O sexto LP de Fluxion, alter-ego criativo do produtor grego Konstantinos Soublis, intitulado “Traces” (Echocord, 2012), é uma densa explanação no tempo e no espaço, sob coordenadas dub techno – a velha escola Basic Channel de Moritz von Oswald e Mark Ernestus, não por acaso os fundadores da editora Chain Reaction, pela qual Fluxion lançou os primeiros discos, antes de criar a Vibrant Music e daà mudar-se para a Echocord.
A faixa de abertura, “Motion 1”, Ă© lânguida e repetitiva, com uma estrutura minimal que se movimenta em câmara lenta, como que um ensaio de suspensĂŁo, uma viagem sideral pautada pela ausĂŞncia de gravidade. Nos antĂpodas da faixa seguinte, “No Man Is An Island”, com a vocalização de Dennis Brown, que soa a Gotan Project, uma espĂ©cie de tango defumado por ambiĂŞncias dub e rocksteady, ao que se acrescem partĂculas desaceleradas de techno (entre Buenos Aires, Kingston e Berlim).
Em “Desert Nights” Ă© retomada a narrativa inicial que se prolonga durante o resto do disco, pelo que “No Man Is An Island” revela-se como a excepção, o momento disruptivo e alienĂgena de “Traces”. Camada apĂłs camada de som, tomando uma especial atenção aos detalhes, Ă s Ănfimas variações e subtilezas, entre arestas que se vĂŁo moldando ou linhas que se vĂŁo deformando, num irrepreensĂvel e meticuloso trabalho de produção de Soublis (destaque para a faixa “Stations”, plena de sofisticação e elegância formal). NĂŁo obstante, deparamo-nos com escassos momentos de superação sensorial.
Em “Motion 3” ainda se acelera um tanto ou quanto o ritmo, introduzindo-lhe algumas texturas house, naquela que Ă© talvez a faixa mais propĂcia Ă s pistas de dança. Mas “Memba” e “Butiama” reconduzem ao techno minimal e, a incerta altura, atĂ© o dub parece desvanecer-se, para depois ressurgir em “Migration”, na recta final. Ă€ contenção narrativa (minimalismo) de Soublis falta por vezes alguma chama (dub), mas o objecto da sua mĂşsica (cerebral, envolvente, aditiva) Ă© a introspecção e nĂŁo propriamente a festividade.