Optimus Alive
Passeio Marítimo de Algés
10-12 Jul 2008
DIA 1 |
Veteranos respeitadíssimos. Velhos. Glórias do passado. Nomes novos. Gente que há meio ano não era absolutamente nada. Homossexuais. Transsexuais. A música de dança como rock. Friques aprovados pela malta da Linha graças às ligações com o surf. Era basicamente nisto que consistia o cartaz do Optimus Alive, mais coisa menos coisa.
Dois palcos, com uma espécie de secção electrónica no meio que passou demasiadas vezes uma (muito má e inútil) remistura drum’n’bass de “Hip Hop” dos Dead Prez, um clássico das pistas de dança cujo beat original é muito mais destruidor que qualquer reorganização do amen break e, por cima do arco da entrada por onde as pessoas passavam, uma banda de versões rock que, pelo menos no último dia, fez uma versão de “Highway to Hell” dos AC/DC que faria Bon Scott repetir a bebedeira que o levou à morte sem hesitar um único segundo.
Comece-se pelo início, pelo menos pelo início da minha passagem pelo festival, ou seja, pelo Metro on Stage, quase às sete da tarde de uma quinta-feira de Julho. A hora faz toda a diferença, já que o Metro on Stage não foi concebido para ser tolerável por gente com peso a mais que escolheu deixar crescer pêlos faciais. Pelo menos à tarde, com o sol a bater e a lotação desde palco semi-fechado (“semi” porque, apesar de estar rodeado por entradas em três dos lados, é coberto e funciona como um espaço fechado, só que com a agravante de se poder fumar).
Foi este palco demasiado cheio e com demasiado mau som que recebeu os Vampire Weekend. Podia pensar-se que a beira-rio é o melhor sítio para ouvi-los, já que o ar betinho (elogio) remete para a área marítima. Mas para quem os viu um mês antes mesmo ao lado do mar e de barcos a sério no Primavera Sound em Barcelona, a horas decentes (duas da manhã) com melhor som a realidade é outra. E em ambos os concertos faltava alguma coisa.
Vampire Weekend é bestial, inescapável, a pop betinha (elogio outra vez) misturada com as guitarras e batidas africanas, bons arranjos, letras inteligentes que rimam reggaetón com Benetton e Louis Vuitton e tanto falam de Peter Gabriel quanto de Lil’ Jon e todas aquelas coisas que foram discutidas minuciosamente desde se começou a ouvir falar deles. Primeiro o burburinho começou com críticas elogiosas a concertos no New York Times e na New Yorker. A lgures no final do ano passado um CD-R que eles vendiam nos concertos começou a circular na internet e os óptimos primeiros dois singles foram lançados em 7”, quando a banda ainda não tinha contrato com a XL.
As malhas do disco, uma canção nova – ouvi-la a primeira vez e repetir um mês e pouco depois é suficiente para ficar a conhecê-la (elogio) – e o lado b que vinha nesse CD-R e no single de “Mansard Roof”(“Ladies of Cambridge”, antes conhecida como “Boston”, uma das melhores canções dele) fazem o alinhamento. Mas não há muito mais que isso, ao vivo não convertem ninguém, não tiram dúvidas, cumprem apenas. E também falta mais material para entreter as pessoas, que os adoram intensamente e dançam entusiasticamente (e batem palmas antes do fim de “Ladies of Cambridge”).
Logo a seguir, no mesmo palco e com o mesmo calor, os MGMT, intensamente mais chatos ao vivo que em disco (onde há ideias e canções boas), com solos pouco interessantes e muito pouco para oferecer para além do reconhecimento das canções e da dúvida “o baterista é um homem ou uma mulher?” E, claro, “Time to Pretend”, sempre na fronteira da sobreexposição irritante.
Já mais à noite, Hercules and Love Affair, donos de um disco de estreia magnífico com o selo de qualidade da DFA e canções bestiais que não valem só pela transformação de Antony Hegarty de diva insuportavelmente choninhas em diva disco. E isso nota-se ao vivo, sem Antony, com Nomi, a vocalista transsexual com uma grande presença em palco, a comandar tudo. Uma banda completa, com duas pessoas nas teclas, um baterista, um baixista, um trompetista, um trombonista, uma DJ/vocalista que transformam as canções deHercules and Love Affair num DJ set orgânico, esticando-as e fazendo delas algo novo e diferente sem nunca aborrecer. Inacreditável se se tiver em conta que só começaram a dar concertos em Maio. Neste que foi um dos melhores momentos do festival houve também direito a uma versão de “(Don’t Fear) the Reaper” dos Blue Öyster Cult (estranhamente, tendo em conta a canção que é e o facto de isto ser música de dança, sem cowbell).
No palco principal, adianta acima de tudo falar dos Rage Against the Machine, força destruidora, panfletária, a ideia de uma banda rock como uma banda de hip-hop (pirotecnia na guitarra em substituição de scratch no gira-discos enquanto Zack de la Rocha diz “check out my DJ”), tudo sempre baseado na música negra (não só por de la Rocha ser um MC e não um vocalista normal de banda rock, mas também pelo acompanhamento) e os clássicos todos a soar tão bem como antes e a cansar tanto como cansavam antes (no bom e no mau sentido). Referências a Saramago e à revolução antes e mosh e imensa gente cujo propósito na vida é estar ali e reviver a juventude (e a ainda bem).
