ETC.
LIVRO
No Wave
Marc Masters
· 12 Mar 2008 · 07:00 ·
No Wave
Marc Masters
2008
Black Dog Publishing
Marc Masters
2008
Black Dog Publishing
No Wave
Marc Masters
2008
Black Dog Publishing
Marc Masters
2008
Black Dog Publishing
Oportunidade para recordar ou ficar a conhecer a alternativa ao punk que, em finais da década de setenta, juntou uma sub-cultura de artistas.
O rock deixou-se estafar. Que o diga a confraria de artistas, provenientes na sua maioria das artes plásticas, que cuspiu na ordem estabelecida por géneros como o punk ou a new wave e se pautou por uma filosofia de rejeição, de não-pertença a um qualquer movimento. A ocorrência em questão remonta a finais da década de setenta e exerce um certo fascínio sobre aqueles que dele se aperceberam, mas não lograram compreender o seu fundamento. Para todos esses, mais outros estudiosos e curiosos em geral, este é um estudo válido das motivações, dos intervenientes, dos meios em que se desenvolveu esta teoria da conspiração, com a sugestiva denominação No Wave. Mesmo na origem do nome pelo qual ficaram conhecidos os músicos envolvidos nesta dinâmica, surgem outras tantas histórias, protagonistas e peripécias. São estas as premissas que servem de base a esta viagem por anos tendencialmente obscuros no que a novas vanguardas diz respeito, numa época em que as atenções estavam focalizadas na geração Sex Pistols. Mergulhar numa nova ordem subversiva e incatalogável é a proposta deste novo lançamento da editora Black Dog.
Não foi em terras de Sua Majestade, berço da revolução encabeçada por John Lydon (primeiro nos Pistols, depois nos PiL) que aconteceu o fenómeno No Wave. O seu epicentro foi, ao invés, detectado do outro lado do Atlântico numa Nova Iorque irreconhecível visualmente para quem hoje a idealiza como um paraíso terrestre. O terreno afecto ao punk estava aí igualmente implantado com os Ramones a canalizarem a atenção de massas. Contudo, Nova Iorque não estava destinada a ser palco de limitações estilísticas e o punk constituia apenas uma parcela do terreno reservado ao novo. O presente livro traça as origens, as causas e intenções da irreverência militante de alguns grupos empenhados em desconstruir todos os movimentos. Primeiro detendo-se na génese da expressão No Wave, o autor Marc Masters, explora a evolução desta atitude com testemunhos de protagonistas, fotografias, imagens de cartazes, e capas de discos. E coloca o enfoque no primeiro registo discográfico que terá marcado o seu arranque. No New York foi lançado em 1978 contendo quatro participações: The Contortion, Mars, Teenage Jesus and the Jerks e DNA. Na produção encontrava-se uma das figuras eminentes deste cenário, Brian Eno, ele que, britânico de origem, se assumia como um dos grandes contestatários ao panorama musical do seu país invadido pelo punk.
Ao longo das páginas, e à medida que o tema é contextualizado, sucedem-se os nomes dos intervenientes, com as suas curtas carreiras a serem esclarecedoramente comentadas, inclusive pelos próprios. E aí, surge uma outra questão, precisamente a do próprio conceito de “carreira”, que aqui é mal empregado, visto que para estes artistas a música não prossegue nenhuma intenção de ganho comercial. Nada se faz pelo dinheiro, como se apressam a salientar. E o que fazem afinal? Que música exploram? A resposta situa-se muito em torno da rejeição da técnica, técnica que vinha sendo o âmago da esfera rock. Para se pertencer a uma banda, dita rock, era necessário saber tocar um instrumento, algo que o punk veio revolucionar e a chamada No Wave veio ostracizar e mesmo escarnecer. As técnicas eram puramente primitivas, mas as suas intenções sofisticadas. As referências pousavam sobretudo em modelos como Richard Hell ou Patti Smith que, à época, eram a vanguarda, numa altura em que os locais de culto para se aceder a essas criações eram o CBGB’s e o Max’s Kansas City de Nova Iorque. Documentado com imagens, o livro mostra como a cidade, despida naquela altura de glamour e opulência, vivia uma época decadente, com as rendas das habitações a atingirem valores baixíssimos proporcionando a implantação de um núcleo de artistas que se movimentavam com à vontade, apesar de viverem com parcos recursos.
Não há como aflorar a tendência No Wave sem aludir a duas das suas figuras centrais: Lydia Lunch e James Chance. A primeira é líder dos seminais Teenage Jesus and the Jerks, e Chance, que também pertenceu aos Jerks é a cabeça dos The Contortions. A sua proeminência valeu-lhes um capítulo do livro que acompanha os seus percursos desde a adolescência até aos derradeiros suspiros da vaga. E se até aqui, a música foi a manifestação artística em questão, importa referir que também o cinema teve a sua quota parte no evoluir deste processo. Houve igualmente um Cinema No Wave, que também aqui é referido. A mesma lógica que ditava que um músico não necessitaria de saber tocar um instrumento para fazer a sua arte, permitiria àqueles que não estivessem familiarizados com as câmaras de filmar, fazer um filme. Apesar de se estender ao cinema, foi efectivamente o sector musical que mais sentiu esta fase. E as últimas páginas do livro são bastante reveladoras desse espólio de criação musical, ao apresentarem um inventário dos registos discográficos de então.
