Líder contestado por muitos depois da saída de Roger Waters, David Gilmour soube pegar nos comandos da máquina Pink Floyd apesar da polémica que se levantou depois do lançamento de The Final Cut. Os Pink Floyd sobreviveram à saída de Waters e continuaram uma existência que trouxe ao mundo dois discos: A Momentary Lapse of Reason e The Division Bell. Entretanto David Gilmour foi alimentando e cimentando uma carreira a solo que apesar de discreta lhe rendeu algum bom material para trazer ao vivo.

Gilmour sabe o que o público gosta. E o que o público gosta é de ver as canções dos Pink Floyd apresentadas com a magnificência e melomania dos últimos tempos do dirigível britânico. Saudosista, David Gilmour assina em Remember That Night - Live At The Royal Albert Hall uma película que não poderia ter sido concebida de outra forma: uma grande sala, um grande cenário, todas as luzes possíveis e imaginárias, milhares de pessoas e as canções dos Pink Floyd em grande tela. Aqui e ali, vai pontuando o set com canções suas a solo, na maioria inferiores às que assinou enquanto membro dos Floyd, mas que ajudam a construir um todo coerente e coeso. Remember That Night é uma viagem segura, sem surpresas, confortante.

Não parece haver aqui meio-termo. Quem for fã encontrará aqui tudo aquilo o que um admirador de Pink Floyd pode gostar; quem for detractor encontrará aqui todos os motivos e argumentos suficientes para fazer troça, para elaborar chalaças acerca da duração dos solos de guitarra de Gilmour. Mas uma coisa é certa: quando entramos neste DVD, estamos a pôr ouvidos e mão a alguma da música mais importante escrita nas últimas décadas – e isso não é um motivo menor. E este DVD tem uma fatia bem justa de sucesso.

A viagem é longa mas as paragens são mais demoradas em Dark side of the Moon e em Wish you were Here. De The Division Bell salta uma impressionante versão de “High hopes”, conhecida – e bem - pela sua melancolia e força. Mas porque este DVD duplo não é uma tirada de ocasião, pode-se testemunhar as contribuições surpresa de convidados como David Bowie, Robert Wyatt, David Crosby e Graham Nash. Aquilo que se pode ver em mais de 300 minutos de filme (entre concerto, documentários, vídeos musicais e outros extras) é tudo aquilo – e nada mais – que se espera de David Gilmour nos dias de hoje: que respeite o passado dos Pink Floyd enquanto lança ocasionalmente visões sebastianistas de um passado que não voltará nunca.