Vandervelde num valor com asas para alcançar a intemporalidade. É precisamente aqui que entra o nome de David Campbell, o pai de Beck, que colaborou na composição dos arranjos que se escutam a três das faixas incluídas neste debute. Destaca-se entre essas uma "Corduroy Blues", que varia o seu fulcro sinfónico vezes suficientes para ser comparada a uma espécie de compacto exacto do que de melhor ostentava o excelente Sea Change de Beck (que contou com a preciosa ajuda do seu referido pai). Repare-se em como pode também assumir-se como sábio um habitante de Chicago aparentemente abstraído dos eventos que fizeram a história da cidade.

Depois de tantas associações, podia-se, contudo, apontar The Moonstation House Band como um disco derivativo, mas há em David Vandervelde um combinado de “pinta” e carisma que não deve ser subestimado. Quase que se cheira o cabedal e odores desagradáveis da ressaca às imediatamente distinguíveis “Nothin No” – improvável listener’s digest de todo o lendário Festival Monterey - e “Jacket” (e ao seu memorável refrão upbeat). Ambos constituem temas de enorme peso no ano corrente, que, com “Can’t See Your Face No More”, formam, no âmago mais rock de The Moonstation House Band, uma espécie de tríptico perdido no tempo que serve, em simultâneo, como banda-sonora perfeita para que cada um possa sentir virtualmente o que é estar no corpo de Patricia Arquette no teledisco de “Like a Rolling Stone”, a música de Bob Dylan legitimamente apropriada pelos Rolling Stones.

É esse sentimento de atordoamento e posterior recomposição que se sente aos momentos em que David Vandervelde mais se assume como um Chico Fininho à moda americana. As duas facetas – a do ser contemplativo e a do boémio - compõem os versos de uma mesma moeda de ouro que serve para engordar o cada vez mais inquebrável porquinho–mealheiro Secretly Canadian.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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