DISCOS
Fluxion
Traces
· 28 Mar 2012 · 09:53 ·
Fluxion
Traces
2012
Echocord


Sítios oficiais:
- Echocord
Fluxion
Traces
2012
Echocord


Sítios oficiais:
- Echocord
Odisseia na estação espacial Fluxion: mais glaciar e cerebral (techno minimal) do que incandescente e dançável (dub).
O sexto LP de Fluxion, alter-ego criativo do produtor grego Konstantinos Soublis, intitulado “Traces” (Echocord, 2012), é uma densa explanação no tempo e no espaço, sob coordenadas dub techno – a velha escola Basic Channel de Moritz von Oswald e Mark Ernestus, não por acaso os fundadores da editora Chain Reaction, pela qual Fluxion lançou os primeiros discos, antes de criar a Vibrant Music e daí mudar-se para a Echocord.

A faixa de abertura, “Motion 1”, é lânguida e repetitiva, com uma estrutura minimal que se movimenta em câmara lenta, como que um ensaio de suspensão, uma viagem sideral pautada pela ausência de gravidade. Nos antípodas da faixa seguinte, “No Man Is An Island”, com a vocalização de Dennis Brown, que soa a Gotan Project, uma espécie de tango defumado por ambiências dub e rocksteady, ao que se acrescem partículas desaceleradas de techno (entre Buenos Aires, Kingston e Berlim).

Em “Desert Nights” é retomada a narrativa inicial que se prolonga durante o resto do disco, pelo que “No Man Is An Island” revela-se como a excepção, o momento disruptivo e alienígena de “Traces”. Camada após camada de som, tomando uma especial atenção aos detalhes, às ínfimas variações e subtilezas, entre arestas que se vão moldando ou linhas que se vão deformando, num irrepreensível e meticuloso trabalho de produção de Soublis (destaque para a faixa “Stations”, plena de sofisticação e elegância formal). Não obstante, deparamo-nos com escassos momentos de superação sensorial.

Em “Motion 3” ainda se acelera um tanto ou quanto o ritmo, introduzindo-lhe algumas texturas house, naquela que é talvez a faixa mais propícia às pistas de dança. Mas “Memba” e “Butiama” reconduzem ao techno minimal e, a incerta altura, até o dub parece desvanecer-se, para depois ressurgir em “Migration”, na recta final. À contenção narrativa (minimalismo) de Soublis falta por vezes alguma chama (dub), mas o objecto da sua música (cerebral, envolvente, aditiva) é a introspecção e não propriamente a festividade.
Gustavo Sampaio
gsampaio@hotmail.com

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