NOS Alive 2015
Oeiras
9-11 Jul 2015
Dia Três

Começamos o terceiro e último dia do certame em frente ao palco Heineken, onde um portátil cheio de autocolantes dignos da porta de um quarto de um qualquer adolescente revoltado (passe a redundância) e um microfone esperam a chegada dos Sleaford Mods. A dupla, anunciada como um dos mais interessantes nomes da música britânica, sobe ao palco meio aluada e num início a meio gás que, somos sinceros, por momentos nos faz duvidar com que aqui chegam e da honestidade da bílis que enche Austerity Dogs (2013), Divide and Exit (2014), Key Markets (2015) e restante catálogo da dupla.

Felizmente, no meio de tanta palhaçada, acabou por haver bom senso na cabeça de Jason Williamson e Andrew Fearn, que puseram as canções mais rápidas e bass-heavy a render e convenceram a plateia, inicialmente morna e meio atarantada com o espectáculo, a levantar-se e a saltar ao som de "Jolly Fucker", "A Little Ditty" e "Tied Up In Nottz". Ainda assim, desconfiamos que ainda não foi desta que os Sleaford Mods conquistaram o coração do público nacional, demasiado ocupado a rir-se dos tiques de Williamson e da simplicidade do press play de Fearn para absorver a crítica, carregada de peculiaridades tipicamente britânicas, à estagnação da política tradicional e à brutalidade do capitalismo financeiro. Talvez noutra altura e noutro contexto a coisa cole. (JM)

Faz sentido que os PISTA, expoente máximo do pedalcore nacional, actuem na "prova rainha" dos festivais lisboetas por alturas do Tour De France. Afinal de contas, o termo até foi cunhado por eles, e desde que os ouvimos pela primeira vez que não conseguimos deixar de associar as arrancadas de guitarra e as cavalgadas de bateria da banda às fugas do pelotão das provas de ciclismo. E se medos haviam de que a adição de mais um guitarrista à fórmula do grupo, consumada há uns meses, tivesse o nefasto efeito de polir a aspereza que os PISTA tinham enquanto binómio guitarra/bateria, a actuação no Coreto fez questão de provar exactamente o contrário. Mais dançáveis, mais floreados e mais tropicais, mas sem comprometer nem um bocadinho da energia do primeiro EP, os PISTA provaram, em poucos minutos, o porquê de serem autênticos camisolas amarelas do rock. PUXA! (JM)

É chato que a sonoridade dos Dead Combo se perca num ambiente como este. A música do duo é feita para respirar fundo e escutar em silêncio; nada disso acontece quando o parceiro do lado acha mais interessante discutir o número de cervejas que já consumiu durante a tarde ou as notas finais de acesso à universidade. Claro que a culpa não é de Tó Trips nem de Pedro Gonçalves, que num ambiente adverso à imaginação fazem o que podem para construir o seu western pessoal. O público é que não está para aí virado. Uma pena. (PAC)

É talvez sintomático que o Coreto tenha sido palco para alguns dos melhores concertos deste NOS Alive, na grande maioria das vezes fruto e obra de bandas com selo nacional. Há que questionar, sobretudo, a insistência em colocar projectos cujo prazo de validade há muito que expirou no palco principal (como os Blasted: estamos em 2015, foda-se), e o enchimento absurdo do cartaz com bandas vencedoras de concursos parolos que mais não fazem que mostrar o rockzinho circa 1997 cantado em português que ainda não parece ter evoluído desde então - como os cérebros dos seus praticantes. Uma ideia: que tal começar a passar todos estes grandes talentos (Nice Weather For Ducks, PISTA, Cave Story et al) para os palcos que eles merecem e meter o caruncho no Coreto? Quanto aos caldenses, deram "apenas" um concerto fantástico, de volume no máximo e riffs a correr a história do punk, desde os desvios de Jonathan Richman até aos barcelenses Glockenwise, de quem são discípulos nesta nobre arte do rock sem merdas. Houve gente a dançar, crowdsurf autista e uma enorme vontade de, pós-concerto, querer partir tudo. Que é o que o bom rock faz. Vemo-nos outra vez no Milhões. (PAC)

