ENTREVISTAS
Fujiya & Miyagi
Aviso: Não sobrevalorizar a popularidade
· 24 Nov 2011 · 00:50 ·

Músicas como a “Sixteen Shades Of Black And Blue” parecem estar à distância de uma “grande produção” para serem hits de estádio em potência. Como se sentiriam se uma banda como, por exemplo, os Depeche Mode, pegasse numa das vossas canções e a tornasse um hino de milhões? O que fariam com o dinheiro?
Gostava de ouvir outra banda fazer uma cover de uma das nossas canções. Pelo que sei, nunca aconteceu. Gostava de as ouvir cantadas como deve ser. Mas acho bastante improvável que um grupo com mais êxito o faça. Eu comprava uma casa, e depois, se sobrasse algum dinheiro, comprava montes e montes de discos.
Ventriloquizzing parece ser um disco onde usaram um som “maior”, especialmente com um uso mais proeminente do orgão. Houve a tentação de continuar a adicionar sons, ou estavam decididos a usar esta palete sonora desde o começo?
Tem mais camadas, definitivamente, mas acho que ainda estamos a uma longa distância de fazermos hinos. Não sou um grande fã desse tipo de música. Parece querer apaparicar aquelas pessoas que precisam de pertencer e ser parte de algo maior que elas. Gosto de pensar que os nossos discos são para indivíduos em vez de uma multidão. As nossas vendas indicam que esse é o caso. Tomámos uma decisão de mudar a forma como escrevemos e gravámos o Ventriloquizzing. Tínhamos feito um disco muito minimalista com o Lightbulbs e não sentimos necessidade de o voltar a fazer. O Solina String Ensemble (sintetizador) tem uma presença forte no disco. É o som que define o disco, para mim. O Thom (Monahan, produtor) tem um no seu estúdio em LA.
Na “Minestrone” há partes, em que é só o orgão e a bateria, que me fazem lembrar bocados do Endtroducing do DJ Shadow. Vêm-se a vocês mesmo a criar pedaços de música que em dias futuros serão descobertos e usados por “beatmakers” e “samplers” para novos fins?
Estávamos a tentar soar como o Miles Davis! Sim, não tenho problema em que sejamos samplados, desde que sejamos creditados. Na verdade, ficaria bastante agradado. Acho que a nossa música é propícia ao sampling. Há vários mash-ups na internet de nós com músicas de r&b e hip-hop. Acho que a música deve ser re-usada e reciclada. É melhor do que ser esquecida.
A “Tinsel & Glitter” é provavelmente a canção mais “rockeira” que já fizeram. Tem tido alguma reacção especial quando a tocam ao vivo?
Bom, essa é uma canção que não acho que acertámos como devia ser no “Ventriloquizzing. Foi uma das últimas que escrevemos, e devíamos tê-la tocado ao vivo, já que a versão ao vivo funciona muito melhor. Tem de facto tido uma boa reacção, e é também a mais agradável de tocar. Provavelmente acabará por ser a ligação entre agora e as nossas canções futuras.
Sinto nos vossos discos uma mistura entre intimidade, com as vozes semi-sussurradas, e extroversão com o groove sempre presente. É algo que tentam alcançar? Há algo lado da vossa música que gostavam que fosse mais notado pelo vosso público?
Estamos todos interessados no ritmo das canções, provavelmente mais que a melodia. Quando vês pessoas dançar a tua música é muito recompensador. Sempre gostei de música que faz o corpo mexer e o cérebro pensar em outra coisa completamente diferente. Talvez seja isso que ouves quando sugeres que há uma mistura de intimidade e extroversão. É melhor ter duas dimensões do que uma. No próximo disco teremos que pensar em formas de ter três. Esperamos que o nosso público continue a ouvir o Ventriloquizzing nos anos vindouros. Há lá muita coisa escondida, muito mais que nos outros discos.
Estão presentes no Facebook, Last.FM, MySpace e Soundcloud, e também oferecem diferentes “mixes” no vosso site. Sentem que as opções proporcionadas pela internet ajudaram-vos a atingir mais do que teriam conseguido de outra maneira? Quão importante para vocês fazer chegar nova música de forma regular aos vossos fãs?
