DISCOS
The Gaslamp Killer
Breakthrough
· 14 Nov 2012 · 19:14 ·
The Gaslamp Killer
Breakthrough
2012
Brainfeeder


Sítios oficiais:
- The Gaslamp Killer
- Brainfeeder
The Gaslamp Killer
Breakthrough
2012
Brainfeeder


Sítios oficiais:
- The Gaslamp Killer
- Brainfeeder
Os psico-paradoxos de um beatmaker ambicioso.
Tendo em conta as inovações trazidas por Steven “Flying Lotus” Ellison, patrão da Brainfeeder, para aquilo que se convencionou chamar “hip-hop instrumental”, talvez já faça pouco sentido atribuir essa definição a esta música. Se é verdade que os beats do falecido J.Dilla são uma influência notória, não o é menos o facto de estes serem apenas uma parte de um todo. Um todo no qual o beat propriamente dito funciona como um ”hub”, para onde convergem diversos outros géneros. Se em “Cosmogramma”, de Flying Lotus, isso já era bem notório, não o é menos na estreia em álbum de William “The Gaslamp Killer” Bensussen. Algo que não surpreenderá quem esteve atento à produção deste último no álbum de estreia de Gonjasufi, “A Sufi And A Killer”. Negócios de “família”, portanto.

Indo mais atrás, podemos ainda descobrir o ADN de “Breakthrough” em “The Private Press”, o álbum onde DJ Shadow puxou ainda mais para a frente as suas influências de melómano extra hip-hop. Isso observa-se na organicidade de “Breakthrough”, disco aparentemente pouco interessado em soar maquinal. Os sons dos instrumentos estão aqui bem vivos, quer sejam baixos, orgãos, ou os breaks da bateria, interpretados fervorosamente pelo próprio Gaslamp Killer. Existem músicas, como as duas participações de Gonjasufi, em que nem sequer existem beats. Onde Gaslamp Killer preferiu um som de paradoxal claridade no meio da estática. Como o dito Gonjasufi transplantado do deserto para o smog citadino da California. “Breakthrough” é difuso, granulado, gasoso, mas sente-se nele um urbanismo vívido de ruas lotadas, cheias de skaters, fumadores de substâncias ilícitas, b-boys, electro-excêntricos, t-shirts amarelo-torradas com desenhos e ondas de calor.

Gaslamp Killer trouxe para “Breakthrough” uma quantidade apreciável de colaboradores. Gente como Miguel Atwood-Ferguson, Samiyam e Daedalus incorpora-se na sonoridade sem deixar as costuras à vista. No fundo, como estamos perante um disco de génese californiana (pensemos em todo o psicadelismo originário de São Francisco, dos Grateful Dead aos Thee Oh Sees), acaba por ser natural sentir que os sons querem chegar aquele centímetro mais além, preencher mais o espaço. Seria fácil falar em psicadelismo, e não há dúvida que “Breakthrough” não existiria se um dia alguém não falasse de umas tais portas da percepção. Mas as suas batidas, instrumentação, scratches, médio-orientalismos, sintetizadores e alto volume estão feitas à medida de qualquer um que se queira deleitar com aqueles pequeninos pormenores que surgem sempre quando se ouve um disco pela enésima vez.

As músicas deste álbum raramente chegam aos 3 minutos, o que, mais uma vez, não constitui surpresa para quem ouviu discos como “Cosmogramma”. “Breakthrough” é nítido e gritante como um arranha-céus espelhado. Mas permite, ao mesmo tempo, que o sol que nele reflecte dificulte a visão. Felizmente que isso apenas significa um exacerbar do alerta dos outros sentidos para com um disco que faz por merecê-lo.
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com

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