DIA 3 |
03/08
Toxico-musicalidade nocturna
Explosions in the Sky
Vindos
do Texas, incluíam-se entre os pequenos grandes desconhecidos do evento
e chegavam com um novo disco debaixo do braço, encabeçando o cartaz
do terceiro e último dia do festival. “Drama, tragédia e
o êxtase dispersão mais hedonista são alguns dos detalhes
da sua carta de apresentação. Os Explosions in the Sky não
pouparam esforços numa série contínua de vaivéns
de guitarra, muita guitarra. A partir da tragédia real, o prazer, a dor
chegavam em doses comedidas.
Aqueles que não gostaram particularmente dos Mogwai dos primeiros discos:
infinitos circuitos melódicos, catarse orgástica, em definitivo
devaneio instrumental, com esta banda do Texas poderão preencher essa
lacuna. Mais efectivistas, sabem como atrair a atenção do público
e fazer com que ele não vire a cara do palco.
Robin Guthrie
Todos nós sentimos saudades da frescura de Elizabeth Frazier e do seu sorriso. Robin Guthrie, o seu ex-companheiro dos Cocteau Twins, ocupou o lado esquerdo do cenário, delimitando assim o território para a instrumentalidade e, descalço, sob uma luz very soul, impôs uma fria distância entre o público e ele com a sua guitarra. A intimidade forçada de Robin desprendia desassossego, uma perceptível mensagem de infortúnio, a serenidade de desfrutar de um trabalho bem realizado. Dos Cocteau Twins identificamos algo do seu downtempo cadenciado. Uma obscuridade magistral, tangível e um ambiente recolhido numa calorosa palavra francesa: nostalgie.
Alpha
Andy
Jenks e Corin Dingley, naturais de Bristol e dissidentes da Melancolic (propriedade
dos Massive Attack) são a face mais visível da sua identidade.
A sua proposta parte da música electrónica, a pop, o jazz, a soul
e a folk. Conhecidos pela sua mestria na hora de inventar e recriar atmosferas
e pelas suas letras de pessimismo latente, que às vezes demonstram o
desejo de nunca se ter nascido... É da sua essência que libertam
um romantismo vital, que não deixa outra saída senão a
frontalidade agressiva de uma realidade a provocar, buscando o golpe de magia
que a faça desaparecer. A sua actuação foi um parêntesis
entre muitas outras coisas. Se Sylvia Plath não nos tivesse abandonado
há tanto tempo, nela teriam um bom perfil de incondicional.
Lamb
Muito
poucos deverão ter ignorado a saia de Louise Rhodes, rosa, violeta, larga,
com um ligeiro recorte na cintura e com uma impressionante bainha. Um tesouro
a sair do baú do Avant.
O duo desprendia frescura e dinamismo, Andy Barlow corria de uma ponta à outra
do palco golpeando energicamente um tambor, enquanto Lou sorria em tom
colegial, demonstrando o mais puro optimismo. O concerto decorreu em permanente
busca e experimentação.
Os Lamb viajam de um estilo de dança algo jazzístico a um estilo
meditativo muito pessoal, das clássicas linhas de corda a uma sucessão
de samples desmedidos. Introduzem instrumentos subtis que desprendem estruturas
delirantes, o que explica a perfeita harmonia de Andy com a tecnologia. A sensação
de incoerência e de caos predomina no decurso da sua actuação
e vence perante as especulações dos que anunciavam um obscurantismo
made in Portishead. A mistura de elementos clássicos e electrónicos
nos Lamb é como ganhar pulso à insuportável necessidade
de comparações.
Amon Tobin
O
jovem brasileiro não esqueceu a alquimia nesta ocasião, os sons
escuros, as proféticas e generosas descargas de decibéis.
Protagonizou passos indígenas e atmosféricos baseados no electro-soul,
fez vozes digitalizadas, sequências monstruosas e obscenas, algumas vezes
directas ao subconsciente, irreconhecíveis e internas. Tobin ergue a
fasquia posicionando-se em pé de igualdade com o público que,
a qualquer momento, se mostra apto a responder aos seus sinais. A sua performance
é uma enorme mancha de toxicomusicalidade nocturna.
antonia@bodyspace.net
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