ENTREVISTAS
PURPLE
Camaleão, de que cor?
· 19 Mai 2011 · 00:46 ·
Entre o Porto, Barcelona e Berlim, Luís Dourado, senhor Labrador e parte metade dos Nimai (em coma auto-induzido), construiu a sua nova persona musical e encontrou para ela uma nova casa, a Terrain Ahead, a editora que fundou com outros exploradores electrónicos da Invicta. Chamou-lhe PURPLE, é uma espécie de mergulho nas áreas menos luminosas da sua consciência, próximo passo do seu crescimento no trabalho de electrónicas várias e por não caber em nenhum dos seus projectos anteriores teve direito a nova pele. Porque às vezes uma mudança de planos musicais é como nascer de novo. Numa entrevista que abre as portas do seu novo reino, Luís Dourado explica como se muda de pele para se chegar a PURPLE e antecipa a saída do primeiro EP desta sua nova existência.
Depois de Labrador, e outros projectos, tens agora Purple. Sempre que mudas de estilo gostas de mudar de roupa?

Gosto de manter essa relação com a música, descomprometida... Experimentar várias coisas, se tiver que ter alguns "aka" assim seja. Com Labrador já só produzo mesmo techno ou algo que caminhe sempre nessa direcção, e agora PURPLE. Acho que para já me chega. Quanto à roupa, gosto de mudar diariamente. [risos]

Dizes que este lançamento de Purple é muito negro. De onde chegou essa inspiração?

Acho que sempre me interessou mais a música "escura", independentemente do estilo ou género musical. Mesmo no techno e house sempre preferi o mais sujo, mais industrial. Em PURPLE a coisa fluiu muito naturalmente. Depois do meu primeiro tema "Feels Strange But Feels Good" tudo se tornou mais ou menos clara e aquilo que queria explorar também. O EP a sair brevemente é negro e espacial sim, a inspiração não sei de onde veio mas sem dúvida Berlim teve a sua "mão".


Há muito de Berlim neste disco?

Já não há tanto quanto isso, apesar de ter começado a produzir sob o alias de PURPLE em Berlim em Dezembro do ano passado. Acho que se nunca tivesse passado o inverno anterior lá nunca teria começado a produzir estes temas, pelo menos não desta forma. Tenho de agradecer aos -20 graus negativos, à neve e à falta de sol.

Viver entre Barcelona, Porto e Berlim, em que percentagem é que tudo isto influencia o teu trabalho?

Acho que todas as cidades te estimulam de formas muito diferentes e na situação em que me encontro quero aproveitar o máximo que delas possa retirar. Apesar de nesta altura andar a saltar entre três, as linhas do meu trabalho estão mais ou menos definidas e acho que não interfere de uma forma directa o resultado final. Mas claro que de aquilo que "recebo" estando no Porto ou em Barcelona é diferente e dá-me ideias novas e isso de alguma forma, ainda que superficial se reflecte naquilo que faço.

Estás envolvido numa nova plataforma/editora criada recentemente. Quais são os objectivos desse novo selo?

É uma editora chamada Terrain Ahead, criada por mim em conjunto com o Tiago Carneiro e com o Ivo Pacheco. Inicialmente a ideia era mesmo ter um "selo" que de alguma forma unisse o nosso trabalho e ajudasse a divulga-lo e acho que de uma forma geral o nosso objectivo é esse. De qualquer das formas é um espaço aberto, não queremos ser uma editora fechada nela mesma e queremos procurar espaços em comum com produtores, artistas, etc...

Fala-nos um pouco dos projectos que fazem parte da editora neste momento…

Neste momento estamos mais concentrados nas edições, temos imenso material ainda dentro do estúdio, estamos a calibrar as armas para os primeiros tiros. Entretanto temos apresentado algumas coisas ao vivo, já fizemos PURPLE no Porto e Barcelona, ISKY, Baliac, Klar... Perceber o nosso espaço de alguma forma. Agora estamos fechados em estúdio a pôr tudo no seu lugar, para avançar oficialmente com as primeiras edições.


Achas que o Porto tem mais para mostrar do que o que parece?

Sem dúvida que o Porto sempre teve e sempre terá mais para mostrar do que aquilo que parece. Acho que aos poucos o Porto tem menos medo de se revelar, de mostrar aquilo que por aqui se passa. Acho que daqui para a frente vai ser sempre a subir. Tenho ouvido imensa coisa nova de alguns produtores bem novos e com um trabalho incrível e extremamente consistente. "Diamantes em bruto".

Estás envolvido de certa forma com a plataforma Norte Forte, que se tem apresentado no Plano B nos últimos tempos. Como é que funciona?

O Norte Forte é uma plataforma que busca divulgar trabalho feito por produtores e músicos do norte do país. É um grupo completamente aberto, residente no Soundcloud e todos aqueles que fazem música e a quiserem partilhar poderão integrar o projecto sem qualquer barreira. Creio que a ideia é mesmo a que o nome espelha, de dar força aquilo que aqui se faz, tentar criar pontos de ligação entre quem aqui faz música.

O que é que tens ouvido nos últimos tempos que tenha prendido a tua acção?

Fabric 55 do Shackleton sem dúvida.

Grande parte do teu trabalho é na ilustração. Sentes que essa parte do teu trabalho puxa a música e vice-versa? Achas que se cruzam e abrem novas portas mutuamente?

Acho que existem pontos de contacto entre o meu trabalho nas duas áreas. Mas ainda assim a Ilustração e Arte Visual são as áreas nas quais aplico quase todo o meu tempo, a música vem como algo paralelo. De qualquer das formas há pontos de contacto, em ambas as áreas estou interessado em explorar espaços escuros, "dreamy" ou meio "trippy" até, é algo tão pessoal que acaba por estar relacionado duma forma mais ou menos óbvia.

Nimai é para voltar um dia ou está nos segredos dos deuses?

É possível claro, passamos umas boas temporadas com Nimai. O Zé agora tem o projecto a solo de blac koyote e eu tenho Labrador e PURPLE que já me requerem tempo q.b. Pode ser que um dia destes nos apanhemos ambos sem muito para fazer e nos apeteça ligar os synths todos outra vez.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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