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10: |
Joanna Newsom YS |
Drag City / AnAnAnA |
Que bom que foi ouvir de novo em 2006 a voz de dama em apuros de Joanna Newsom depois de The milk-eyed mender em 2004. Quem n�o lhe atirou pedras h� dois anos atr�s dificilmente o far� agora; quem as atirou em 2004 poder� muito bem estar arrependido agora, pois Ys � bastante mais diger�vel do que o disco de estreia da harpista (a voz de Joanna Newsom parece estar mais polida), apesar de mais arrojado em termos de estrutura: Ys � menino para se fazer de apenas cinco longos temas e n�o cantar os ouvidos de quem lhe dedica tempo. � entre o progressivo e a do�ura que se faz Ys, disco para segurar fieis e afastar inimigos. Independentemente disso, alguns dos momentos neste disco s�o eternos. André Gomes |
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9: |
Cansei de Ser Sexy CSS |
Sub Pop |
� de carne e osso o Bezzi de que fala Lovefoxxx na m�sica de t�tulo hom�nimo que lhe foi dedicada � � um tipo completamente normal, normalmente fotografado em pose pensativa e t-shirt preta imparcialmente lisa de conte�dos. O Bezzi e os seus h�bitos picuinhas, agora celebrizados � dimens�o global num portugu�s com sotaque, ser�o apenas parte �nfima das figuras e tra�os est�ticos caracter�sticos do underground de S�o Paulo que viu a sua popularidade triplicar em pouco mais de dois anos preenchidos por um incessante hype plenamente justificado. Justificado por for�a de uma contagiante e imperme�vel produ��o que serve idealmente aos prop�sitos de uma sensibilidade pop mais ex�tica do que a que pode oferecer qualquer concorrente emergido a partir dos Estados Unidos. CSS foi t�o somente capaz de dois milagres impens�veis num passado recente: ressuscitar, por transfus�o sangu�nea, o que de melhor sobrava ao electro e aliar a mais categ�rica synth pop das Ladytron a um rock que supera, em benfeitoria l�dica, qualquer coisa que produzam os pr�ximos sucessores � linhagem Strokes-Franz Ferdinand-??????. Eu j� peguei o Bezzi. Tu tamb�m? Miguel Arsénio
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8: |
Chico Buarque Carioca |
Biscoito Fino |
"Carioca". Devia ser assim que os outros putos gozavam com ele quando era puto. É que ele vinha do Rio de Janeiro e estava em São Paulo. Mas escapulia-se para ir ao cinema, para ver as actrizes dos filmes franceses despir-se e isso, ainda hoje, representa muito para ele, isto é, se acreditarmos no jogo de palavras no final de "As Atrizes". Até "Ode aos Ratos", uma espécie de rap com Edu Lobo - e, por falar nisso, todos os velhos deviam perceber que não, o rap não nasceu ontem, tem 30 anos e não ficam mais modernos se o tentarem, se não resultou Burt Bacharach com Dr. Dre, nada resultará, a não ser que seja com o Pacman, já que Sérgio Godinho e os Gaiteiros de Lisboa não têm razões de queixa - tem melodias boas, e há-de ter o seu valor lírico. Dos melhores letristas de sempre da música em português em canções enormes e um disco verdadeiramente incrível, muitos e muitos anos depois. Rodrigo Nogueira
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7: |
Vetiver To Find Me Gone |
Fat Cat / Flur |
O primeiro disco dos Vetiver j� era bom, � certo e sabido. Foi lan�ado numa altura em que o freak-folk era mais falado do que as pipocas e o El Corte Ingl�s. Mas agora deixaram-se disso e s�o �apenas� folk, com as devidas aspas e com as correspondentes transforma��es. Apuraram o seu sentido de oportunidade na escrita de can��es e lan�aram um disco de uma beleza e sensibilidade por vezes tocantes. Andy Cabic, homem de orgulhosa e farta barba, � o senhor que conduz os Vetiver por entre bel�ssimas can��es como �Been so Long� e �Double�. Visto daqui, �Amor Fou� parece um caso de uma noite s�, at� porque To Find me Gone � um disco bastante mais coeso e constante que o �lbum de estreia. Mais do que isso: � um passo em frente e seguro na ainda curta carreira dos Vetiver. André Gomes
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6: |
Thom Yorke The Eraser |
XL Recordings / Popstock |
Thom Yorke trabalhando com Nigel Godrich (aka God) num disco a solo: a ocasi�o era ideal para a cr�tica tecer hossanas ou derrubar mitos, de acordo com os preconceitos de cada um. O vocalista dos Radiohead optou neste �lbum por exorcizar fantasmas, escrevendo letras directas ao assunto, como nunca tinha feito na sua banda. Usou a electr�nica a seu bel prazer sem os constrangimentos de um colectivo: � agora claro quem foi o grande respons�vel pela arquitectura Radiohead p�s- Kid A. The Eraser � assim feito de fragmentos, blips, microritmos. O melhor disco laptop de sempre? � pelo menos o mais humano de todos eles. João Pedro Barros |
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5: |
