Super Bock Super Rock 2016
Lisboa
14-16 Jul 2016
DIA 3 |
Dia Três
Num dia onde o hip-hop foi rei e senhor, pareceu quase um sacrilégio assistir à estreia dos FIDLAR em Portugal, eles que da nova leva de bandas que cruzam o sentimento garage com a fúria punk são uma das mais interessantes. Deveríamos ter abandonado o palco EDP para picar Mike El Nite, como o fizeram certos alverquenses, em vez de ter saído a correr da sala de imprensa mal escutamos o primeiro "oláááá..."? Nem por sombras. O quarteto deu um concerto frenético, iniciando com uma versão de "Sabotage", dos Beastie Boys, passando por "canções sobre beber cerveja" (um grande bem-haja) e terminando com o hino à decadência que é "Cocaine", já depois de terem dado uma perninha pelo hino americano. Só faltou "Bad Habits" para o festão ser completo. (PAC)
Os Orelha Negra começaram o concerto a tocar atrás de uma cortina semi-transparente. Só se viam vultos e sombras, ouvia-se a música, sabíamos que eles estavam lá, mas não estavam completamente visíveis. Ao fim de duas músicas a cortina cai. É nesse terceiro tema que o público se mostra mais expansivo, é nesse terceiro tema que se ouve um sample de "I Put a Spell On You" – o tema de Screamin’ Jay Hawkins, também popularizado por Nina Simone. Sabemos que eles nos querem enfeitiçar com aquela música narcótica, música instrumental de base e cadência hip-hop, que combina a raiz instrumental clássica numa mescla orgânica com samples. Entre os gira-discos de Sam The Kid e DJ Cruzfader e a base rítmica de Francisco Rebelo (baixo), João Gomes (teclados) e Fred (bateria), nasce uma música fluída, espécie de hip-hop instrumental dinâmico, onde há samples em diálogo directo com os bons velhos instrumentos clássicos. Ouve-se Otis Redding (já revisto por Kanye e Jay-Z), ouve-se Drake ("You Used To Call Me On My Cell Phone"), ouve-se Mind Da Gap (um excerto daquele clássico "Todos Gordos"). Público conquistado.
Entre o final de Orelha Negra e o início de De La Soul, há um breve intervalo, que resolvemos aproveitar para espreitar a actuação de Capicua. Quando chegámos ao palco EDP (o da pala), já o concerto está a chegar ao fim, mas ainda se ouve "Maria Capaz", hino feminista sem merdas. Nesse tema, ao lado de Capicua, além da companheira de sempre M7 (AKA Beatriz Gosta), estão várias outras vozes femininas. Segue-se "Liberdade", que inclui citação directa de Sérgio Godinho e lança um poderoso verso: é de fazer atirar as pedras da calçada (legitimando a acção violenta em manifestação). Depois começa por se ouvir o início do clássico "Rapper's Delight", dos Sugarhill Gang, em jeito de introdução à obrigatória "Vayorken", que no seu registo nostálgico/sentimental funcionou como despedida feliz. (NC)
À hora do início dos GNR, são poucos os que se aventuram até ao palco EDP, até porque à mesma hora se desenrolava o concerto - com 25 anos de atraso - dos De La Soul, na MEO Arena. Mas, pouco a pouco, o espaço foi ficando bem composto para receber de braços abertos Rui Reininho e seus comparsas, que mesmo com décadas de rock nas pernas continuam a saber fazer como se fossem putos. Rei Reininho, vai cantando o público. Só faltou mesmo a coroa na cabeça. Foi Psicopátria o mote do concerto, tocado de uma ponta à outra, oportunidade para ouvir a magnífica "Dá Fundo" ao vivo, pela primeira vez na vida, anos e anos após viagens de família com o vamos p'rá piscina a bater forte no rádio do carro. E foi bonito ver várias gerações a cantar "Efectivamente". Efectivamente, os GNR são grandiosos. (PAC)
Após a dica prévia dos Sugarhill Gang, seguiu-se no palco principal do festival outro grupo gigante da história do hip-hop, os grandiosos De La Soul. No palco Super Bock (ou seja, na MEO Arena) os três MCs (e um DJ) fizeram a festa e fizeram, literalmente, toda a gente levantar as mãos ao alto - obrigando toda a gente a levantar os braços, até os fotógrafos de serviço no fosso. O fundamental álbum 3 Feet High and Rising, de 1989, teria necessariamente de ser revisitado. Posdnuos, Maseo e Dave cumpriram as expectativas. Ouviu-se "Potholes in My Lawn", ouviu-se "Me Myself and I" (algo diferente do original). Evocaram o passado, fizeram a festa e terminaram com toda a gente a dançar.
Após essa viagem ao passado, seguiu-se uma viagem ao presente do hip-hop. Kendrick Lamar subiu ao palco do ex-Atlântico e desde a primeira hora se percebeu que era ele a maior figura de todo o cartaz do festival. No ecrã, projectada durante todo o concerto, estava uma citação de George Clinton: Look both ways before you cross my mind. Apoiado por uma banda tradicional (guitarra, baixo, teclados e bateria), Kendrick debitou as suas canções com mestria, perante um público que já estava quase todo conquistado à partida e que não hesitou em demonstrar a sua devoção.
