Milhões de Festa 2013
Barcelos
24-28 Jul 2013
Dia Três

Levanta-se o dia ao som de algo que nunca se havia visto em Barcelos por alturas do Milhões de Festa: a chuva. Festival abençoado? Nada disso; não só arruinou algumas tendas no campismo como fez o mesmo com a piscina e o Palco Taina, levando ao adiamento dos concertos, como levou a que outros abandonassem de vez o festival. São Pedro não foi nosso amigo. Findos os eventos da Red Bull City Gang (incluindo um óptimo concerto dos Solar Corona, à porta do Xano) o último dia prossegue com as actuações de Dirty Beaches, Orange Goblin e Mykki Blanco, para mencionar aquilo que me dá mais vontade de ver hoje.

Alex Hungtai mexe-se que nem um doido, rouba a voz e os gritos a Alan Vega e oferece ao Milhões um grande concerto que, apesar de curto, não terá defraudado quaisquer expectativas após alguma má experiência em 2011. O mote era a apresentação de Drifters/Love Is The Devil, enorme disco editado este ano, e foi a partir do mesmo que o homem nascido em Taiwan construiu o seu set, não havendo espaço para qualquer canção de Badlands, o álbum com o qual se tinha dado a conhecer. Durante cerca de cinquenta minutos (curtíssimo...) Alex espantou espíritos, criou outros, colocou gente a abanar o corpo em sintonia com o ritmo quase catártico das suas canções e tocou, claro, "Casino Lisboa", porque estamos em Portugal e seria uma pena que não o fizesse. Uma das melhores actuações, sem sombra de dúvida.

Durante o fim-de-semana fui exposto a variados tipos de metal, mas o melhor há de ser aquele tocado pelos Orange Goblin: rápido, agressivo, sujo, feio, porco e mau. Como o metal deve ser, portanto. Os ingleses vieram por Eulogy For The Damned, álbum de 2012, e deram ao público um longo concerto repleto de belhas malhas onde o headbanging e o crowdsurf não faltaram. Uma valente sessão de pancadaria ríffica onde não sobraram elogios para Portugal e para o público (os da praxe), piadas variadas sobre o género (pelos trolls) e uma parabenização muito especial, longe do concerto, ao editor desta webzine (que não foi sequer capaz de se redimir do erro crasso que cometeu e pagar-me um fino. Vai-te foder, velho). Hão-de ter agradado aos fãs e feito muitos outros.

Depois dos Zombie Zombie colocarem toda a gente a abanar a anca ao ritmo motorik (melhor banda do mundo, segundo um certo gatinho e tesudo das webzines, distribuição e promoção) foi a vez de Jibóia fechar o palco principal em formato banda, num festão máximo com direito a fofoca digna do #BodyspaceVidas, um comboinho que desaguou no maior falhanço possível e o kebabrock na sua máxima força. Num ensemble que contou com a presença de diversos membros da família Coronado e de dois emplastros, Jibóia constituiu uma certeza: o potencial disto é enorme. De seguida Mykki Blanco actuaria no secundário para um mini-Trumps na fila da frente e o relógio daria as suas últimas: era tempo de regressar a casa.

Se se viram bons concertos? Certamente. Se se conviveu com amigos que não se vêem tão ocasionalmente quanto o desejado? Sim, claro. E, no entanto, sobre o Milhões de Festa deste ano pairava uma nuvem negra que não as de chuva; não sei explicar, mas houve quem me dissesse o mesmo, por isso escrevo este último parágrafo sem medo de me sentir sozinho. Depois de ter abandonado o recinto às sete da manhã do ano passado a entoar João Gilberto, saí de Mykki Blanco pouco passava das três - e, parecendo que não, faz toda a diferença. Mesmo com uma óptima organização, gente bonita e alegre pelos cantos e happenings em cada esquina, o Milhões 2013, estranhamente, não se sentiu como uma data e um local de peregrinação. Foi apenas mais um festival de música. E isso não me interessa para absolutamente nada. Mas há-de ser problema meu e de todos quanto o sentiram, contudo. Até para o ano.
· 27 Jul 2013 · 00:23 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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