DISCOS
BEBETUNE$
C-4 INHALE $$$$$
· 16 Dez 2011 · 10:02 ·
BEBETUNE$
C-4 INHALE $$$$$
2011
Ed. de Autor
Sítios oficiais:
- BEBETUNE$
C-4 INHALE $$$$$
2011
Ed. de Autor
Sítios oficiais:
- BEBETUNE$
BEBETUNE$
C-4 INHALE $$$$$
2011
Ed. de Autor
Sítios oficiais:
- BEBETUNE$
C-4 INHALE $$$$$
2011
Ed. de Autor
Sítios oficiais:
- BEBETUNE$
Toda a realidade possÃvel que há numa mixtape via James Ferraro.
Apesar da ambição conceptual em torno de Far Side Virtual ter tornado o James Ferraro numa espécie de super estrela factual da persona digital que vinha a criar mais ou menos a partir das suas Summer Headrush Series, esse disco deixava uma pálida imagem de um génio (mesmo) que ao longo destes anos tem tido uma proficiência incalculável mantendo um nÃvel quase inatingÃvel. Era um álbum de tal modo preso à sua clarividência MIDI que se via incapaz de subsistir como peça de interesse para além do mundo de ringtones ao qual se dirigia. Uma sinfonia para smartphones que espelhava, ainda assim de modo sucinto, toda a plasticidade da hiper-realidade, e que caiu de modo tão intrigante quanto exagerado nas graças da crÃtica um pouco por todo o lado. O seu a seu dono pela via errada?
Talvez, até porque o celebrado Night Dolls With Hairpsray já era um rehash cansativo do imaginário 80's reencarnado numa pseudo-rock star, que vinha sendo explorada com resultados incrÃveis em Lamborghini Crystal e atingiu o auge com o dÃptico Feed Me/On Air. É essa capacidade de absorção de toda e qualquer reminiscência da realidade, transviada pelos filtros mais enviesados de um pothead à mercê de uma visão periférica quase absoluta, que leva James Ferraro a sentar-se na cadeira de um "imaginário" super-produtor. Um pouco como os Games faziam antever antes de se transformarem no duo Ford & Lopatin mas com maior ênfase no eixo Rap/R&B, e em consonância com as produções de indie darlings como o Clams Casino ou o AraabMuzik. Encarreirando-o (via Far Side Virtual) numa linha que o Simon Reynolds traçou recentemente para a Pitchfork em torno do maximalismo, e que culminava com o excessivo Glass Swords do Rustie.
Todo um jogo de referências em contacto tangente. Eco desse mundo referencial que o Ferraro tem vindo a criar de um modo enevoado e que tem agora uma surpreendente desenlace com Inhale C-4 $$$$$. Através do pseudónimo BEBETUNE$ (hábito que parecia ter desaparecido após Edward Flex), Ferraro alinha na tendência das mixtapes para download gratuito e disponibiliza este freebie no Tumblr, a "surfar a onda" (pun parvo intencional) laudatória de que tem sido alvo nos últimos tempos. Apesar de todo o oportunismo que possa estar envolvido nisto, seria injusto ver Inhale C-4 $$$$$ como um mero aproveitamento inusitado de coisas trendy como sejam o cloud rap dos Main Attrakionz ou do SPACEGHOSTPURRP, ou a samplagem R&B de muita da electrónica actual (seja o esoterismo da Tri Angle ou tudo aquilo que possa ser considerado pós-Dubstep).
Quanto muito, o Ferraro chega a um (vasto) território comum pelo lado do outsider multifacetado que, fascinado com as potencialidades da cultura popular, as recria sem qualquer ponta de ironia espertinha, mas com a noção de que ultrapassados os estigmas pós-modernistas esta pode servir todos e quaisquer propósitos para a criação de algo indefinÃvel. Algo que aqui assume a influência do trap rap do Lex Luger e do R&B lânguido do The Dream, e os imiscui por entre teclados pastosos e demais parafernália tecnológica em modo sonhador. Evidente, desde logo, no autotune de "R E P T I L E ONLINE", que vai pairando de modo indecifrável sobre uma cama de sintetizador e sons de telemóvel, antes da chegada de um solo de guitarra sintetizada que o bom gosto determinaria de azeite.
