DISCOS
Devastations
Yes, U
· 20 Nov 2007 · 08:00 ·
Devastations
Yes, U
2007
Beggars Banquet / Popstock


Sítios oficiais:
- Devastations
- Beggars Banquet
- Popstock
Devastations
Yes, U
2007
Beggars Banquet / Popstock


Sítios oficiais:
- Devastations
- Beggars Banquet
- Popstock
Devagarinho, muito devagarinho, trio australiano destila sensações nocturnas numa agradável surpresa em termos de rock engravatadinho.
Os lábios de Yes, U não demoram muito a segredar duas evidências que muito denunciam o seu delito: a sua estética aponta num sentido retro revestido de sofisticação e os seus episódios imorais são quase sempre projecções num retrovisor que mais nítido torna os apunhalamentos sentimentais que lamentam os Devastations, em romaria pela terra de ninguém partilhada pelo shoegaze incisivo nas suas intervenções e o discreto charme de toda a sonolência produzida por uma série de sintetizadores noctívagos. O terceiro disco do trio australiano não deixa também de fazer com que seja pelo menos meia-verdade toda aquela que comprove a pontaria da Beggars Banquet dos últimos anos no que respeita a alvos bem competentes na alquimia da sua elegância rock.

Merece um grosso benefício da dúvida qualquer disco que se assemelhe à banda-sonora que o mundo nunca chegou a conhecer ao tórrido e fetichista romance entre Billy Bob Thorton e Angelina Jolie, com a fantasiosa vantagem da mesma ter sido composta por um Jarvis Cocker a ressacar de This Is Hardcore, o clássico documento da decadência brit-pop que podemos agradecer a uns Pulp de topo. Saliente-se a favor de Yes, U o facto de ambos os seus vocalistas e principais compositores, Conrad Standish e Tom Carlyon, reavivarem convincentemente a sedutora memória de Scott McCloud, o ex-Girls Against Boys que, nos discos de New Wet Kojak, praticava um sussurro tão sexy que se calcula situada acima do milhar a marca dos celibatos que ruíram aos pés do disco homónimo desses últimos.

É até interessante observar como Yes, U pode servir de objecto multiplamente útil a estudos sócio-demográficos elaborados a partir de casa. De uma só cajadada, mata-se a curiosidade que possa impedir alguém de saber que os espaços nocturnos em Melbourne (proveniência do trio) são mal frequentados, que em Berlim (onde foi gravado o disco) pior ainda e que, a julgar pelo entusiasmo apregoado por Karen O dos Yeah Yeah Yeahs, Nova Iorque também não deve andar longe da malha que devasta os bons costumes, substituindo-os por vicio e consumo voluntário de venenos nocturnos. Ou seja, Yes, U pode bem ser o disco do ano para quem procura sensações Interpol, mas que se comprometeu a um jejum induzido pela náusea que provocou este ano a absoluta saturação do refrão de “Heinrich Maneuver” (embalsamado em Our Love to Admire).

Importa, em abono do desenjoo, questionar os Devastations acerca de como andarão as coisas pela costa oeste das suas características mais comparáveis. Serve como resposta a isso a proximidade perceptível entre algumas faixas de Yes, U e o que poderia ser “Hangin’ Tree” dos Queens of the Stone Age com a sua velocidade reduzida ao ponto de poder servir à avaliação justa da mais polémica das grandes penalidades num jogo de futebol entre a Inglaterra e a Argentina. Também o groove de "Mistakes", por pura coincidência ou não, podia bem pertencer aos !!! de Myth Takes se estes se encontrassem perto de sucumbir a uma overdose de ketamina. Fica clara a ideia de que Yes, U é grosseiramente lento na entrega do seu corpo às tentações expostas na montra da noite citadina. Os apreciadores de sexo tântrico podem, no mínimo, arriscar uma one night stand ao lado dos Devastations.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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