ETC.
DVD
Multiple Otomo
Otomo Yoshihide
· 21 Mai 2007 · 08:00 ·
Multiple Otomo
Otomo Yoshihide
2007
Asphodel
Multiple Otomo
Otomo Yoshihide
2007
Asphodel
O extraordinário explorador japonês regressa com uma bíblia “noise” multimédia.
2006 foi o ano da consagração. A edição do disco Live In Lisbon, gravação do concerto do Otomo New Jazz Quintet no Jazz Em Agosto 2004, deu a Otomo Yoshihide atenção mediática e canonizou-o entre a comunidade jazzística (foi o disco do ano para a revista Jazz.pt, por exemplo). Mas Otomo é muito mais do que bandleader de um grupo (free)jazzista. Para lá dos grupos New Jazz (Orchestra / Ensemble / Quintet), Yoshihide é um guitarrista e “gira-disquista” de excepção que trabalha a experimentação nas fronteiras do noise. Inspirado por Derek Bailey, aluno de Masayuki Takayanagi, Otomo Yoshihide nunca se deixou ficar colado exclusivamente a um género e desenvolve trabalhos em diferentes áreas. Por exemplo, o concerto de guitarra solo que deu na loja Trem Azul (um devastador atentado sónico), foi quase o oposto da abordagem de “turntablism” textural integrado no ROVA/Orkestrova.

Este projecto Multiple Otomo foca-se maioritariamente na faceta da experimentação através do gira-discos e nos processos de construção sonoros em forma de “noise”. Se no cd encontramos apenas temas exclusivos de Otomo a solo, no dvd encontramos vídeos a mostrar o processo de construção dos temas. A responsabilidade dos vídeos é de Masako Tanaka, Tim Digulla e Michelle Silva e - com mais ou menos tratamentos visuais - cada vídeo mostra a forma como Otomo elabora cada música, a forma como utiliza o gira discos (ou, pontualmente, a guitarra) e como arranca dos instrumentos os sons que se transformam em música.

Se Otomo maltrata os discos de vinil e os gira-discos, acrescentando-lhe acessórios improváveis, ou atacando os instrumentos com violência, a consequência sonora é o resultado natural da abordagem, originando uma música textural a rasar a agressividade. Subvertendo a técnica de deejaying tradicional, abusando do scratch, riscando os discos, a música de Otomo Yoshihide é inovadora ao mesmo tempo que perfilha a influência do trabalho de Christian Marclay (pioneiro com quem Otomo já colaborou).

Este documento duplo, edição Ashphodel, para além de valer enquanto objecto artístico por mérito próprio, funciona também como guia. Para quem se queira iniciar na exploração “gira-disquista” menos convencional, desrespeitando os cânones da “técnica oficial”, este será um manual obrigatório, onde se poderá roubar ideias e metodologias. Para além de multi-instrumentista, compositor e bandleader, acrescenta-se agora a faceta de pedagogo ao curriculum de Otomo. Nada mal, para quem é um dos mais criativos músicos do nosso tempo.
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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