NOS Alive 2015
Oeiras
9-11 Jul 2015
Dia Um

Cá estamos. O NOS Alive regressou, oferecendo um cartaz para todos os gostos, dos mais mainstream aos mais alternativos. Claro que são os Muse os grandes vencedores do certame: foi por eles que houve gente acampada à porta na véspera do seu concerto, e foi por eles que muita desta canalha correu em direcção às grades do palco principal, para testemunhar de perto toda e qualquer palavra saída da boca de Matt Bellamy. Quanto a nós, andamos por aqui e por ali, feitos saltimbancos, procurando no riff ou na drum machine um sinal de vida. Como temos feito ao longo dos últimos quatro anos, como outros têm feito desde a primeira edição. Que bom é voltar a Algés.

Coube aos Galgo abrir a tarde, riffs correndo pelo palco Heineken adentro, desembocando num rock instrumental não muito diferente daquele delineado pelos Quelle Dead Gazelle: chamem-lhe math, prog ou outra coisa; é irrelevante, no fim das contas. Os Galgo são melódicos, bojudos, fazem dançar e cantar - sim, que há malta que já sabe de cor as letras. Opinião pessoal: os Galgo soariam muito melhor sem letras e sem voz. À parte isso, e virtude de se terem apresentado com um som no volume adequado (ler: alto), os Galgo abriram da melhor maneira o NOS Alive, com guitarras que ora por ora roçavam o shoegaze e uma atitude que demonstrou que não estavam ali por acaso, prova de que a música portuguesa nunca esteve tão interessante. (PAC)

Quanto ao palco principal, calhou aos The Wombats a honra de dar as boas-vindas à massa humana que ali se encontrava. Em frente a um mar de gente munido de chapéus brancos gentilmente cedidos pelo naming sponsor do festival, os britânicos fizeram aquilo que se esperava deles: espalhar o seu indie rock e post-punk revival com cheiro ao boom dos anos 00, com a marca indelével de quem segue a cartilha Razorlight/The Libertines sem dó nem piedade. É certo que já aqui chegam com dez anos de atraso, e que, muito provavelmente, só cá estão porque apelam aos "bifes" (parece que, mesmo uma década depois, o público britânico ainda morre de amores por isto), mas há que confessar: este som, que pôs os indie kids a dançar na altura em que (res)surgiu, ainda (n)os põe a saltar nos dias de hoje. Não acreditam? Então ponham a tocar "Let's Dance to Joy Division" e vejam lá se não meneiam a anca. (JM)

Passamos para o palco secundário, essa pérola semi-escondida que, ano após ano, faz do Alive O festival de referência da área metropolitana de Lisboa. Aqui, tal como em 2013 no Mexefest, os Young Fathers fizeram questão de justificar a existência da expressão "a melhor banda do mundo neste momento". A tarefa hercúlea de levantar do chão os rabos dos presentes que esperavam, quiçá, Metronomy/Django Django/Flume (riscar o que não interessa), foi superada mal soaram os primeiros sons de alarme de "No Way", canção de abertura de Dead (2014). Passada com distinção a prova, foi só fazer render o peixe dos dois primeiros EPs (Tape One e Tape Two) e do já referido LP de estreia e de White Men Are Black Men Too. Estes meninos, cujo hip-hop se entranha nos nossos ossos e nos impele a dançar como se estivéssemos a ter um ataque epiléptico, provaram que são, como sempre foram, uns animais de palco de mão cheia. Se ao fim do set, que ainda assim soube a pouco, não ficaram com uma certa dormência pós-coital nos ouvidos, é porque não estiveram lá. (JM)