Editado no ano passado, o disco To Pimp a Butterfly dominou o mundo; neste sábado, Kendrick Lamar conquistou o Super Bock Super Rock. Houve "Bitch Don’t Kill My Vibe", cantada em uníssono. Também "King Kunta", claro (no meio do público, alguém segurava um cartaz onde se lia "Compton"). A obrigatória "i" também não faltou. O público, em delírio, confirmou Kendrick como rei disto tudo. A festa fechou no encore com "Alright", we gonna be alright, we gonna be alright. Acabou tudo bem, claro. (NC)
Num dia onde o hip-hop foi rei e senhor, pareceu quase um sacrilégio assistir à estreia dos FIDLAR em Portugal, eles que da nova leva de bandas que cruzam o sentimento garage com a fúria punk são uma das mais interessantes. Deveríamos ter abandonado o palco EDP para picar Mike El Nite, como o fizeram certos alverquenses, em vez de ter saído a correr da sala de imprensa mal escutamos o primeiro "oláááá..."? Nem por sombras. O quarteto deu um concerto frenético, iniciando com uma versão de "Sabotage", dos Beastie Boys, passando por "canções sobre beber cerveja" (um grande bem-haja) e terminando com o hino à decadência que é "Cocaine", já depois de terem dado uma perninha pelo hino americano. Só faltou "Bad Habits" para o festão ser completo. (PAC)
Os Orelha Negra começaram o concerto a tocar atrás de uma cortina semi-transparente. Só se viam vultos e sombras, ouvia-se a música, sabíamos que eles estavam lá, mas não estavam completamente visíveis. Ao fim de duas músicas a cortina cai. É nesse terceiro tema que o público se mostra mais expansivo, é nesse terceiro tema que se ouve um sample de "I Put a Spell On You" – o tema de Screamin’ Jay Hawkins, também popularizado por Nina Simone. Sabemos que eles nos querem enfeitiçar com aquela música narcótica, música instrumental de base e cadência hip-hop, que combina a raiz instrumental clássica numa mescla orgânica com samples. Entre os gira-discos de Sam The Kid e DJ Cruzfader e a base rítmica de Francisco Rebelo (baixo), João Gomes (teclados) e Fred (bateria), nasce uma música fluída, espécie de hip-hop instrumental dinâmico, onde há samples em diálogo directo com os bons velhos instrumentos clássicos. Ouve-se Otis Redding (já revisto por Kanye e Jay-Z), ouve-se Drake ("You Used To Call Me On My Cell Phone"), ouve-se Mind Da Gap (um excerto daquele clássico "Todos Gordos"). Público conquistado.
Entre o final de Orelha Negra e o início de De La Soul, há um breve intervalo, que resolvemos aproveitar para espreitar a actuação de Capicua. Quando chegámos ao palco EDP (o da pala), já o concerto está a chegar ao fim, mas ainda se ouve "Maria Capaz", hino feminista sem merdas. Nesse tema, ao lado de Capicua, além da companheira de sempre M7 (AKA Beatriz Gosta), estão várias outras vozes femininas. Segue-se "Liberdade", que inclui citação directa de Sérgio Godinho e lança um poderoso verso: é de fazer atirar as pedras da calçada (legitimando a acção violenta em manifestação). Depois começa por se ouvir o início do clássico "Rapper's Delight", dos Sugarhill Gang, em jeito de introdução à obrigatória "Vayorken", que no seu registo nostálgico/sentimental funcionou como despedida feliz. (NC)
À hora do início dos GNR, são poucos os que se aventuram até ao palco EDP, até porque à mesma hora se desenrolava o concerto - com 25 anos de atraso - dos De La Soul, na MEO Arena. Mas, pouco a pouco, o espaço foi ficando bem composto para receber de braços abertos Rui Reininho e seus comparsas, que mesmo com décadas de rock nas pernas continuam a saber fazer como se fossem putos. Rei Reininho, vai cantando o público. Só faltou mesmo a coroa na cabeça. Foi Psicopátria o mote do concerto, tocado de uma ponta à outra, oportunidade para ouvir a magnífica "Dá Fundo" ao vivo, pela primeira vez na vida, anos e anos após viagens de família com o vamos p'rá piscina a bater forte no rádio do carro. E foi bonito ver várias gerações a cantar "Efectivamente". Efectivamente, os GNR são grandiosos. (PAC)
Após a dica prévia dos Sugarhill Gang, seguiu-se no palco principal do festival outro grupo gigante da história do hip-hop, os grandiosos De La Soul. No palco Super Bock (ou seja, na MEO Arena) os três MCs (e um DJ) fizeram a festa e fizeram, literalmente, toda a gente levantar as mãos ao alto - obrigando toda a gente a levantar os braços, até os fotógrafos de serviço no fosso. O fundamental álbum 3 Feet High and Rising, de 1989, teria necessariamente de ser revisitado. Posdnuos, Maseo e Dave cumpriram as expectativas. Ouviu-se "Potholes in My Lawn", ouviu-se "Me Myself and I" (algo diferente do original). Evocaram o passado, fizeram a festa e terminaram com toda a gente a dançar.
Após essa viagem ao passado, seguiu-se uma viagem ao presente do hip-hop. Kendrick Lamar subiu ao palco do ex-Atlântico e desde a primeira hora se percebeu que era ele a maior figura de todo o cartaz do festival. No ecrã, projectada durante todo o concerto, estava uma citação de George Clinton: Look both ways before you cross my mind. Apoiado por uma banda tradicional (guitarra, baixo, teclados e bateria), Kendrick debitou as suas canções com mestria, perante um público que já estava quase todo conquistado à partida e que não hesitou em demonstrar a sua devoção.
Editado no ano passado, o disco To Pimp a Butterfly dominou o mundo; neste sábado, Kendrick Lamar conquistou o Super Bock Super Rock. Houve "Bitch Don’t Kill My Vibe", cantada em uníssono. Também "King Kunta", claro (no meio do público, alguém segurava um cartaz onde se lia "Compton"). A obrigatória "i" também não faltou. O público, em delírio, confirmou Kendrick como rei disto tudo. A festa fechou no encore com "Alright", we gonna be alright, we gonna be alright. Acabou tudo bem, claro. (NC)
· 20 Jul 2016 · 23:38 ·
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