Festival de Vilar de Mouros
Vilar de Mouros
25-27 Ago 2016
Dia Dois

O segundo dia de festival valeu uma ida a Viana, para cumprir o desejo de Amália Rodrigues e de um peixinho à beira-mar, tendo culminado na viagem via shuttle que ligava Caminha ao festival - repleta de veraneantes à piscina a acenar e a atirar água ao autocarro, árvores quase a decepar alemães e paisagens belas, maravilhosas, do mais Alto dos Minhos. Podemos vir morar para aqui, papá? Podemos, podemos? Não sei, pequenotes, que este não parece ser o festival para vós - a julgar pelo relato da talentosíssima fotógrafa Bodyspace, que jurou ter visto em casal em pleno acto de amor junto ao rio. Woodstock é assim! O que Woodstock e Vilar de Mouros podia não ser é um palco para NEEV, uma banda surgida sabe-se lá de onde que aqui veio tocar uma espécie de James Blake dos pobres, cujo som estava escandalosamente alto e que conseguiam ser dez vezes piores quando enveredavam pelo português do Brasil. Quando roubavam o riff de "Feeling Good", contudo, eram inenarráveis. Foda-se!

Mantendo a toada lusitana, os Linda Martini deram aqui um concerto agradável q.b. - não foi o melhor que deles vimos, de todo, e já vimos muitos -, começando com "Dá-me A Tua Melhor Faca", passando pelos temas de Sirumba e mostrando que "Juventude Sónica", afinal, é destinada a uma faixa etária específica; em qualquer outra situação o refrão seria entoado com garra... A mesma juventude que deu sinais da sua graça durante o concerto dos Milky Chance, conjunto alemão que faz, essencialmente, canções para anúncios de telemóveis ou protectores solares e que trouxe até às grades uma dúziazita de agrobetos que sabiam as letras todas da sua música tropical feita à guitarra, com uma pitada de electrónica, não muito diferentes de um Kygo e que fizeram abanar mais corpos que os Happy Mondays... Mas até soavam castiços, se os ignorássemos.

Os Echo & The Bunnymen, que mudaram bruscamente de ideias no que à captura de imagens diz respeito meros minutos antes do concerto, vieram aqui provar que estão vivos, esquecendo-se de que nunca foram mais do que uma banda de mortos salvo "The Killing Moon" e "Lips Like Sugar". A plateia adorou, evidentemente. "Roadhouse Blues", dos Doors, foi ali metida à martelada - tal como algum krautrock, algum house, algum psicadelismo e uma grande, grande fatia de aborrecimento. Algo que não existiu em David Fonseca. Sejam quais forem as opiniões em relação à música do senhor leiriense, o que é certo é que o tipo dá um grandioso espectáculo, empolgando a plateia com uma pop que mais parecia movida a speeds - no caso dos seus temas mais recentes, aqueles de Futuro Eu -, arranjando tempo para ensaiar uma canção nova (rapidamente aprendida pelo público) e recuperando o projecto Humanos para homenagear um homem da região, Variações, recitando pelo meio Eugénio de Andrade (com "É Urgente", que alguns reconhecerão pelas velhinhas cadernetas da escola). Num dos grandes concertos do festival, Fonseca ainda teve tempo para resgatar "Borrow" aos anos 90 (caraças os Silence 4 eram realmente bons!) e para se enfiar no meio do público, tal como Tigerman o havia feito. Tudo termina com um pára-quedas passado de mão em mão e com um aplauso mais que merecido. Talvez vénias fosse melhor pensado.

Os Orchestral Manoeuvres In The Dark eram um dos nomes mais aguardados do festival, até porque esta foi a sua estreia em Portugal, onde gozam de bastante carinho. Não fizeram a coisa por menos, trazendo consigo vários clássicos da synthpop dos anos 80, a começar por "Enola Gay", que aqui foi quase tão óptima como quando cantada pelos Super Dragões. Num concerto sem grandes falhas, os OMD cumpriram o prometido, que era, citamos, kick our asses electronically; e, de facto, soube bem ouvir estes sintetizadores mágicos após tantas guitarras, assim como soube muito bem ouvir "Souvenir", independentemente do que possam dizer alguns habitantes do concelho de Ponte de Lima. À medida que iam tocando ia descendo o nevoeiro, despedindo-se o quarteto com "Electricity" e um triste we're told to go... Podem voltar sempre, não nos importaremos mesmo nada.
· 07 Set 2016 · 00:49 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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