Festival EDP Paredes de Coura
Paredes de Coura
13-17 Ago 2012
DIA 4 |
Com a sol já a brilhar sem impedimentos em Paredes de Coura, foi uma encosta meio despida aquela que recebeu a vinda dos Gang Gang Dance, banda de abertura do palco principal deste dia. E, diga-se de passagem, a banda de Lizzy Bougatsos (voz) e Brian DeGraw (teclas) apenas a espaços esteve à altura do serviço que se pretende a uma banda nesta posição do cartaz. Se em disco as partes mais diáfanas da música dos GGD são recebidas com o prazer de quem sabe que a "recompensa" chegará em breve, para além de terem igualmente uma beleza prismática, em palco prolongaram-se por demais, arriscando a acusação de auto-indulgência. Bougatsos, dona de uma voz que atravessa o éter como um raio laser em tons agudos, alterna entre os momentos cantados, e o bater em diverso material percutivo que tinha à sua disposição, desde bongos a espanta-espíritos. Mas a "estrela" do espectáculo acaba por ser Brian DeGraw, que das suas teclas, caixas de efeitos e samples tira sons lúdicos e psicadélicos que se enroscam em volta dos colegas de banda. Com muita percussão à la No-Neck Blues Band, melodias tiradas às regiões mediterrânicas, e um quê de Animal Collective, muito mais seria de esperar dos GGD. Há locais onde as divagações fariam mais sentido.
Não terá surpreendido ninguém quer o cigarro ao canto da boca, quer os goles da lata de Super Bock, sem falar no cálice de vinho, que John McCauley mostrou perante todos durante o concerto dos seus Deer Tick. A primeira coisa que chama a atenção é como o look estrela-de-rock de McCauley contrasta com o ar demasiado-betinho-para-os-Vampire-Weekend do baixista Christopher Dale Ryan. Primeira coisa em termos visuais, claro. Pois musicalmente o que chama a atenção é o cocktail preparado e apresentado com convicção, de southern-rock, country-rock e roots-rock. Não há nada que se pareça com "indie" por estas paragens. Os Deer Tick querem rockar, e assim fizeram durante todo o concerto. Estão aqui todas as condicionantes para se dar um óptimo espectáculo. Só que há um problema não negligenciável. Os Deer Tick, onde as vozes da McCauley e Ian O'Neil trazem à memória o romantismo desesperado de Hamilton "The Walkmen" Leithauser (tirando o romance), não têm a mesma capacidade de prender a atenção durante as músicas mais lentas. E aí, o lado derivativo da banda sobressai, ao contrário, por exemplo, de uns Titus Andronicus. Foi um bom e empenhado concerto. Só a música é que ainda precisa de se emancipar.
Anna Calvi começou o espectáculo atrasada, o que me teria dado oportunidade de ver até ao fim os School Of Seven Bells. Portanto, estava à partida com uma atitude de "Vá lá, compensa-me!" Resultado? Um sucesso moderado. Calvi tem óptimas canções em disco. O seu álbum de estreia é um trabalho excelente. Só que ao vivo é difícil, nas partes mais calmas, sentir a mesma tensão e coração apertado que se consegue em disco. O som não está particularmente poderoso, e, sem as power-chords que tanto são do seu agrado, a música soa mais anémica do que se recomenda num palco de festival. Tudo muda, felizmente, quando a guitarra sobe de tom, a bateria lança-se ao ataque, e Calvi canta com novo empenho na voz. Talvez até sinta mais conforto nas covers. Tocou três, e todas excelentes: Elvis Presley ("Surrender"), TV On The Radio ("Wolf Like Me") e Edith Piaf ("Jezebel"). Mostrou-se mais solta, mais empenhada, mais adequada a encher o espectro sonoro da encosta de Paredes de Coura. O final, com uma óptima versão de "Love Won't Be Leaving", também merece destaque, por ter trazido a carnalidade que faltou noutras músicas. Esperemos que Anna Calvi volte, mas agora com novo material e novas energias.
A vida dos Kasabian tem sido uma sucessão de etapas para chegar a alturas como esta. Se é verdade que conquistaram algum público desde o primeiro disco, não o é menos que têm subido nos cartazes de festival, e nos recintos em que tocam. Tudo graças a uma atitude de estrela rock, que se tornou uma profecia auto-realizada, da parte de Tom Meighan (voz) e Serge Pizzorno (guitarra). A linhagem é óbvia, e toda a gente sabe qual é. Ian Brown + Liam Gallagher. O que distingue os Kasabian do restante britrock populista será a participação notória da electrónica e dos teclados, os quais, junto com a secção rítmica, aumentam forte e feio o rácio de groove de várias das músicas da banda de Leicester. Tendo perante si a maior enchente até agora, os Kasabian proporcionaram uma festa de saltos, danças, coros, e muito, muito crowd-surfing. Os singles aparecem todos. "Shoot The Runner", "Velociraptor", "Empire", a muitíssimo participada "L.S.F.", e um encore que contou com uma "Vlad The Impaler" altamente agressiva e a pôr toda a gente eufórica. "I'm On Fire" foi a escolha óbvia para encerrar um concerto que deixa antever que, enquanto souberem escrever refrões para cantar e dançar assim, os Kasabian continuarão a andar por palcos destes.