Apesar da internet ter obviamente feito com que fôssemos mais conhecidos, acho que estaríamos melhor se tivéssemos existido antes que existisse. A música perdeu o mistério, e a alegria de encontrares o disco que querias numa loja existe cada vez menos, porque podes sacá-lo de graça. O ouvinte não gasta o mesmo tempo num disco que não precisou de nenhum esforço ou custo para obter. Alguns dos meus discos favoritos levaram tempo a absorver quando era mais novo. Discos como Future Days dos Can, ou Rock Bottom do Robert Wyatt, não são discos imediatos, mais quanto mais ouves, mais retiras deles. Apesar disso, gosto da ideia do derrubar de barreiras entre artista e ouvinte. Esse é um aspecto muito salutar da internet.
Apesar de ter a tendência de ver as vossas letras mais como um instrumento que ajuda ao groove total das canções, também as vejo como estando muito longe de serem ocas. Diriam que tentam atingir um compromisso entre essas duas facetas?
Desde ao Lightbulbs ao Ventriloquizzing fui bastante influenciado por r&b dos 50s e soul music dos 60s nas letras. Ambos os géneros usavam idiomas e frases do dia-a-dia como ganchos nas músicas. Talvez por a nossa música não ser soul não funcionou tão bem como esperava, e pelas poucas críticas que leio, foram consideradas simplistas ou cliches. Por causa do meu alcance vocal limitado, tenho que passar mais tempo que um cantor convencional a fazer as palavras encaixar na música. Estico muito as sílabas, e suponho que isso possa irritar alguns ouvintes, mas também acho que nos distingue. Prefiro ser distinguível e correr o risco de não gostarem de mim do que ser popular e vazio.
Vou passar ao lado da questão das “influências” com uma pequena guinada. Se tivessem que agradecer a três pessoas externas pela existência da vossa banda, quem escolheriam?
Musicalmente, seriam os Can, o Serge Gainsbourg, e os Sly & The Family Stone. O Serge pela sua voz, o Sly pelas linhas de baixo, e os Can por desenharem o mapa das possibilidades musicais. A um nível pessoal, a nossa manager, Martine, tem sido fantástica. Acho que não teríamos aguentado a banda como ocupação a tempo inteiro tanto tempo sem a ajuda dela.
Ainda vos confundem com uma banda alemã ou japonesa ou de dois elementos muitas vezes? O vosso público já sabe o que espera quando compra bilhetes para vos ver?
Quanto mais tempo duramos, menos pessoas pensam que somos japoneses, alemães ou um duo. Ainda aparece de vez em quando mesmo assim. Somos provavelmente mais dinâmicos e imediatos ao vivo do que em disco. Imagino que haja a tentação de tocar os nossos discos baixo, mas eles precisam realmente de ser ouvidos alto. Faz mais sentido dessa forma.
Nuno ProençaGostava de ouvir outra banda fazer uma cover de uma das nossas canções. Pelo que sei, nunca aconteceu. Gostava de as ouvir cantadas como deve ser. Mas acho bastante improvável que um grupo com mais êxito o faça. Eu comprava uma casa, e depois, se sobrasse algum dinheiro, comprava montes e montes de discos.
Ventriloquizzing parece ser um disco onde usaram um som “maior”, especialmente com um uso mais proeminente do orgão. Houve a tentação de continuar a adicionar sons, ou estavam decididos a usar esta palete sonora desde o começo?
Tem mais camadas, definitivamente, mas acho que ainda estamos a uma longa distância de fazermos hinos. Não sou um grande fã desse tipo de música. Parece querer apaparicar aquelas pessoas que precisam de pertencer e ser parte de algo maior que elas. Gosto de pensar que os nossos discos são para indivíduos em vez de uma multidão. As nossas vendas indicam que esse é o caso. Tomámos uma decisão de mudar a forma como escrevemos e gravámos o Ventriloquizzing. Tínhamos feito um disco muito minimalista com o Lightbulbs e não sentimos necessidade de o voltar a fazer. O Solina String Ensemble (sintetizador) tem uma presença forte no disco. É o som que define o disco, para mim. O Thom (Monahan, produtor) tem um no seu estúdio em LA.
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Na “Minestrone” há partes, em que é só o orgão e a bateria, que me fazem lembrar bocados do Endtroducing do DJ Shadow. Vêm-se a vocês mesmo a criar pedaços de música que em dias futuros serão descobertos e usados por “beatmakers” e “samplers” para novos fins?
Estávamos a tentar soar como o Miles Davis! Sim, não tenho problema em que sejamos samplados, desde que sejamos creditados. Na verdade, ficaria bastante agradado. Acho que a nossa música é propícia ao sampling. Há vários mash-ups na internet de nós com músicas de r&b e hip-hop. Acho que a música deve ser re-usada e reciclada. É melhor do que ser esquecida.
