Com o lançamento de The Moonstation House Band, a Secretly Canadian garante o carimbo num diploma que destaca a label como caso singular na descoberta e cultivo de escritores de canções instantaneamente clássicos. Depois do excêntrico Richard Swift ter devolvido charme, nostalgia e graça a contextos amorosos adversos, é David Vandervelde quem redescobre crença na noção de que um disco pode manter uma atitude frontal rock sem descartar a ambição de ser memorável e inteligente na alquimia dos seus arranjos mais orquestrais. A associação entre ambos os talentos da Secretly Canadian descobre-se até às semelhanças sonâmbulas entre “Moonlight Instrumental” e “Walking Withouth Effort Theme”, ambos instrumentais que provam, em abono de Vandervelde e Swift respectivamente, que existem por aqui compositores que poetizam o sentimento mesmo quando verbalmente silenciados.
A anterior menção da riqueza patente nos arranjos obriga a que, em primeiro lugar, sejam mencionadas as aptidões que tornam David Vandervelde num valor com asas para alcançar a intemporalidade. É precisamente aqui que entra o nome de David Campbell, o pai de Beck, que colaborou na composição dos arranjos que se escutam a trĂŞs das faixas incluĂdas neste debute. Destaca-se entre essas uma "Corduroy Blues", que varia o seu fulcro sinfĂłnico vezes suficientes para ser comparada a uma espĂ©cie de compacto exacto do que de melhor ostentava o excelente Sea Change de Beck (que contou com a preciosa ajuda do seu referido pai). Repare-se em como pode tambĂ©m assumir-se como sábio um habitante de Chicago aparentemente abstraĂdo dos eventos que fizeram a histĂłria da cidade.
Depois de tantas associações, podia-se, contudo, apontar The Moonstation House Band como um disco derivativo, mas há em David Vandervelde um combinado de “pinta” e carisma que nĂŁo deve ser subestimado. Quase que se cheira o cabedal e odores desagradáveis da ressaca Ă s imediatamente distinguĂveis “Nothin No” – improvável listener’s digest de todo o lendário Festival Monterey - e “Jacket” (e ao seu memorável refrĂŁo upbeat). Ambos constituem temas de enorme peso no ano corrente, que, com “Can’t See Your Face No More”, formam, no âmago mais rock de The Moonstation House Band, uma espĂ©cie de trĂptico perdido no tempo que serve, em simultâneo, como banda-sonora perfeita para que cada um possa sentir virtualmente o que Ă© estar no corpo de Patricia Arquette no teledisco de “Like a Rolling Stone”, a mĂşsica de Bob Dylan legitimamente apropriada pelos Rolling Stones.
É esse sentimento de atordoamento e posterior recomposição que se sente aos momentos em que David Vandervelde mais se assume como um Chico Fininho à moda americana. As duas facetas – a do ser contemplativo e a do boémio - compõem os versos de uma mesma moeda de ouro que serve para engordar o cada vez mais inquebrável porquinho–mealheiro Secretly Canadian.