ETC.
LIVRO
Avant Rock - Experimental Music From The Beatles to Björk
Bill Martin
· 18 Jan 2004 · 08:00 ·
Avant Rock - Experimental Music From The Beatles to Björk
Bill Martin
2002
Open Court
Avant Rock - Experimental Music From The Beatles to Björk
Bill Martin
2002
Open Court
Assim que se abarca a leitura do livro, é abertamente transmitida a ideia de que o ponto central do conceito música é a própria música, pelo que um livro não poderá, independentemente da conjuntura, transmitir os sentimentos que a audição de uma música comporta. Porquê, então, empreender esforço e tempo na escrita de um livro que não conseguirá alcançar com exactidão aquilo que analisa? Porque para Bill Martin, professor de Filosofia na Universidade DePaul de Chicago, o que interessa são as ideias e os conceitos, antes de qualquer análise técnica e biográfica. É óbvio que o adoptar de uma postura deste tipo traz problemas ao leitor desamparado, que seguramente terá dificuldade em interpretar e assimilar as dezenas de referências e enquadramentos/comparações entre correntes musicais e filosóficas. Porém, os temas abordados têm quase sempre uma pertinência tal que, aliada a uma escrita honesta e entusiasmada, prendem o leitor à leitura e o encaminham quase naturalmente à descoberta de uma significativa parte da mais importante música que o séc. XX viu nascer.

O termo Avant Rock poderá ser uma contradição ou um qualquer tipo de incoerência vária, ainda para mais apoiado no sub-título Experimental music from the Beatles to Björk; porém, entendido como um abranger de uma parte das pessoas e bandas que (in)surgiram directamente de pequenas revoluções na cultura e política que os anos 60 auxiliaram, começa a fazer algum sentido. A postura adoptada no livro não deixa de ser, apesar de tudo, um tanto ou quanto estranha, mas certo que concebível. Abre estabelecendo um pequeno percurso das raízes que brotavam da música clássica e do jazz (de John Cage e Cecil Taylor a Glenn Gould, de John Coltrane a Miles Davis) para depois explorar o surgimento dos Beatles e o envolvimento de Yoko Ono, o ruído dos Velvet Underground e o blues psicadélico de Jimi Hendrix, passando por Patti Smith, Brian Eno e Glenn Branca. Paralelamente ao desenrolar do livro vão sendo feitos pequenos mapas de discos por anos, artistas ou movimentos, que se revelam de uma extrema curiosidade e importância. De menos qualidade e relevo fica, porém, o capítulo destinado ao rock progressivo, com protagonismo natural para os Yes. Sabendo que Bill Martin já publicou dois livros nessa área, a inclusão daquelas informações revelam-se um tanto ou quanto inadequadas e desnecessárias. Mais para a frente, é de destacar a abertura a colectivos e artistas recentes como Stereolab, Mouse on Mars, Sonic Youth, Tortoise e Jim O’Rouke.

Apesar de tudo, é quase injustificável a falta de bandas como My Bloody Valentine e The Mekons, ou de artistas como Peter Laughner e Roky Erickson. Também estranhos, são os muitos erros históricos registados ao longo do livro (por exemplo, é dito a certa altura que o ex-Velvet Underground Sterling Morrison continua vivo quando, na realidade, morreu seis anos antes da publicação da obra), mas são de certa maneira justificados com uma escrita que cativa, e que embora não sendo da ordem da narração dos acontecimentos, é extensa e completa. Em suma, uma leitura que tenderá a fortalecer o conhecimento e o gosto pela música - do ouvinte mais desatento ao melómano mais afincado.
Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net

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