ETC.
LIVRO
I Just Wasn’t Made for These Times - Brian Wilson and the Making of Pet Sounds -
Charles L. Granata
· 25 Set 2003 · 08:00 ·

I Just Wasn’t Made for These Times - Brian Wilson and the Making of Pet Sounds -
Charles L. Granata
2003
Vinyl Frontier
Charles L. Granata
2003
Vinyl Frontier

I Just Wasn’t Made for These Times - Brian Wilson and the Making of Pet Sounds -
Charles L. Granata
2003
Vinyl Frontier
Charles L. Granata
2003
Vinyl Frontier
Naqueles anos em que o protest singing e folk-rock predominavam, o frágil, perturbado, megalómano perfeccionista e imensamente genial Brian Wilson prometeu que no seu próximo trabalho alcançaria o «maior álbum rock alguma vez feito». Quase quarenta anos depois, a certeza de se o conseguiu ou não, estará – como sempre está qualquer juízo de valor – confinada à opinião de cada um, mas o que é certo é que Pet Sounds é hoje um artefacto da cultura contemporânea com culto próprio e a tal devoção e reconhecimento (póstumo) a que Fernando Pessoa se referia como sendo estritamente necessário à identificação da presença inata e intransmissível do génio.
Pet Sounds é um álbum dissonante da época em que cronologicamente se insere, é-o ainda mais dos próprios Beach Boys à altura. Quando a orientação era a da canção como uma arma (na tradição daquela inscrição na guitarra de Woody Guthrie em que se podia ler: «This machine kills fascists»), quando os Beach Boys eram a única banda que se mostrava capaz de fazer frente aos invasores britânicos Beatles, recorrendo a complexos arranjos e harmonias vocais de inspiração em produção spectoriana, harmonias vocais à medida dos Everly Brothers ou Four Freshmen e assentando a temática das suas letras na sua quase exclusividade aos dias solarengos da Califórnia, à praia, ao surf e às paixões juvenis, Brian, ele um ser delicado e introspectivo, longe das lides do surf que pontificavam nas aventuras contadas em primeira-mão pelo – ele sim surfista – irmão Dennis (o único que sabia sequer nadar na banda!), apaixonado pela beleza e inovações estéticas e conceptuais patentes no álbum Rubber Soul, olhou para dentro e deixou-nos um álbum onde pontifica o íntimo, os sentimentos mais puros de insegurança e pureza, uma mensagem de optimismo ao mundo que um dia John Cale tão bem soube descrever como «um ideal de inocência e ingenuidade que ultrapassou a vida juvenil e culminou em canções de corpo inteiro. Adulto e criança ao mesmo tempo».
Charles Granata comete a proeza de um trabalho de investigação imaculado sobre tamanha obra. Da história dos Beach Boys ao trabalho de produção de Brian Wilson, que, enquanto os restantes membros da banda andavam em digressão, na companhia de Tony Asher – o letrista escolhido para dar corpo à elegia a Deus que Wilson ambicionava – fechado em estúdio se rodeou da “Wrecking Crew” e de um conjunto dos executantes de mais fina água criando, durante meses, as harmonias, melodias, orquestrações e arranjos instrumentais para assentarem nos instrumentos adicionais que constituíram as vozes de cada um dos regressados Beach Boys: Al Jardine, Carl Wilson, Bruce Johnston, Mike Love e Dennis Wilson. Estamos na presença de um trabalho de recolha primoroso, obsessivo mesmo, diga-se. Cada uma das músicas é analisada com um rigor ao mais ínfimo pormenor, o método de trabalho de concepção e produção é estritamente analisado, as condições técnicas, os papéis de cada um dos intervenientes minuciosamente analisados. Nada escapa ao escriba, que não se limita a terminar este trabalho épico na conclusão do álbum; ele avança para as histórias de abuso dos químicos, para a loucura e a esquizofrenia de Wilson, para a irregularidade dos registos posteriores, para o legado do álbum Pet Sounds.
Um grande trabalho de reconstituição, investigação e recolha sobre um álbum maior que a vida.
Nuno PereiraPet Sounds é um álbum dissonante da época em que cronologicamente se insere, é-o ainda mais dos próprios Beach Boys à altura. Quando a orientação era a da canção como uma arma (na tradição daquela inscrição na guitarra de Woody Guthrie em que se podia ler: «This machine kills fascists»), quando os Beach Boys eram a única banda que se mostrava capaz de fazer frente aos invasores britânicos Beatles, recorrendo a complexos arranjos e harmonias vocais de inspiração em produção spectoriana, harmonias vocais à medida dos Everly Brothers ou Four Freshmen e assentando a temática das suas letras na sua quase exclusividade aos dias solarengos da Califórnia, à praia, ao surf e às paixões juvenis, Brian, ele um ser delicado e introspectivo, longe das lides do surf que pontificavam nas aventuras contadas em primeira-mão pelo – ele sim surfista – irmão Dennis (o único que sabia sequer nadar na banda!), apaixonado pela beleza e inovações estéticas e conceptuais patentes no álbum Rubber Soul, olhou para dentro e deixou-nos um álbum onde pontifica o íntimo, os sentimentos mais puros de insegurança e pureza, uma mensagem de optimismo ao mundo que um dia John Cale tão bem soube descrever como «um ideal de inocência e ingenuidade que ultrapassou a vida juvenil e culminou em canções de corpo inteiro. Adulto e criança ao mesmo tempo».
Charles Granata comete a proeza de um trabalho de investigação imaculado sobre tamanha obra. Da história dos Beach Boys ao trabalho de produção de Brian Wilson, que, enquanto os restantes membros da banda andavam em digressão, na companhia de Tony Asher – o letrista escolhido para dar corpo à elegia a Deus que Wilson ambicionava – fechado em estúdio se rodeou da “Wrecking Crew” e de um conjunto dos executantes de mais fina água criando, durante meses, as harmonias, melodias, orquestrações e arranjos instrumentais para assentarem nos instrumentos adicionais que constituíram as vozes de cada um dos regressados Beach Boys: Al Jardine, Carl Wilson, Bruce Johnston, Mike Love e Dennis Wilson. Estamos na presença de um trabalho de recolha primoroso, obsessivo mesmo, diga-se. Cada uma das músicas é analisada com um rigor ao mais ínfimo pormenor, o método de trabalho de concepção e produção é estritamente analisado, as condições técnicas, os papéis de cada um dos intervenientes minuciosamente analisados. Nada escapa ao escriba, que não se limita a terminar este trabalho épico na conclusão do álbum; ele avança para as histórias de abuso dos químicos, para a loucura e a esquizofrenia de Wilson, para a irregularidade dos registos posteriores, para o legado do álbum Pet Sounds.
Um grande trabalho de reconstituição, investigação e recolha sobre um álbum maior que a vida.
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