ENTREVISTAS
Dear Telephone
Telefonofilia
· 02 Mai 2011 · 20:27 ·
Como nasceu este projecto?
De um modo espontâneo e imediato. Conhecíamo-nos há bastante tempo, pessoal e artisticamente, tínhamos colaborado pontualmente em várias ocasiões e partilhávamos a vontade de dar corpo a um projecto em que houvesse bastante espaço para os instrumentos de cada um, numa perspectiva de depuração e frugalidade. Quando iniciamos o processo de composição pusemos na agenda a intenção de fazer canções, duras, cínicas e descomplicadas. Seguimos para estúdio com a ideia de fazer um registo informal, mas acabámos com um disco nas mãos.
Quais são as vossas influências, especialmente as influências comuns a todos os membros da banda?
Fomos descobrindo uma costela anglófila comum a todos e que acabou por contaminar o EP. Partilhamos bastantes influências do cinema à literatura (Greenaway, Mike Leigh, Len Lye ou Todd Haynes, Wolf, Wilde, David Lodge), partilhamos o fascínio pela cultura popular, pelo quotidiano, o lixo televisivo, os Velvet Underground, o melodrama de bolso. E obviamente, o disco póstumo do Arthur Russell - Love is overtaking me - de onde raptamos a versão que segue no disco, "Close my eyes".
Porquê a escolha do nome "Dear Telephone", uma referência a uma curta metragem de Peter Greenaway?
O nome é quase "self-explanatory". O filme aborda, de uma maneira muito conceptual e formalmente austera, a ideia da incomunicação. Dear Telephone remete para a solidão e o vazio, de alguém longe do mundo que encontra no telefone um meio possível de se relacionar com ele, um intermediário. Ao mesmo tempo evoca o imaginário das sitcoms ligeiras sobre o quotidiano e os telefonemas animados entre velhotas desocupadas ou adolescentes apaixonados.
Os músicos têm ligações a projectos como The Astonishing Urbana Fall, La la la Ressonance, Peixe:Avião, Old Jerusalem, Green Machine ou Kafka. O que retiraram de todas estas experiências para este projecto?
Vemos Dear Telephone quase como a antítese do carácter mais expressionista e experimental dos projectos que referes. Tentamos partir da maturidade que os projectos a que estamos ou estivemos ligados nos deu, para construir um universo deliberadamente mais árido, lunar e cirúrgico. E por outro lado, mais familiar, mais literário e irónico.
Editaram o vosso EP de estreia, Birth of a Robot, através da PAD. O que representa para vocês esta edição?
É o ponto alfa, o início. A banda nasce com o disco. E vice-versa.
O EP foi editado através da PAD, que tem no catálogo bandas como os Peixe:Avião, Old Jerusalem ou The Astroboy. Como aconteceu a ligação à editora? Sentem afinidades estéticas com os outros projectos do catálogo?
A estrutura da PAD interessou-se pelos primeiros registos que saíam do estúdio e desde cedo estabelecemos a vontade de trabalhar juntos. A maior parte dos músicos que pertence ao catálogo da editora já se relacionava, de algum modo, antes do nascimento da PAD, o que facilitou o processo. Não há nenhuma afinidade estética muito evidente entre as bandas do catálogo da PAD. É uma lista eclética, diversa, que abdica de um manifesto estético ou linha editorial circunscrita a um estilo ou modo de fazer música, para se centrar nas sinergias entre os músicos e na qualidade do trabalho que apresentam.
Têm planos para a edição de um álbum?
Depois do lançamento do EP concentramo-nos na procura de uma identidade live. Uma longa duração não é uma prioridade no curto prazo.
Pelo facto de contarem com duas vozes, masculina e feminina, já vos compararam com a histórica dupla Lee Hazelwood e Nancy Sinatra. Como reagem a estas comparações?
Essa em particular é bastante lisonjeira. Até porque procuramos, em certo sentido, recuperar um tipo de atitude em que eles foram pródigos: enquanto cantam vão saltando do papel de contador para personagem da história, num ping-pong, ora musical, ora narrativo.
Já tocaram em Braga, Lisboa, Coimbra e Guimarães. Como têm sentido as primeiras experiências ao vivo?
Com surpresa, ansiedade e fascínio. É como atravessares a Town no teu cavalo treinado, que conheces como a palma da mão, e deixares o animal a descansar no bebedouro junto ao salloon. Daí segues para o rodeo, montas um cavalo nervoso que nunca viste, concentras-te tanto em domá-lo que só percebes que estás na arena quando a poeira assenta e o teu cérebro troca o ruído da respiração pelo dos aplausos.
Vocês existem entre Barcelos e Braga. Como sentem o panorama pop/rock no Minho?
Desde meados dos anos 80 que o Minho produz, tal como Lisboa ou Porto, consistentemente, cada vez mais música. Com mais condições, mais estruturas a promover e a apoiar a produção musical. Barcelos e Braga são bons exemplos disso. Neste momento em particular isso sente-se claramente.
Quais são os objectivos da banda?
Genericamente, são os mesmos de quase todas as bandas. Crescer, ganhar consistência, editar, tocar, etc. Para cada um de nós, Dear Telephone funcionou como a oportunidade de dar corpo a alguns princípios e vontades estéticas que não cabem nos projectos de onde derivamos. Entretanto o projecto vai ganhando maturidade e espaço e começa a surgir uma identidade comum, autónoma, que vamos aprendendo a reconhecer e a respirar naturalmente. Procurar essa identidade e dar-lhe forma é o mais íntimo e importante dos objectivos.
Vocês ainda têm telefone fixo em casa ou já só usam telemóveis?
Temos, todos. Aliás, cultivamos dedicadamente a telefonofilia, como se vê no nosso site.