Fenómeno-relâmpago, crê-se que a No Wave tenha terminado com o fim dos DNA em 1982, perfazendo um total de quatro anos de existência. A sua extinção não se fez, no entanto, sem que dela tivesse resultado descendência. Em relação aos herdeiros, o livro invoca os exemplos de Sonic Youth, mas também dos Swans de Michael Gira, cujos preceitos vieram beber a estes tempos. Com estes exemplos fica bem assente que esta época mal explicada da história da música, tem de ser compreendida e encarada como uma profusão criativa, que abalou as regras do jogo musical e serviu de base a muita gente interessada em criar posteriormente novas cenas à margem do habitual. Este manual vem, com toda a pertinência, ajudar a preencher as lacunas informativas que povoam este período tão monopolizado pelo advento do punk. O autor, Marc Masters, colaborador da Pitchfork e da revista Wire, vê aqui bem sucedido o seu esforço de juntar as peças que compõem o puzzle da No Wave nova-iorquina.
Eugénia AzevedoNão foi em terras de Sua Majestade, berço da revolução encabeçada por John Lydon (primeiro nos Pistols, depois nos PiL) que aconteceu o fenómeno No Wave. O seu epicentro foi, ao invés, detectado do outro lado do Atlântico numa Nova Iorque irreconhecível visualmente para quem hoje a idealiza como um paraíso terrestre. O terreno afecto ao punk estava aí igualmente implantado com os Ramones a canalizarem a atenção de massas. Contudo, Nova Iorque não estava destinada a ser palco de limitações estilísticas e o punk constituia apenas uma parcela do terreno reservado ao novo. O presente livro traça as origens, as causas e intenções da irreverência militante de alguns grupos empenhados em desconstruir todos os movimentos. Primeiro detendo-se na génese da expressão No Wave, o autor Marc Masters, explora a evolução desta atitude com testemunhos de protagonistas, fotografias, imagens de cartazes, e capas de discos. E coloca o enfoque no primeiro registo discográfico que terá marcado o seu arranque. No New York foi lançado em 1978 contendo quatro participações: The Contortion, Mars, Teenage Jesus and the Jerks e DNA. Na produção encontrava-se uma das figuras eminentes deste cenário, Brian Eno, ele que, britânico de origem, se assumia como um dos grandes contestatários ao panorama musical do seu país invadido pelo punk.
Ao longo das páginas, e à medida que o tema é contextualizado, sucedem-se os nomes dos intervenientes, com as suas curtas carreiras a serem esclarecedoramente comentadas, inclusive pelos próprios. E aí, surge uma outra questão, precisamente a do próprio conceito de “carreira”, que aqui é mal empregado, visto que para estes artistas a música não prossegue nenhuma intenção de ganho comercial. Nada se faz pelo dinheiro, como se apressam a salientar. E o que fazem afinal? Que música exploram? A resposta situa-se muito em torno da rejeição da técnica, técnica que vinha sendo o âmago da esfera rock. Para se pertencer a uma banda, dita rock, era necessário saber tocar um instrumento, algo que o punk veio revolucionar e a chamada No Wave veio ostracizar e mesmo escarnecer. As técnicas eram puramente primitivas, mas as suas intenções sofisticadas. As referências pousavam sobretudo em modelos como Richard Hell ou Patti Smith que, à época, eram a vanguarda, numa altura em que os locais de culto para se aceder a essas criações eram o CBGB’s e o Max’s Kansas City de Nova Iorque. Documentado com imagens, o livro mostra como a cidade, despida naquela altura de glamour e opulência, vivia uma época decadente, com as rendas das habitações a atingirem valores baixíssimos proporcionando a implantação de um núcleo de artistas que se movimentavam com à vontade, apesar de viverem com parcos recursos.
Não há como aflorar a tendência No Wave sem aludir a duas das suas figuras centrais: Lydia Lunch e James Chance. A primeira é líder dos seminais Teenage Jesus and the Jerks, e Chance, que também pertenceu aos Jerks é a cabeça dos The Contortions. A sua proeminência valeu-lhes um capítulo do livro que acompanha os seus percursos desde a adolescência até aos derradeiros suspiros da vaga. E se até aqui, a música foi a manifestação artística em questão, importa referir que também o cinema teve a sua quota parte no evoluir deste processo. Houve igualmente um Cinema No Wave, que também aqui é referido. A mesma lógica que ditava que um músico não necessitaria de saber tocar um instrumento para fazer a sua arte, permitiria àqueles que não estivessem familiarizados com as câmaras de filmar, fazer um filme. Apesar de se estender ao cinema, foi efectivamente o sector musical que mais sentiu esta fase. E as últimas páginas do livro são bastante reveladoras desse espólio de criação musical, ao apresentarem um inventário dos registos discográficos de então.
Fenómeno-relâmpago, crê-se que a No Wave tenha terminado com o fim dos DNA em 1982, perfazendo um total de quatro anos de existência. A sua extinção não se fez, no entanto, sem que dela tivesse resultado descendência. Em relação aos herdeiros, o livro invoca os exemplos de Sonic Youth, mas também dos Swans de Michael Gira, cujos preceitos vieram beber a estes tempos. Com estes exemplos fica bem assente que esta época mal explicada da história da música, tem de ser compreendida e encarada como uma profusão criativa, que abalou as regras do jogo musical e serviu de base a muita gente interessada em criar posteriormente novas cenas à margem do habitual. Este manual vem, com toda a pertinência, ajudar a preencher as lacunas informativas que povoam este período tão monopolizado pelo advento do punk. O autor, Marc Masters, colaborador da Pitchfork e da revista Wire, vê aqui bem sucedido o seu esforço de juntar as peças que compõem o puzzle da No Wave nova-iorquina.
eugeniaazevedo@bodyspace.net
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