"MACCAU CELEBRITIES" evoca o lado mais sonhador do Sinogrime numa profusão de sons que se vão organizando em torno de uma linha melódica que teria servido os propósitos do Lost In Translation se este não fosse tão preso à militância indie. Mais à frente, "MADNE$$" deixa-se contagiar por shout-outs e aproveitando o balanço bem swingante consegue encaixar um som algures entre um koto e uma cÃtara em clareza digital, num falso exotismo que é exposto de modo evidente em "H2O" e "Sahara Jr.". A música pop que se ouvia na iAsia que o próprio inventou enquanto música em 2009 não deve andar muito longe disto.
Apesar de prevalecer um lado upbeat em tudo isto (mesmo que alguns sons induzam a uma certa nostalgia), não deixam de existir alguns momentos maior contenção, em miniaturas como "MACHINE" e "P.O.W.E.R." (com voz no final no eixo Lil Wayne/Drake) e nessa pseudo-slow jam que é "LI$$TENING WITH YOUR EYEZZZ" com a participação de um tal Yung Cea$er que será, muito provavelmente, o próprio Ferraro. Acabando por subsistir de modo latente um certo sentimento de paranóia subliminar algo transversal, este torna-se mais notório no sÃndrome repetitivo de "Pepsi Baby" (Hacker Track impoluto) e no final em registo New Age de "NERO CEA$ER / ANTICHRIST" a lembrar o confronto entre distopia e esperança da banda sonora do Blade Runner.
Tendo em conta como o método de corte e colagem sempre foi uma constante na sua música, mesmo que em moldes muito mais brutos, esta incursão do Ferraro por um universo que, até agora lhe era estranho, acaba por nem ser assim tão descabida quanto inicialmente poderia parecer. Para uma contextualização mais actuante, pode-se traçar sem grandes problemas um contÃnuo lógico de Far Side Virtual a Inhale C-4 $$$$$. Afinal de contas e ao longo destes anos, a coerência sempre existiu pela simples persistência ou estupidez do Ferraro em fazer aqueles discos que mais ninguém pensaria em fazer (apesar do legado visÃvel em nomes como Kwjaz ou Ducktails). Esta mixtape é mais uma brilhante adição a um cânone fascinante e profundamente idiossincrático. Tivesse saÃdo umas semanas antes e seria indispensável nos Topes. Não que isso faça qualquer diferença.
Bruno SilvaTalvez, até porque o celebrado Night Dolls With Hairpsray já era um rehash cansativo do imaginário 80's reencarnado numa pseudo-rock star, que vinha sendo explorada com resultados incrÃveis em Lamborghini Crystal e atingiu o auge com o dÃptico Feed Me/On Air. É essa capacidade de absorção de toda e qualquer reminiscência da realidade, transviada pelos filtros mais enviesados de um pothead à mercê de uma visão periférica quase absoluta, que leva James Ferraro a sentar-se na cadeira de um "imaginário" super-produtor. Um pouco como os Games faziam antever antes de se transformarem no duo Ford & Lopatin mas com maior ênfase no eixo Rap/R&B, e em consonância com as produções de indie darlings como o Clams Casino ou o AraabMuzik. Encarreirando-o (via Far Side Virtual) numa linha que o Simon Reynolds traçou recentemente para a Pitchfork em torno do maximalismo, e que culminava com o excessivo Glass Swords do Rustie.
