NOS Alive 2015
Oeiras
9-11 Jul 2015
Dia Dois

Quis o segundo dia que fossemos abalroados pela chapada rock dos Marmozets, banda muito acarinhada pelos óptimos Royal Blood e que vieram a Portugal apresentar-se ao povo. Com The Weird And Wonderful Marmozets, álbum de estreia editado em 2014, na bagagem, o quinteto britânico deu um concerto competente, colocando inúmeros a suar e outros tantos com vontade de descobrir melhor o que se esconde por detrás da mente de Becca Macintyre, frontwoman como poucas. Apesar de soarem a não mais que uns Blood Brothers com carapaça feminina, o som dos Marmozets é ideal para limpar a cera dos ouvidos, que o pó no recinto não ajuda e as más escolhas musicais de início de tarde também não. E ainda houve "Iron Man", dos Sabbath... (PAC)

De Bleachers, confessamos, não tínhamos grandes expectativas; afinal de contas, os fun., projecto principal de Jack Antonoff, nunca nos inspiraram grande excitação e as idiossincrasias tipicamente americanas presentes no som do grupo não nos pareciam suficientemente apeladoras para competir com a sagrada hora da janta. Ainda assim, há que admitir: estes meninos sabem dar um bom concerto. Desde a entrada em palco, ao som de "Tomorrow" (da banda sonora de Annie), até ao cair do pano, com esse verdadeiro hino-de-auto-ajuda-tornado-canção-pop-maior-que-a-vida que é "I Wanna Get Better", o público presente no palco secundário entregou-se de corpo e alma às canções e aos clichés que Antonoff e companhia debitaram naquele fim de tarde. Sim, é tudo um grande pastiche de The Killers e daqui a uma semana já nem nos deveremos lembrar de que os vimos ao vivo, mas qualquer concerto que meta uma boa versão de "Go Your Own Way" dos Fleetwood Mac merece, aos nossos olhos, uma menção honrosa. (JM)

Quanto a Capicua, já começa a fartar um pouco o extremar de posições em relação à rapper nortenha, tanto do lado dos que a acham "horrível" como dos que não têm pejo de a considerar "genial", até porque nenhum dos dois está certo. Espelho disso mesmo foi o concerto no Clubbing: competente e agradável q.b., com uma boa prestação de M7 (mais conhecida nos dias que correm pela personagem que interpreta no YouTube) enquanto MC convidada e uma interessante escolha de cenário, com ilustrações in loco a adornarem visualmente as canções, mas perfeitamente inócuo e sem momentos dignos de ficar na memória colectiva. Enfim, há maneiras piores de passar uma hora, e nenhuma delas conta com uma aparição de Valete e uma medley de "Vayorken" a meter "Rapper’s Delight" e "The Message" ao barulho, por isso até que nem nos podemos queixar. (JM)

Com tempo para queimar, vemo-nos no Coreto perante uns Los Waves a dar um concerto capaz de nos restaurar a fé no rock e nas suas propriedades salvíficas. Não porque tenha sido algo transcendente (não foi) ou porque os Los Waves sejam uma banda espectacular (também não o são), mas porque, contra todas as expectativas, encontrámos em frente a este pequeno palco um considerável magote de pessoas dispostas a abanar-se entusiasticamente ao som desta coisa já idosa e caquéctica feita com guitarras que outrora foi vista como a música da juventude e da rebeldia. Se todos os concertos tivessem epifanias destas (e pessoas a cantar em uníssono hits tão frescos como "Strange Kind Of Love"), o mundo seria um lugar bem melhor. (JM)

This is what you want... this is what you get! A frase com que os Ting Tings se apresentam em palco não poderia fazer mais sentido: o público quer dance-punk circa 2007, foi isso que o público obteve, num concerto que, ainda que demasiado anacrónico para os nossos gostos de hoje, não foi senão divertido. Katie White continua a espalhar charme e energia pelo palco, ajudada pela bateria de Jules de Martino e por samples diversos (chegou a ouvir-se Talking Heads, antes de uma incursão estranha pelo exagero EDM). Não faltaram, claro, êxitos como "Shut Up And Let Me Go" e "That's Not My Name". Se ao início se estranhou a escolha, depressa nos entranhámos no festão. (PAC)