Liars Drum's Not Dead |
Mute Records |
Eis uma das bandas que mais contribui para o sentimento de que o idioma pop-rock continua a evoluir. Grupo em redefinição/reorientação constante, os Liars decidiram desta vez optar por um álbum conceptual, em volta das aventuras de dois personagens, Drum e Mr. Heart Attack, o lado confiante versus o lado receoso do trio. Desde sempre preocupados com a inventividade dos ritmos e a descoberta de novas texturas sonoras, os Liars têm quase todo o ênfase de Drum's Not Dead voltado para a percussão (ouça-se a viciante “A Visit From Drum”), confiando aos outros instrumentos, como a guitarra, o retoque atmosférico e eventualmente etéreo das composições. Ao vivo, sabe quem os viu, estes homens são fogo. Neste disco, gravado em 2004 em Berlim, fazem-nos crer que tudo foi muito bem pensado, estudado e explorado. Longe, tão longe, vão os tempos em que eram meninos bonitos da cena punk-funk nova-iorquina. João Pedro Barros |
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4: |
Burial Burial |
Hyperdub / Flur |
O ambiente soturno acaba por ser o mais atraente neste universo peculiar e �nico. Poder� ser considerados por muitos como o primeiro e �ltimo grande disco dubstep, apesar da quase supremacia de texturas negras 2step. � certo que o dubstep ganhou este ano verdadeira visibilidade gra�as a este disco, mas tamb�m certo que o seu autor afastou-se da matriz elementar do g�nero e gerou um universo pr�prio. � perturbador, negro e dos raros casos em que a m�sica est� em sintonia com o presente e simultaneamente consciente do futuro. � o verdadeiro produto fruto dos nossos tempos, onde os receios, medos e incertezas � talvez resultantes do 11 de Setembro � se identificam e se sentem. Burial um dos misteriosos arquitectos do amanh� e a sua m�sica um espelho que reflecte a pouca luz das nossas cidades... Rafael Santos |
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3: |
TV on the Radio Return to the Cookie Mountain |
4AD / Popstock! |
David Bowie continua a saber acompanhar o esp�rito do tempo: outrora foram os Placebo a sua banda favorita, mas agora o �camale�o� est� mais virado para Arcade Fire e TV on the Radio. A escolha n�o deixa de ser perfeita: coisas como o p�s-rock e o novo rock j� parecem do s�culo passado (e n�o � que s�o?), j� para n�o falar do revivalismo glam. Quem melhor do que os TV on the Radio enquanto representantes do zeitgeist: Return to Cookie Mountain tem estruturas complexas, guitarras distorcidas e adulteradas, elementos jazz�sticos e um indesment�vel toque pop (por exemplo, em �Province�, com David Bowie nos coros). E h� o toque de est�dio milagreiro de David Sitek, o sampling, o cuidado com os pormenores, tudo caracter�sticas de uma sociedade tecnol�gica e industrial. O futuro confirmar� se n�o ser� este �lbum o melhor representante da vanguarda da m�sica moderna em meados dos anos 00. João Pedro Barros
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2: |
Comets on Fire Avatar |
Sub Pop |
Rock. N�o existe outra palavra com mais probabilidades de passar pela cabe�a de quem ou�a Avatar com boa f�, e isto poderia ser facilmente provado com estat�sticas. Os outros resultados poss�veis seriam uma lista de palavr�es que agora n�o vale a pena referir � todos eles ditos de forma elogiosa, claro est�. Ok, caralho e filho-da-puta seriam algumas dessas palavras. Menos lo fi do que nunca, mas mesmo assim intenso e directo, o ultimo disco dos Comets on Fire � uma bomba prestes a explodir a qualquer momento. Que o diga quem assistiu aos concertos da banda no Porto e em Lisboa � com um Ben Chasny em del�rio. Se o rock fosse todo assim 21586 bandas estariam no desemprego � elas sabem quem s�o. Avatar parece querer afirmar que se os Comets on Fire decidirem lan�ar outro disco no pr�ximo ano a coisa dever� ocupar assim um espa�o parecido com este dentro de 12 meses. C� os esperamos. André Gomes |
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1: |
Sonic Youth Rather Ripped |
Geffen Records |
Foda-se, como é que eles conseguem? Não é terem uma consistência brutal de disco para disco, mantendo quase sempre o nível, com poucos tiros ao lado. Não, não é isso. O mais interessante de Rather Ripped, para além da música, é o facto de Thurston Moore e Kim Gordon serem um casal e continuarem a escrever canções para o seu parceiro e nunca terem acabado e nunca terem acabado com a banda. Junte-se a isto, à cena dos casais, os harmónicos patenteados SY de "Do You Believe In Rapture?", a concisão pop perfeita de "Incinerate", a urgência de "Reena", e o folk da floresta de "Or" e tem-se um disco pop quase perfeito com azeite qb (menos prog que Sonic Nurse, mas mesmo assim, se funciona para o Stephen Malkmus funciona certamente para os SY). Rodrigo Nogueira |