DISCOS
Magwheels
Evebuildingbomb
· 05 Nov 2002 · 08:00 ·
Magwheels
Evebuildingbomb
2002
Ad Noiseam


Sítios oficiais:
- Magwheels
- Ad Noiseam
Magwheels
Evebuildingbomb
2002
Ad Noiseam


Sítios oficiais:
- Magwheels
- Ad Noiseam
Proponho o seguinte exercício: voltávamos uns anos no tempo e confrontava-mos Beethoven, Wagner ou Mozart com uma música dos Rolling Stones. Qual seria a sua reacção? A resposta a esta pergunta não parece ser difícil, certamente que ficariam, no mínimo, amargurados. Outra: convidávamos qualquer pessoa de meia idade para quem o fado ainda é o futuro único da música a ouvir um disco orientado para pistas de dança. O resultado deveria ser parecido com o desafio já proposto. E tudo isto para quê? Para explicar que o ouvir de um disco não se compadece apenas com o nosso gosto pessoal, com o estilo a que pertence, ou com a ideia predefinida que temos do artista. Se hoje ao ouvir um disco do futuro podia ficar desgostoso, também tenho que pensar que até lá vai um longo percurso de evolução e experimentação. É com esta atitude que é pois aqui encarado o disco de Magweels, tão distante de uma canção pop que quase assusta, tão perto de um futuro incerto que até surpreende. A música de hoje (especialmente esta) está tão distante de uns Beatles, que quase parece apenas ter ruídos e barulhos sem sentido. As melodias estão postas de lado, mas não perde “pontos” por isso. Só tem de ser encarada de forma diferente, porque é uma música diferente.

“Evebuildingbomb” é o quarto disco (se considerarmos o álbum de 1994) de David Sullivan, que se apresenta aqui como Magwheels. Lançou por volta de 1994 ainda em cassete um disco homónimo e já em 2001 “Treaktor” e “Lanters”, ambos com edições muito limitadas, que fizeram disparar uma série de atenções sobre este senhor. David Sullivan também assina o interessante artwork de “Evebuildingbomb”, mostrando nele capacidades que passam além da música.

A editora apresenta o disco como música para planos vazios e céus desertos. Não sei se poderá ser encarado assim. Sei, isso sim, que esta é uma música com um poder de agressividade enorme, que se penetra pelas profundezas do nosso corpo de uma forma absolutamente incrível. Por entre as suas guitarras estendidas e os seus ruídos estranhos, as notas vão-se desfolhando por entre um vento imenso e uma paisagem dimensional. Perturbações e interferências são aqui instrumentos para uma beleza grandiosa e diferente, para uma nova dimensão onde o presente se transforma num futuro antecipado, onde tudo ganha novo fulgor.

Este disco situa-se entre aqueles que não são para audição regular. Talvez para momentos mais introspectivos, ou para acompanhamento de um livro que lhe esteja à altura (de preferência escuro e sombrio).

“Evebuildingbomb” é um disco ruidosamente emocional. Ou se gosta, ou se detesta, mas todos quantos o ouçam têm de admitir uma coisa: David Sullivan sabe bem o que quer, e como o fazer.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

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