Aqueles que esperavam dos Mogwai um concerto completamente diferente daquele que os escoceses deram no Primavera Sound do ano passado certamente terão saído do palco secundário com um sabor amargo na boca, mas a verdade é que até teria sido burrice por parte de Stuart Braithwaite e companhia mudar uma fórmula que, efectivamente, funciona. "White Noise" a abrir, "I’m Jim Morrisson, I’m Dead", "Rano Pano", "Mexican Grand Prix" e "Mogwai Fear Satan" lá pelo meio para rebentar com os tímpanos e puxar ao arrepio na espinha e "Batcat" a terminar (aqui com um início meio enguiçado, a obrigar a repetição), tudo isto com o volume no 11 e a convidar à hipnose colectiva; que mais poderíamos nós pedir? (JM)

Eram o único ponto de interesse nesta edição do NOS Alive e não desiludiram. Falamos dos Jesus & Mary Chain, de regresso a Portugal para tocar, na íntegra, o maravilhoso Psychocandy, álbum de nos deixar a cabeça à roda sempre que o escutamos - assim tem sido desde que o descobrimos, assim é quando o rodamos no iPhone ou mp3, ele que é um disco que merece ser escutado de uma ponta à outra sem pausas ou saltos. Antes do concerto, o nosso medo era que o volume não fosse o mais adequado para os receber; por outras palavras, queríamos ouvir o paraíso em tons de feedback, e isso, lamentavelmente, não foi possível, algo estranho quando vimos, ao longo do festival, que este mesmo palco Heineken havia sido generosamente presenteado com maciças quantidades de volume. Não que tenha estado baixo; apenas não esteve suficientemente alto. E se o volume não tornou a experiência absolutamente perfeita, a praga dos vídeos e fotografias constantes, que já chegou à faixa etária que ouviu os Mary Chain em 1985, também não. Mas pouco importou. Os irmãos Reid estiveram a escassos metros de nós, deram uma lição rock e permitiram-nos ouvir, ao vivo e sob fumo, pérolas brilhantes como "The Hardest Walk", "Taste Of Cindy" e "My Little Underground". E, após Psychocandy, ainda houve "Head On", "Some Candy Talking" e uma "Reverence" a fazer-nos desejar morrer como Cristo na cruz. Agora que apanhámos os JaMC em condições (vinte vezes melhores que no Super Bock Super Rock de 2007) já o podemos fazer. (PAC)

Algo mudou na vida de Azealia Banks entre a desastrosa actuação no Super Bock Super Bock em 2013 e esta sua vinda ao NOS Alive: lançou, em 2014, Broke With Expensive Taste e aprendeu, ao que parece, a dar concertos memoráveis. Com uma tenda a abarrotar e uma prestação física e suada a condizer, canções como "Yung Rapunxel", "Heavy Metal And Reflective", "Liquorice" e "Ice Princess" alastraram como fogo pela plateia e provaram que esta menina justifica todo o hype que teve nos últimos anos. E se é verdade que ficou aquém da perfeição (faltou, por exemplo, "Chasing Time"), também o é que ficou, sem dúvida nenhuma, muito acima das nossas melhores expectativas. E não somos só nós que o dizemos; perguntem lá a qualquer uma das milhentas pessoas que se abanaram ao som de "212" se não viram aqui uma potencial sucessora do trono de Missy Elliott, e vejam lá o que vos dizem. (JM)

Já a noite ia alta e os tímpanos sossegavam após toda a emoção Mary Chain quando os Disclosure sobem ao palco principal para uma verdadeira lição house. É impossível ficar indiferente às canções do duo e não ceder ao abanico das pernas, por mais que estas nos doam; a regra de ouro é pular, e pular é o que se faz. É um pouco como isto: quando um fogo começa a arder, há que correr para não ser apanhado. Depois disto, o Alive encerraria com Chromeo, mas uma bebedeira chata apoderou-se das nossas faculdades mentais e houve que ajavardar um pouco com a organização. Se para o ano o Pedro Primo Figueiredo vier ao Alive a culpa será nossa. (PAC)
· 13 Jul 2015 · 15:05 ·

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