Não terá surpreendido ninguém quer o cigarro ao canto da boca, quer os goles da lata de Super Bock, sem falar no cálice de vinho, que John McCauley mostrou perante todos durante o concerto dos seus Deer Tick. A primeira coisa que chama a atenção é como o look estrela-de-rock de McCauley contrasta com o ar demasiado-betinho-para-os-Vampire-Weekend do baixista Christopher Dale Ryan. Primeira coisa em termos visuais, claro. Pois musicalmente o que chama a atenção é o cocktail preparado e apresentado com convicção, de southern-rock, country-rock e roots-rock. Não há nada que se pareça com "indie" por estas paragens. Os Deer Tick querem rockar, e assim fizeram durante todo o concerto. Estão aqui todas as condicionantes para se dar um óptimo espectáculo. Só que há um problema não negligenciável. Os Deer Tick, onde as vozes da McCauley e Ian O'Neil trazem à memória o romantismo desesperado de Hamilton "The Walkmen" Leithauser (tirando o romance), não têm a mesma capacidade de prender a atenção durante as músicas mais lentas. E aí, o lado derivativo da banda sobressai, ao contrário, por exemplo, de uns Titus Andronicus. Foi um bom e empenhado concerto. Só a música é que ainda precisa de se emancipar.
Anna Calvi começou o espectáculo atrasada, o que me teria dado oportunidade de ver até ao fim os School Of Seven Bells. Portanto, estava à partida com uma atitude de "Vá lá, compensa-me!" Resultado? Um sucesso moderado. Calvi tem óptimas canções em disco. O seu álbum de estreia é um trabalho excelente. Só que ao vivo é difícil, nas partes mais calmas, sentir a mesma tensão e coração apertado que se consegue em disco. O som não está particularmente poderoso, e, sem as power-chords que tanto são do seu agrado, a música soa mais anémica do que se recomenda num palco de festival. Tudo muda, felizmente, quando a guitarra sobe de tom, a bateria lança-se ao ataque, e Calvi canta com novo empenho na voz. Talvez até sinta mais conforto nas covers. Tocou três, e todas excelentes: Elvis Presley ("Surrender"), TV On The Radio ("Wolf Like Me") e Edith Piaf ("Jezebel"). Mostrou-se mais solta, mais empenhada, mais adequada a encher o espectro sonoro da encosta de Paredes de Coura. O final, com uma óptima versão de "Love Won't Be Leaving", também merece destaque, por ter trazido a carnalidade que faltou noutras músicas. Esperemos que Anna Calvi volte, mas agora com novo material e novas energias.
A vida dos Kasabian tem sido uma sucessão de etapas para chegar a alturas como esta. Se é verdade que conquistaram algum público desde o primeiro disco, não o é menos que têm subido nos cartazes de festival, e nos recintos em que tocam. Tudo graças a uma atitude de estrela rock, que se tornou uma profecia auto-realizada, da parte de Tom Meighan (voz) e Serge Pizzorno (guitarra). A linhagem é óbvia, e toda a gente sabe qual é. Ian Brown + Liam Gallagher. O que distingue os Kasabian do restante britrock populista será a participação notória da electrónica e dos teclados, os quais, junto com a secção rítmica, aumentam forte e feio o rácio de groove de várias das músicas da banda de Leicester. Tendo perante si a maior enchente até agora, os Kasabian proporcionaram uma festa de saltos, danças, coros, e muito, muito crowd-surfing. Os singles aparecem todos. "Shoot The Runner", "Velociraptor", "Empire", a muitíssimo participada "L.S.F.", e um encore que contou com uma "Vlad The Impaler" altamente agressiva e a pôr toda a gente eufórica. "I'm On Fire" foi a escolha óbvia para encerrar um concerto que deixa antever que, enquanto souberem escrever refrões para cantar e dançar assim, os Kasabian continuarão a andar por palcos destes.
· 16 Ago 2012 · 21:19 ·
Nuno Proençanunoproenca@gmail.com
DIA 4 |
FOTOGALERIA
ÚLTIMAS REPORTAGENS

ÚLTIMAS