ETC.
DVD
A.R.C.
Tied & Tickled Trio
· 09 Out 2006 · 08:00 ·
A.R.C.
Tied & Tickled Trio
2006
Morr Music
A.R.C.
Tied & Tickled Trio
2006
Morr Music
Atados à obrigação de preencherem um DVD retrospectivo, o Tied & Tickled Trio "arranca a ferros" as escassas cócegas capaz de provocar no interesse.
É enganador o nome que adoptou o Tied & Tickled Trio para representar um colectivo que ultrupassa os três membros e cuja formação sofre regulares mutações, sem que se desintegre o núcleo criativo composto por Markus Acher e Micha Archer que, em paralelo aos Notwist, decidiram embarcar nesta aventura que partiu de um mais presente cariz jazz, mas que foi desenvolvido uma personalidade própria. Essa que, actualmente, se encontra espalhada por uma série de discos, remisturas, vários lançamentos de menor porte e uma sólida reputação ao vivo, principalmente a nível interno (em território alemão). Em conjunto com o suporte CD, que conta com a faixa “A.R.C.”, foi lançado um DVD retrospectivo que, apesar de não ser plenamente justificado, cumpre enquanto sumário do percurso do Tied & Tickled Trio, representado aqui em três divisões distintas: um concerto captado em Munique em Abril de 2004, uma série de telediscos e as cada vez mais aproveitadas aparições televisivas.

Enquanto peça central do DVD dedicado ao TTT, o concerto gravado em Munique teria de compensar pela fragilidade do conteúdo que lhe é periférico. E consegue-o, sem deixar ninguém a palitar os dentes ou a salivar por aditamentos à sua hora de duração. Quando em palco se encontram nove instrumentistas, o nome Tied & Tickled Trio passa a ser um eufemismo. A secção de sopro vai entrando e saindo de cena à medida que vão desfilando uma série de exercícios onde surge uma muito mais presente componente orgânica que podia ser facilmente emulada digitalmente. Nesse aspecto, sai honrado o colectivo - faz por ser auto-suficiente. Há comedido humor alemão, uma “Tamaghis” em modo exótico dubwise, precursão a acentuar um tom mais lounge e, por parte de quem filmam, uma realização incansavelmente diversificada nos ângulos e métodos que explora. Com incursões por um VHS cheio de glitch, a perspectiva das câmaras de vigilância de um espaço nocturno e a visão térmica do monstro Predador.

Muito pior será mesmo a modesta selecção de telediscos, que não aparentam muito mais valor que o puramente documental. Todos eles afectados pelo factor que arruinou em tempos o triunfo dos Pixies no campeonato MTV: ideias de considerável potencial atraiçoadas por fracas execuções práticas. Assim, a emblematicamente representativa “Tudovska Dub” indaga por uma recuperação desembaraçadamente camp do universo Star Treck, com a diferença de a estes exploradores agradar a espécie feminina a que sequestram algumas unidades para posterior análise na nave espacial de papelão. Pois, a coisa parece ter sido filmada por 200 marcos alemães, mas há um qualquer valor Ray Harryhausen em tudo isto. Há também gore para apreciadores. Em rota descendente, “Revolution” é mais um daqueles exercícios estéticos que falha por flagrante falta de meios de produção. Imagine-se o que faria Andy Warhol se tivesse sido obrigado a filmar para a audiência do canal Baby TV um spot que ilustrasse a conversão de ícones revolucionários em consumíveis pop dispostos numa prateleira de supermercado. Pior, “Revolution” enquanto música é apenas um esboço grosseiro do que poderia ser. Tal como “Yolanda” poderia ser um objecto visualmente interessante se não parecesse ter sido concebido em cima do joelho. Assim, limita-se a um mosaico voyeurístico que explora as cores e contrastes da fachada de um prédio. Tal como os outros, é apontamento de bolso para preencher buracos na programação nocturna do canal alemão Viva Zwei.

As sobras de A.R.C. surgem sob a forma das tais aparições televisivas, excertos recuperados a sessões em estúdio e a concertos mais obscuros. “Tudovska Dub” soa impressionantemente datada numa rendição ao vivo para um canal local berlinense – desenquadrados, os membros do TTT entretêm-se com o teclado Korg com mais plug-ins que teclas e com um regulador de pressão que não se percebe ao certo para que servirá. A ocasião convence muito mais musicalmente do que propriamente como combinado audio-visual. A falta de pontaria não se fica por aí e extende-se a porça de concerto em Istambul. Ao que parece, as noites de Istambul são noites de jazz alinhadinho, por contraste ao rock n’ roll de Budapeste. Saxofone aqui, bateria imponente ali, mas nada que sobre para atestar a validade deste DVD que bem se podia ter ficado pelo concerto que apresenta.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

Parceiros