Dois palcos, com uma espécie de secção electrónica no meio que passou demasiadas vezes uma (muito má e inútil) remistura drum’n’bass de “Hip Hop” dos Dead Prez, um clássico das pistas de dança cujo beat original é muito mais destruidor que qualquer reorganização do amen break e, por cima do arco da entrada por onde as pessoas passavam, uma banda de versões rock que, pelo menos no último dia, fez uma versão de “Highway to Hell” dos AC/DC que faria Bon Scott repetir a bebedeira que o levou à morte sem hesitar um único segundo.
Comece-se pelo início, pelo menos pelo início da minha passagem pelo festival, ou seja, pelo Metro on Stage, quase às sete da tarde de uma quinta-feira de Julho. A hora faz toda a diferença, já que o Metro on Stage não foi concebido para ser tolerável por gente com peso a mais que escolheu deixar crescer pêlos faciais. Pelo menos à tarde, com o sol a bater e a lotação desde palco semi-fechado (“semi” porque, apesar de estar rodeado por entradas em três dos lados, é coberto e funciona como um espaço fechado, só que com a agravante de se poder fumar).
Foi este palco demasiado cheio e com demasiado mau som que recebeu os Vampire Weekend. Podia pensar-se que a beira-rio é o melhor sítio para ouvi-los, já que o ar betinho (elogio) remete para a área marítima. Mas para quem os viu um mês antes mesmo ao lado do mar e de barcos a sério no Primavera Sound em Barcelona, a horas decentes (duas da manhã) com melhor som a realidade é outra. E em ambos os concertos faltava alguma coisa.
Vampire Weekend é bestial, inescapável, a pop betinha (elogio outra vez) misturada com as guitarras e batidas africanas, bons arranjos, letras inteligentes que rimam reggaetón com Benetton e Louis Vuitton e tanto falam de Peter Gabriel quanto de Lil’ Jon e todas aquelas coisas que foram discutidas minuciosamente desde se começou a ouvir falar deles. Primeiro o burburinho começou com críticas elogiosas a concertos no New York Times e na New Yorker. A lgures no final do ano passado um CD-R que eles vendiam nos concertos começou a circular na internet e os óptimos primeiros dois singles foram lançados em 7”, quando a banda ainda não tinha contrato com a XL.
As malhas do disco, uma canção nova – ouvi-la a primeira vez e repetir um mês e pouco depois é suficiente para ficar a conhecê-la (elogio) – e o lado b que vinha nesse CD-R e no single de “Mansard Roof”(“Ladies of Cambridge”, antes conhecida como “Boston”, uma das melhores canções dele) fazem o alinhamento. Mas não há muito mais que isso, ao vivo não convertem ninguém, não tiram dúvidas, cumprem apenas. E também falta mais material para entreter as pessoas, que os adoram intensamente e dançam entusiasticamente (e batem palmas antes do fim de “Ladies of Cambridge”).
Logo a seguir, no mesmo palco e com o mesmo calor, os MGMT, intensamente mais chatos ao vivo que em disco (onde há ideias e canções boas), com solos pouco interessantes e muito pouco para oferecer para além do reconhecimento das canções e da dúvida “o baterista é um homem ou uma mulher?” E, claro, “Time to Pretend”, sempre na fronteira da sobreexposição irritante.
Já mais à noite, Hercules and Love Affair, donos de um disco de estreia magnífico com o selo de qualidade da DFA e canções bestiais que não valem só pela transformação de Antony Hegarty de diva insuportavelmente choninhas em diva disco. E isso nota-se ao vivo, sem Antony, com Nomi, a vocalista transsexual com uma grande presença em palco, a comandar tudo. Uma banda completa, com duas pessoas nas teclas, um baterista, um baixista, um trompetista, um trombonista, uma DJ/vocalista que transformam as canções deHercules and Love Affair num DJ set orgânico, esticando-as e fazendo delas algo novo e diferente sem nunca aborrecer. Inacreditável se se tiver em conta que só começaram a dar concertos em Maio. Neste que foi um dos melhores momentos do festival houve também direito a uma versão de “(Don’t Fear) the Reaper” dos Blue Öyster Cult (estranhamente, tendo em conta a canção que é e o facto de isto ser música de dança, sem cowbell).
No palco principal, adianta acima de tudo falar dos Rage Against the Machine, força destruidora, panfletária, a ideia de uma banda rock como uma banda de hip-hop (pirotecnia na guitarra em substituição de scratch no gira-discos enquanto Zack de la Rocha diz “check out my DJ”), tudo sempre baseado na música negra (não só por de la Rocha ser um MC e não um vocalista normal de banda rock, mas também pelo acompanhamento) e os clássicos todos a soar tão bem como antes e a cansar tanto como cansavam antes (no bom e no mau sentido). Referências a Saramago e à revolução antes e mosh e imensa gente cujo propósito na vida é estar ali e reviver a juventude (e a ainda bem).
· 10 Jul 2008 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueirarodrigo.nogueira@bodyspace.net
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