Nuno CatarinoDe um modo espontâneo e imediato. Conhecíamo-nos há bastante tempo, pessoal e artisticamente, tínhamos colaborado pontualmente em várias ocasiões e partilhávamos a vontade de dar corpo a um projecto em que houvesse bastante espaço para os instrumentos de cada um, numa perspectiva de depuração e frugalidade. Quando iniciamos o processo de composição pusemos na agenda a intenção de fazer canções, duras, cínicas e descomplicadas. Seguimos para estúdio com a ideia de fazer um registo informal, mas acabámos com um disco nas mãos.
Quais são as vossas influências, especialmente as influências comuns a todos os membros da banda?
Fomos descobrindo uma costela anglófila comum a todos e que acabou por contaminar o EP. Partilhamos bastantes influências do cinema à literatura (Greenaway, Mike Leigh, Len Lye ou Todd Haynes, Wolf, Wilde, David Lodge), partilhamos o fascínio pela cultura popular, pelo quotidiano, o lixo televisivo, os Velvet Underground, o melodrama de bolso. E obviamente, o disco póstumo do Arthur Russell - Love is overtaking me - de onde raptamos a versão que segue no disco, "Close my eyes".
Porquê a escolha do nome "Dear Telephone", uma referência a uma curta metragem de Peter Greenaway?
O nome é quase "self-explanatory". O filme aborda, de uma maneira muito conceptual e formalmente austera, a ideia da incomunicação. Dear Telephone remete para a solidão e o vazio, de alguém longe do mundo que encontra no telefone um meio possível de se relacionar com ele, um intermediário. Ao mesmo tempo evoca o imaginário das sitcoms ligeiras sobre o quotidiano e os telefonemas animados entre velhotas desocupadas ou adolescentes apaixonados.
Os músicos têm ligações a projectos como The Astonishing Urbana Fall, La la la Ressonance, Peixe:Avião, Old Jerusalem, Green Machine ou Kafka. O que retiraram de todas estas experiências para este projecto?
Vemos Dear Telephone quase como a antítese do carácter mais expressionista e experimental dos projectos que referes. Tentamos partir da maturidade que os projectos a que estamos ou estivemos ligados nos deu, para construir um universo deliberadamente mais árido, lunar e cirúrgico. E por outro lado, mais familiar, mais literário e irónico.
Editaram o vosso EP de estreia, Birth of a Robot, através da PAD. O que representa para vocês esta edição?
É o ponto alfa, o início. A banda nasce com o disco. E vice-versa.
O EP foi editado através da PAD, que tem no catálogo bandas como os Peixe:Avião, Old Jerusalem ou The Astroboy. Como aconteceu a ligação à editora? Sentem afinidades estéticas com os outros projectos do catálogo?
A estrutura da PAD interessou-se pelos primeiros registos que saíam do estúdio e desde cedo estabelecemos a vontade de trabalhar juntos. A maior parte dos músicos que pertence ao catálogo da editora já se relacionava, de algum modo, antes do nascimento da PAD, o que facilitou o processo. Não há nenhuma afinidade estética muito evidente entre as bandas do catálogo da PAD. É uma lista eclética, diversa, que abdica de um manifesto estético ou linha editorial circunscrita a um estilo ou modo de fazer música, para se centrar nas sinergias entre os músicos e na qualidade do trabalho que apresentam.
Têm planos para a edição de um álbum?
Depois do lançamento do EP concentramo-nos na procura de uma identidade live. Uma longa duração não é uma prioridade no curto prazo.
Pelo facto de contarem com duas vozes, masculina e feminina, já vos compararam com a histórica dupla Lee Hazelwood e Nancy Sinatra. Como reagem a estas comparações?
Essa em particular é bastante lisonjeira. Até porque procuramos, em certo sentido, recuperar um tipo de atitude em que eles foram pródigos: enquanto cantam vão saltando do papel de contador para personagem da história, num ping-pong, ora musical, ora narrativo.
Já tocaram em Braga, Lisboa, Coimbra e Guimarães. Como têm sentido as primeiras experiências ao vivo?
Com surpresa, ansiedade e fascínio. É como atravessares a Town no teu cavalo treinado, que conheces como a palma da mão, e deixares o animal a descansar no bebedouro junto ao salloon. Daí segues para o rodeo, montas um cavalo nervoso que nunca viste, concentras-te tanto em domá-lo que só percebes que estás na arena quando a poeira assenta e o teu cérebro troca o ruído da respiração pelo dos aplausos.
Vocês existem entre Barcelos e Braga. Como sentem o panorama pop/rock no Minho?
Desde meados dos anos 80 que o Minho produz, tal como Lisboa ou Porto, consistentemente, cada vez mais música. Com mais condições, mais estruturas a promover e a apoiar a produção musical. Barcelos e Braga são bons exemplos disso. Neste momento em particular isso sente-se claramente.
Quais são os objectivos da banda?
Genericamente, são os mesmos de quase todas as bandas. Crescer, ganhar consistência, editar, tocar, etc. Para cada um de nós, Dear Telephone funcionou como a oportunidade de dar corpo a alguns princípios e vontades estéticas que não cabem nos projectos de onde derivamos. Entretanto o projecto vai ganhando maturidade e espaço e começa a surgir uma identidade comum, autónoma, que vamos aprendendo a reconhecer e a respirar naturalmente. Procurar essa identidade e dar-lhe forma é o mais íntimo e importante dos objectivos.
Vocês ainda têm telefone fixo em casa ou já só usam telemóveis?
Temos, todos. Aliás, cultivamos dedicadamente a telefonofilia, como se vê no nosso site.
nunocatarino@gmail.com
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