Todo um jogo de referências em contacto tangente. Eco desse mundo referencial que o Ferraro tem vindo a criar de um modo enevoado e que tem agora uma surpreendente desenlace com Inhale C-4 $$$$$. Através do pseudónimo BEBETUNE$ (hábito que parecia ter desaparecido após Edward Flex), Ferraro alinha na tendência das mixtapes para download gratuito e disponibiliza este freebie no Tumblr, a "surfar a onda" (pun parvo intencional) laudatória de que tem sido alvo nos últimos tempos. Apesar de todo o oportunismo que possa estar envolvido nisto, seria injusto ver Inhale C-4 $$$$$ como um mero aproveitamento inusitado de coisas trendy como sejam o cloud rap dos Main Attrakionz ou do SPACEGHOSTPURRP, ou a samplagem R&B de muita da electrónica actual (seja o esoterismo da Tri Angle ou tudo aquilo que possa ser considerado pós-Dubstep).
Quanto muito, o Ferraro chega a um (vasto) território comum pelo lado do outsider multifacetado que, fascinado com as potencialidades da cultura popular, as recria sem qualquer ponta de ironia espertinha, mas com a noção de que ultrapassados os estigmas pós-modernistas esta pode servir todos e quaisquer propósitos para a criação de algo indefinÃvel. Algo que aqui assume a influência do trap rap do Lex Luger e do R&B lânguido do The Dream, e os imiscui por entre teclados pastosos e demais parafernália tecnológica em modo sonhador. Evidente, desde logo, no autotune de "R E P T I L E ONLINE", que vai pairando de modo indecifrável sobre uma cama de sintetizador e sons de telemóvel, antes da chegada de um solo de guitarra sintetizada que o bom gosto determinaria de azeite.
"MACCAU CELEBRITIES" evoca o lado mais sonhador do Sinogrime numa profusão de sons que se vão organizando em torno de uma linha melódica que teria servido os propósitos do Lost In Translation se este não fosse tão preso à militância indie. Mais à frente, "MADNE$$" deixa-se contagiar por shout-outs e aproveitando o balanço bem swingante consegue encaixar um som algures entre um koto e uma cÃtara em clareza digital, num falso exotismo que é exposto de modo evidente em "H2O" e "Sahara Jr.". A música pop que se ouvia na iAsia que o próprio inventou enquanto música em 2009 não deve andar muito longe disto.
Apesar de prevalecer um lado upbeat em tudo isto (mesmo que alguns sons induzam a uma certa nostalgia), não deixam de existir alguns momentos maior contenção, em miniaturas como "MACHINE" e "P.O.W.E.R." (com voz no final no eixo Lil Wayne/Drake) e nessa pseudo-slow jam que é "LI$$TENING WITH YOUR EYEZZZ" com a participação de um tal Yung Cea$er que será, muito provavelmente, o próprio Ferraro. Acabando por subsistir de modo latente um certo sentimento de paranóia subliminar algo transversal, este torna-se mais notório no sÃndrome repetitivo de "Pepsi Baby" (Hacker Track impoluto) e no final em registo New Age de "NERO CEA$ER / ANTICHRIST" a lembrar o confronto entre distopia e esperança da banda sonora do Blade Runner.
Tendo em conta como o método de corte e colagem sempre foi uma constante na sua música, mesmo que em moldes muito mais brutos, esta incursão do Ferraro por um universo que, até agora lhe era estranho, acaba por nem ser assim tão descabida quanto inicialmente poderia parecer. Para uma contextualização mais actuante, pode-se traçar sem grandes problemas um contÃnuo lógico de Far Side Virtual a Inhale C-4 $$$$$. Afinal de contas e ao longo destes anos, a coerência sempre existiu pela simples persistência ou estupidez do Ferraro em fazer aqueles discos que mais ninguém pensaria em fazer (apesar do legado visÃvel em nomes como Kwjaz ou Ducktails). Esta mixtape é mais uma brilhante adição a um cânone fascinante e profundamente idiossincrático. Tivesse saÃdo umas semanas antes e seria indispensável nos Topes. Não que isso faça qualquer diferença.
celasdeathsquad@gmail.com
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