Festival de Vilar de Mouros
Vilar de Mouros
25-27 Ago 2016
Dia Três

Não chegámos a tempo de ver Samuel Úria, mas o mesmo confidenciou-nos, horas mais tarde e com cervejas a rodar, que o seu concerto havia sido espectacular e muito bom, as mesmas expressões que utilizou para o concerto dos Tindersticks. Chegámos a tempo, isso sim, de observar de perto o espectáculo dado por Bombino, também conhecido como o Jimi Hendrix tuaregue, homem electrificado que muito fez dançar o povo ali presente. Um óptimo concerto e não o podia ser de outra forma; afinal de contas, Bombino era um Mouro em Vilar de... De Tiago Bettencourt safam-se as bifanas comidas numa roulote na vila e um único comentário: "epá, não".

Os Waterboys eram um regresso há muito aguardado. A banda britânica veio para apresentar Modern Blues, álbum editado em 2015, entrando em palco após uma curta apresentação da M80 (o que foi ridículo) e permitindo observar de perto, pela primeira vez ao longo de três dias de festival, um grupo de cinquentões a rodar alegremente uma ganza. Quanto à sua música, uma espécie de pub rock a lembrar os pianos dos Supertramp ou as guitarras mais moles dos Dire Straits, não é de todo a nossa droga predilecta - mas reconhecemos-lhes talento e atitude, especialmente durante uma boa versão de "Roll Over Beethoven" e durante a interpretação de "A Girl Called Johnny", um dos seus temas clássicos. Abandonam o palco sob uma chuva de aplausos e sensação de dever cumprido, e foram igualmente os únicos que fizeram alguns fãs aninhar-se junto à entrada no backstage na ânsia de obter um autógrafo...

Os Tindersticks, que já fizeram de Portugal a sua segunda casa, deram um concerto competente, sendo que, infelizmente, o som suave da banda de Stuart Staples foi vilipendiado pela conversa alheia (é esta a nova moda dos festivais deste ano? Seria preferível a do Éder a fodê-los). A música tem aqui um groove muito sedutor, e a voz de Staples continua a transbordar emoção por todas as notas - ele que, rodeado por piano, guitarra e o que mais viesse continua a revelar-se capaz de cativar a alma, apaixonar casais, apadrinhar futuros filhos. Não o poderia ser de outra forma. A dada altura, um misterioso ponto laranja começa a sobrevoar o recinto, conferindo ao espectáculo dos Tindersticks o grau de magia que faltava... Se é que faltava algum. Vitoriosos. Uma vez mais. Coube o destino que se lhes seguissem os Blasted Mechanism, banda onde o tribalismo, o rock e o drum n' bass caminham de mãos dadas, para levar à loucura uma boa dose de betalhada que devia ter voltado para o Sudoeste. E assim terminaram três dias no Mouraíso...
· 07 Set 2016 · 00:49 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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