Quanto a Metronomy, há que dar razão a todos aqueles que disseram ser má ideia a escolha de palco e/ou de horário para o concerto da banda, pois se é verdade que a trupe de Joseph Mount já se tornou paixoneta nacional, via The English Riviera (2011) e Love Letters (2014), também o é que, tendo de escolher entre ficar até ao final e ver Alt-J e apanhar um bom lugar para ver Muse, o público português vai, quase invariavelmente, pender para o segundo. Foi, assim, um triste (mas expectável) êxodo de gente a que assistimos à medida que se aproximavam as 22h25, que transformou um palco Heineken completamente a abarrotar numa plateia cheia de clareiras. Ainda assim, ficam registados momentos memoráveis: “The Look” cantada e trauteada em uníssono de forma quase litúrgica, “Love Letters” a induzir um transe colectivo de carácter espiritual, a sempiterna “The Bay” a varrer tudo com aquela linha de baixo filha da mãe e “You Could Easily Have Me”, directamente do baú de Pip Paine (Pay Back The £5000 You Owe) (2006), a encerrar tudo em desvario electropunk para gáudio dos que se mantiveram fiéis. Para a próxima, palco principal com eles. (JM)

Há um problema grave com os Alt-J: não conseguirem, nunca, concretizar ao vivo a qualidade das canções que apresentam em disco - não o fizeram no Milhões, não o fizeram neste mesmo NOS Alive há uns anos, não o fazem hoje. Os seus concertos são, infelizmente, de um aborrecimento crónico, ainda que tentem ao máximo replicar a harmonia de canções como "Hunger Of The Pine" (com a voz samplada de Miley Cyrus a ajudar), "Fitzpleasure" e "Matilda". Ainda assim, é vasto o público que acorre ao palco principal para mais uma vez os ver, sinal de que o hype que os rodeia desde o primeiro dia ainda levará algum tempo para desaparecer. Fiquemos só com os discos, ainda que o final com "Breezeblocks" tenha empolgado os corações. (PAC)

É difícil não sentir um certo apreço pelos Muse, especialmente quando percorrem a fase da sua carreira que realmente interessa - falamos de coisas como "Supermassive Black Hole", "Plug In Baby", "Apocalypse Please" ou "Time Is Running Out". Fora disso, a patetice «queremos ser os Queen mas falta-nos o talento» revela-se demasiado irritante para que, em pleno 2015, ainda os queiramos levar a sério, sendo que todos os clichés políticos - melhor deixados a bandas como os Crass ou os Aus-Rotten - não ajudam. Digamos deles que foram, sobretudo, profissionais: vieram para apresentar disco novo e para dar um bom espectáculo. Conseguiram-no. Faltou foi a música. (PAC)

Dizem que gostar daquilo que se faz é meio caminho andado para fazê-lo bem, e os Django Django parecem adorar pôr-nos a saltar e a dançar freneticamente sem saber o que fazer com os braços. E com “Introduction” e “Hail Bop” a abrir e a darem o mote ao concerto, estava a ver que não ia ser difícil repetir a façanha de há dois anos de contagiar todo um palco Heineken com a magia da pop psicadélica e esquizóide dos britânicos. Num alinhamento onde, para bem de todos, reinou a leitura correcta dos Django Django do público (do segundo álbum, menos dançável, só tivemos um par de canções), “Waveforms”, “Default” e “Silver Rays” fizeram-nos voar até um mundo onde as areias do deserto e as bandas-sonoras dos videojogos de arcada convivem alegremente. (JM)

Os Nice Weather For Ducks fecharam o coreto com um concerto curto mas bom, pop psicadélica de lavar a alma que fez as delícias dos muitos (e eram-no) que ali se deslocaram após o concerto dos Django Django e que não quiseram ir para casa descansar. É difícil escrever sobre quatro canções apenas, mais ainda considerando o cansaço com que estamos, mas fica a ressalva de terem sido das poucas boas coisas que se ouviram neste primeiro dia. E ainda tiveram direito a invasão de palco. (PAC)

De Flume, não há nada a dizer que não tenha já sido dito. “Competente”, “exímio agitador de corpos”, “um dos nomes mais interessantes da electronica experimental da actualidade”; todos estes chavões fazem tanto sentido hoje quanto há dois anos atrás. E não deixa de ser surpreendente como é que canções como “Holdin’ On”, “Sleepless” “On Top” soam tão frescas agora, quase três anos volvidos do lançamento de Flume (2012). Só foi pena já não termos tido pernas para partir a “pista” do palco secundário; se dependesse da nossa vontade, não tinha ficado pedra sobre pedra. (JM)
· 13 Jul 2015 · 15:05 ·

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