DISCOS
Jesu
Silver EP
· 10 Ago 2007 · 08:00 ·
Jesu
Silver EP
2006
Hydra Head


Sítios oficiais:
- Jesu
- Hydra Head
Jesu
Silver EP
2006
Hydra Head


Sítios oficiais:
- Jesu
- Hydra Head
Ponte entre dois grandes discos de metal oferece oportunidade a quem possa estar interessado em conviver com a música de um visionário do género.
Partir para um disco com um atraso que transcende um ano também oferece vantagens que, de outra forma, não seriam activáveis num enquadramento contextual. Tanto mais quando Jesu é um dos nomes actuais que mais auspiciosamente assinala progresso e inovação a cada novo passo da carreira, mesmo quando as mudanças não merecem a consensualidade de quem lhe segue os movimentos. Isto porque, o mentor Justin Broadrick, arquitecto sonoro de uma fatia enorme do metal dos últimos 10 anos, continua a conduzir até aos mais proveitosos extremos o braço de ferro entre o metal gargantuesco e o industrial enquanto a mais exposta das ramificações que liberta uma electrónica que conhece também outros usos nos Jesu. O EP Silver serviu como ponte entre o primeiro disco homónimo e o segundo Conqueror, enquanto, ao mesmo tempo, ensaiou as coordenadas que viriam a revelar-se mais presentes no último: a saliente veia melódica e uma maior sinceridade nas vocalizações mais definidas e perceptíveis. Enfim, esta é a prata que antecede o jubileu dourado de Conqueror.

Antes de avançar a série de apontamentos aqui dedicados ao EP de Jesu, refira-se o gargantuesco acima mencionado como uma tentativa de encontrar o melhor superlativo para um metal que, quando toca a ser descrito da forma mais exacta, geralmente encontra em grande ou cinemático adjectivos insuficientes. Silver continua a estimular a epítetos proporcionais à grandeza do metal de guitarras infinitamente arrastadas, aqui galvanizado pela sensação de que Justin Broadrick acumula espiritualidade e epifanias à medida que se aproxima das portas da percepção que se haveriam de abrir em Conqueror. As revelações sucedem-se: a faixa-título “Silver” tem a manutenção da sua radiância assegurada por uma linha central que oscila entre os sons próprios dos sinos e o do piano, enquanto que “Star” não se recusa a ser jovialmente uptempo e melódica quase à maneira do EMO não-anedótico dos Promise Ring ou Jimmy Eat World dos primeiros tempos. Broadrick descobriu, algures entre Silver e Conqueror, que preferia ser um veterano em busca do elixir do rejuvenescimento do que um reformado entregue ao pretensiosismo.

Mediante toda a variedade de tarefas em que sai bem sucedido Jesu neste etapa intercalar, não admira que a constatação face ao seu saudável e múltiplo esforço seja semelhante à que José Cid referia num seu tema célebre pela religiosidade:E ao chegar ao fim do dia, sei que dormiria muito mais feliz. O esforço e fadiga de Justin Broadrick continuam a proporcionar um dos mais relevantes despertares sensoriais da música actual.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros