Partir para um disco com um atraso que transcende um ano também oferece vantagens que, de outra forma, não seriam activáveis num enquadramento contextual. Tanto mais quando Jesu é um dos nomes actuais que mais auspiciosamente assinala progresso e inovação a cada novo passo da carreira, mesmo quando as mudanças não merecem a consensualidade de quem lhe segue os movimentos. Isto porque, o mentor Justin Broadrick, arquitecto sonoro de uma fatia enorme do metal dos últimos 10 anos, continua a conduzir até aos mais proveitosos extremos o braço de ferro entre o metal gargantuesco e o industrial enquanto a mais exposta das ramificações que liberta uma electrónica que conhece também outros usos nos Jesu. O EP Silver serviu como ponte entre o primeiro disco homónimo e o segundo Conqueror, enquanto, ao mesmo tempo, ensaiou as coordenadas que viriam a revelar-se mais presentes no último: a saliente veia melódica e uma maior sinceridade nas vocalizações mais definidas e perceptÃveis. Enfim, esta é a prata que antecede o jubileu dourado de Conqueror.
Antes de avançar a série de apontamentos aqui dedicados ao EP de Jesu, refira-se o gargantuesco acima mencionado como uma tentativa de encontrar o melhor superlativo para um metal que, quando toca a ser descrito da forma mais exacta, geralmente encontra em grande ou cinemático adjectivos insuficientes. Silver continua a estimular a epÃtetos proporcionais à grandeza do metal de guitarras infinitamente arrastadas, aqui galvanizado pela sensação de que Justin Broadrick acumula espiritualidade e epifanias à medida que se aproxima das portas da percepção que se haveriam de abrir em Conqueror. As revelações sucedem-se: a faixa-tÃtulo “Silver†tem a manutenção da sua radiância assegurada por uma linha central que oscila entre os sons próprios dos sinos e o do piano, enquanto que “Star†não se recusa a ser jovialmente uptempo e melódica quase à maneira do EMO não-anedótico dos Promise Ring ou Jimmy Eat World dos primeiros tempos. Broadrick descobriu, algures entre Silver e Conqueror, que preferia ser um veterano em busca do elixir do rejuvenescimento do que um reformado entregue ao pretensiosismo.
Mediante toda a variedade de tarefas em que sai bem sucedido Jesu neste etapa intercalar, não admira que a constatação face ao seu saudável e múltiplo esforço seja semelhante à que José Cid referia num seu tema célebre pela religiosidade:E ao chegar ao fim do dia, sei que dormiria muito mais feliz. O esforço e fadiga de Justin Broadrick continuam a proporcionar um dos mais relevantes despertares sensoriais da música actual.