DISCOS
The Beta Band
Heroes to Zeros
· 27 Mai 2004 · 08:00 ·
The Beta Band
Heroes to Zeros
2004
Astralwerks


Sítios oficiais:
- The Beta Band
- Astralwerks
The Beta Band
Heroes to Zeros
2004
Astralwerks


Sítios oficiais:
- The Beta Band
- Astralwerks
Há anos uma banda, cujos melhores momentos faziam lembrar os Spiritualized em versão deselectrificada, aparecia no radar. Com propensão para usarem parafernália pouco ortodoxa, e usarem roupas africanas em palco, The Beta Band criaram clássicos como “Dry The Rain”, “The House Song” ou “Inner Meet Me”. Clássicos reunidos em The Three EPs, que é mesmo o que o nome indica.
Passada uma falsa partida (The Beta Band), e um regresso confiante e bastante mais apelativo (Hot Shots II), Heroes To Zeros encontra os escoceses enfim capazes de criar o mesmo encantamento que possuíam aquando da sua génese. E desta vez têm equipamento à altura das suas ambições. Ambições essas que passam por um malabarismo capaz de, às bolas com que se começa a demonstração, juntar quadrados, triângulos, estrelas, pentágonos, paralelogramos, prismas, cones, cilindros, pirâmides, etc. E parecer que, quando só restam novamente as bolas, estas ganharam as qualidades de tudo o que por lá passou.

O single escolhido, “Assessment”, é rock com sons esmigalhados, feito de um riff insistente, ao qual se juntam partes progressivas, com trompete e piano, à medida que vamos chegando ao seu fim. Os sons da Beta Band são engolidos, côncavos, bandas-sonoras para larvas de areia gigantes disfrutarem de uma boa refeição. As percussões contam muito – quer pareçam garrafas, quer pareçam latas de lixo. Ou poderão ser sinos, no meio de uma invocação acústica em círculo fechado (“Lion Thief”), que mais tarde darão lugar a electrónica e vozes na bruma. A entrada com um Fender Rhodes em “Easy” é motivo para rejubilo, e depois de um ataque acústico-funky-groovy, de uma harmónica, de um órgão em dança ossuda, de latas, voltamos aos sons do início esfrangalhados e felizes. A Beta Band vai ao supermercado, e traz o saco com que saiu de casa cheio, para depois festejar as compras numa varanda, com tempo de Verão, e melgas para serem afugentadas. Nada mudou muito na voz cerrada, baixa, de cântico, de Steve Mason. Mudou o facto de poder estar rodeada de cordas e xilofones luxuriantes (“Troubles”), distorção e electrónica de arcadas dos 80's que se transformam em rock com pianos (“Out-Side”), passos num túnel, folhas de relva de cristal e fogões a queimarem pudins (“Space Beatle”) ou psicadelismo quase spacey com bombo duplo em mistura com batida funky, violinos, címbalos, palmas, órgão em reverb e batuques aquados (“Liquid Bird”).

É assombrosa a quantidade e qualidade das construções que a Beta Band traz em Heroes To Zeros. “Simple” transforma-se de melodrama com cordas, em funk. E de funk no que é, somente, pop-mistela da melhor estirpe. E acaba só com voz e címbalo.
É isto que a Beta Band era, e foi, capaz de fazer. Acabou por ser bom, ao fim e ao cabo, ter passado pelo processo de regeneração. Heroes To Zeros deve ser preservado com o cuidado dos objectos especiais. Cada componente sua é sinónimo de riqueza.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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