A “Tinsel & Glitter” é provavelmente a canção mais “rockeira” que já fizeram. Tem tido alguma reacção especial quando a tocam ao vivo?
Bom, essa é uma canção que não acho que acertámos como devia ser no “Ventriloquizzing. Foi uma das últimas que escrevemos, e devíamos tê-la tocado ao vivo, já que a versão ao vivo funciona muito melhor. Tem de facto tido uma boa reacção, e é também a mais agradável de tocar. Provavelmente acabará por ser a ligação entre agora e as nossas canções futuras.
Sinto nos vossos discos uma mistura entre intimidade, com as vozes semi-sussurradas, e extroversão com o groove sempre presente. É algo que tentam alcançar? Há algo lado da vossa música que gostavam que fosse mais notado pelo vosso público?
Estamos todos interessados no ritmo das canções, provavelmente mais que a melodia. Quando vês pessoas dançar a tua música é muito recompensador. Sempre gostei de música que faz o corpo mexer e o cérebro pensar em outra coisa completamente diferente. Talvez seja isso que ouves quando sugeres que há uma mistura de intimidade e extroversão. É melhor ter duas dimensões do que uma. No próximo disco teremos que pensar em formas de ter três. Esperamos que o nosso público continue a ouvir o Ventriloquizzing nos anos vindouros. Há lá muita coisa escondida, muito mais que nos outros discos.
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Estão presentes no Facebook, Last.FM, MySpace e Soundcloud, e também oferecem diferentes “mixes” no vosso site. Sentem que as opções proporcionadas pela internet ajudaram-vos a atingir mais do que teriam conseguido de outra maneira? Quão importante para vocês fazer chegar nova música de forma regular aos vossos fãs?
Apesar da internet ter obviamente feito com que fôssemos mais conhecidos, acho que estaríamos melhor se tivéssemos existido antes que existisse. A música perdeu o mistério, e a alegria de encontrares o disco que querias numa loja existe cada vez menos, porque podes sacá-lo de graça. O ouvinte não gasta o mesmo tempo num disco que não precisou de nenhum esforço ou custo para obter. Alguns dos meus discos favoritos levaram tempo a absorver quando era mais novo. Discos como Future Days dos Can, ou Rock Bottom do Robert Wyatt, não são discos imediatos, mais quanto mais ouves, mais retiras deles. Apesar disso, gosto da ideia do derrubar de barreiras entre artista e ouvinte. Esse é um aspecto muito salutar da internet.
Apesar de ter a tendência de ver as vossas letras mais como um instrumento que ajuda ao groove total das canções, também as vejo como estando muito longe de serem ocas. Diriam que tentam atingir um compromisso entre essas duas facetas?
Desde ao Lightbulbs ao Ventriloquizzing fui bastante influenciado por r&b dos 50s e soul music dos 60s nas letras. Ambos os géneros usavam idiomas e frases do dia-a-dia como ganchos nas músicas. Talvez por a nossa música não ser soul não funcionou tão bem como esperava, e pelas poucas críticas que leio, foram consideradas simplistas ou cliches. Por causa do meu alcance vocal limitado, tenho que passar mais tempo que um cantor convencional a fazer as palavras encaixar na música. Estico muito as sílabas, e suponho que isso possa irritar alguns ouvintes, mas também acho que nos distingue. Prefiro ser distinguível e correr o risco de não gostarem de mim do que ser popular e vazio.
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Vou passar ao lado da questão das “influências” com uma pequena guinada. Se tivessem que agradecer a três pessoas externas pela existência da vossa banda, quem escolheriam?
Musicalmente, seriam os Can, o Serge Gainsbourg, e os Sly & The Family Stone. O Serge pela sua voz, o Sly pelas linhas de baixo, e os Can por desenharem o mapa das possibilidades musicais. A um nível pessoal, a nossa manager, Martine, tem sido fantástica. Acho que não teríamos aguentado a banda como ocupação a tempo inteiro tanto tempo sem a ajuda dela.
Ainda vos confundem com uma banda alemã ou japonesa ou de dois elementos muitas vezes? O vosso público já sabe o que espera quando compra bilhetes para vos ver?
Quanto mais tempo duramos, menos pessoas pensam que somos japoneses, alemães ou um duo. Ainda aparece de vez em quando mesmo assim. Somos provavelmente mais dinâmicos e imediatos ao vivo do que em disco. Imagino que haja a tentação de tocar os nossos discos baixo, mas eles precisam realmente de ser ouvidos alto. Faz mais sentido dessa forma.
nunoproenca@gmail.com
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