Festival EDP Paredes de Coura
Paredes de Coura
13-17 Ago 2012
O meu plano era chegar a tempo dos Ladrões do mesmo. Planos que uma soneca prolongada tornaram inviáveis. Sendo assim, a escolha para primeira banda do dia recaiu nos Best Youth. O duo de Catarina Salinas e Ed Rocha Gonçalves surgiu acompanhado em palco por um baterista dos Memória de Peixe, e tratou de apresentar algo que me é impossível de classificar como outra coisa que não banalíssimo. Salinas é uma boa frontwoman. Nada de ser injusto nestes pormenores. A música é que não passa de um misto de indie-rock que já se ouviu milhares de vezes nos últimos 25 anos, com umas incursões num formato voz-electronica como uma versão de décima categoria de "Protection" dos Massive Attack ("um bocado mais blues", disse Salinas). Os Best Youth sabem que a música, no seu género, tem que ser pegadiça, e todas as suas canções seguem um formato mais ou menos convencional verso-refrão. Claro que o problema não está aí, e sim no facto de tais refrões serem formulaicos e pouco entusiasmantes. Os Best Youth, arriscaria, terão que procurar dar passos menos certinhos se quiserem distinguir-se de n bandas anónimas. Até a feistiness de Salinas pouco vale, se nos lembrarmos de Alexis Krauss há dois dias.

Escapar da palhaçada inconsequente dos Go Team é sempre aconselhável. É pena que o ponto de fuga, pelo menos esta noite, tenha-se revelado igualmente inconsequente. Palhaçada seria difícil, dada a timidez da - muito atraente - vocalista Denise Nouvion. Os Memoryhouse enquadram-se chapadinhos num género que pode dar azo a coisas muito bonitas, o dream-pop. Poder, pode. Mas a verdade é que, 21 anos depois de "Loveless" ter sido editado (surpresa: tocaram uma cover da "To Here Knows When"), é preciso muito mais do que tocar uns acordes bonitos, uma electrónica flutuante e uma voz dócil. Convém algo que distinga, algo como a penumbra prismática dos Beach House, ou os jactos de ar de turbina dos School Of Seven Bells. Os Memoryhouse não têm nada que se pareça com isto. Estão para a dream-pop como, por exemplo, os Editors estão para a pop gótica. Bom, talvez não seja nada assim tão mau. Afinal, eles não ofendem ninguém. Simplesmente chateiam. São anémicos, mortiços, baixadores de tensão. E, diga-se de passagem, também não fazem muito para mudar o cenário, graças à já mencionada timidez. Disso ninguém tem culpa. Falta saber se podem emancipar-se do resto.

Ouço, lá fora, os Dead Combo a fazerem encore. Confesso que não esperava. Não que a música deles não mereça. Apenas porque, nestes festivais, os encores costumam estar reservados para os cabeças-de-cartaz. Os Dead Combo proporcionaram mais um excelente concerto para adicionar ao seu vasto palmarés, e contrastaram grandemente com os sons sem imaginação que têm proliferado hoje. Basta dizer que o seu som veio substituir o pós-rock maçudo dos God Is An Astronaut. Hoje, apareceram ao palco com uma formação de três elementos, com Alexandre Frazão na bateria a juntar-se a Tó Trips e a Pedro Gonçalves. E chegaram mesmo a ter quatro, quando Peixe, guitarrista dos cabeças-de-cartaz Ornatos Violeta, tocou em duas músicas, dando-lhes um teor algo jazzy. A escolha de ter um baterista em palco revelou-se acertada, servindo os toques certeiros nas tarolas como acento perfeito para o bater seco e inconfundível de Tó Trips nas cordas da sua guitarra, e dando uma dinâmica extra à música. Não houve nenhum grande aparato, tirando uns bouquets de rosas vermelhas em palco. Os Dead Combo não perdem nada em espaços vastos e abertos, sobretudo rodeados de escuridão e árvores. A dança do público foi merecidamente conquistada.

E o festival no palco principal acaba de se encerrar depois de dois encores dos Ornatos Violeta. Para quem, como eu, conheceu os Ornatos Violeta na década de 90, é impossível não admirar o crescimento da base de fãs da banda desde que se separaram em 2002. Talvez, quando ainda dependíamos das rádios, só houvesse lugar para uma banda "alternativa" com sucesso, e esse recaiu sobre as ovelhas desmamadas dos Silence 4. Desde então, a internet, o passa-palavra, o revivalismo dos 90s, etc, deram aos Ornatos uma base de fãs com uma devoção comparável a quaisquer Radiohead desta vida. E foi esse público que recebeu, de braços no ar e letra na ponta da língua, Manuel Cruz, Peixe, Nuno Prata, Kinorm e Elísio Donas. Foi, sobretudo, Manuel Cruz - embora são o lado mais dinâmico de há uma década - a puxar pelo público, com os restantes membros da banda a permanecerem discretos e empenhados no seu trabalho. Com tanta coisa dita, acaba por ser pena que a música dos Ornatos Violeta seja uma combinação de poesia adolescente de carteira da escola, e alt-rock com toques épicos que tanto é perfeita para grandes multidões cantarem, como apresenta alto teor de banalidade. Mas foram, sem dúvida, os vencedores do festival, e os fãs não terão dado o tempo por perdido.
· 16 Ago 2012 · 21:19 ·
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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