Pedro Coquenão, aliás Batida, é bem capaz de ser o homem mais corajoso de todo o NOS Alive - e, sem sombra de dúvida, terá dado um dos melhores espectáculos desta edição, no mínimo dos mínimos durante a primeira hora. Reparem: dez minutos a trollar a audiência com frases feitas sobre "como levar o público de um festival ao rubro", questões prementes sobre o que é ser luso-angolano, agradecimentos à Amnistia Internacional e ainda dedicatórias ao amigo Inonoclasta e a José Eduardo dos Santos, cujas fotos pairaram pelo palco - uma, evidentemente, em jeito de homenagem, a outra em jeito de crítica. Pedro Coquenão não teve medo de alienar uma audiência que, claramente, só vem a este género de eventos para usar e abusar do poder da selfie, novos yuppies cujo conhecimento da política se restringe a saber que a diferença entre PS e PSD é apenas de uma letra. Nem sequer o teve de colocar o público estrangeiro aqui presente a indagar-se sobre aquilo que estariam a ver. Filmes antigos, singles de vinil tocados em palco, e a indispensável "Bazuca" num show que teve tanto de electrizante - no sentido revolucionário da palavra - como de dançante. Acaso tivesse dedicado a sua hora e pouco de espectáculo a falar, simplesmente, sobre os problemas que assolam Angola e o mundo em geral, teria concretizado um enorme pedaço de história. Como também houve música, foi só o melhor concerto que veremos em muito tempo. Eu senti a mudança e a mudança tem uma Batida. (PAC)

"Entrega", "intensidade" e "paixão genuína" são tudo expressões que servem para descrever na perfeição a presença de Samuel Herring em palco, e seria injusto falar do concerto dos Future Islands no palco secundário do NOS Alive sem as referir. Já sobre o espectáculo propriamente dito, não há muito que possamos dizer; sim, encheram a plateia, sim, as peças de Singles (2014) estavam na ponta da língua, e sim, o grupo consegue cumprir os requisitos mínimos. No entanto, não há como negar a sensação de mesmice que o alinhamento dos norte-americanos nos deu, como se estivéssemos a assistir a ligeiras variações da mesma canção. A verdade é que os Future Islands tocam muito bem essa canção, mas confessamos que ao fim de uma dezena de vezes a pachorra esgota-se. (JM)

Os Prodigy já não moram em 1997, apesar de por vezes o parecer - o big beat nunca foi o colosso que dele quiseram fazer e mesmo os grandes sucessos de outrora como "Firestarter", uma das primeiras que mostraram neste concerto no NOS Alive, não conseguem soar mais do que datadas. Mesmo assim, o povo acorre em massa, munido de tochas de amor encarnado (que serve tanto para a cor das mesmas como para a cor clubística dos seus utilizadores) e muita força nas canelas para pular. Nós, perdoem-nos, é que já não aguentamos, nem nunca aguentámos. (PAC)

James Blake tem uma relação de amor com o público português, que é retribuída da melhor forma; com uma tenda Heineken completamente cheia para, mais uma vez, o ver e ouvir de perto. Fica a pergunta: como é que um artista que traz tanto público atrás de si não obtém uma oportunidade para tocar no palco principal? À parte isso, o britânico assinou um concerto em modo best of como, aliás, já havia feito em Paredes de Coura, com "CMYK", "I Never Learnt To Share" e "Limit To Your Love", esta tendo de ser repetida por força de um erro, logo a abrir. O problema com Blake é que os seus últimos espectáculos não parecem nunca sair da cepa torta; ele promete algo "diferente", acaba tudo por soar ao mesmo. (PAC)

Quem viu Roísín Murphy nos Moloko e quem a vê hoje em dia. A artista sobe ao palco em modo bossa nova, novamente loira ao invés de ruiva (uma pena), e com menos electrónica nas veias do que anteriormente. "Family Feeling" ainda faz despertar alguma nostalgia logo a abrir, mas o restante do concerto é um desfilar de temas entre a ideia de pop e big band jazz que não aquecem nem arrefecem e que nos chegam a deixar deprimidos sempre que picamos, no Youtube, o vídeo da fantástica prestação de "Sing It Back" no Pinkpop 2004. Nem a mudança constante de pele e roupa nos permitem um pouco que seja de êxtase. Que saudades, Roísín. Que saudades. (PAC)
· 13 Jul 2015 · 15:05 ·

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