ENTREVISTAS
Labirinto
Encontrar a saída
· 12 Set 2007 · 08:00 ·
Uma olhadela pela muito movimentada cidade de São Paulo encontra uma banda - que é um colectivo. Chamam-se Labirinto e lançaram até aos dias hoje alguma música que apelidam - e confirmamos - de experimental ou ambiental. Neste universo convivem nomes como Ennio Morricone, Kronos Quartet, Godspeed You ! Black Emperor, Shostakovich e os A Silver Mt. Zion, algo que pode ser confirmado no lançamento de 2007 com o selo da Dissenso. Os Labirinto são um dos bons exemplos da boa música que nasce nas longas avenidas de São Paulo, uma cidade com mais de 11 milhões de habitantes. E foi precisamente em São Paulo que, em entrevista, Erick Cruxen e Joaquim Prado falaram do mundo labiríntico que os une e prometeram um novo disco (cheio) para 2008 - uma possível saída para o labirinto em que se meteram.
O que é que nos podem contar acerca do início da banda? Podem fazer-nos um pequeno resumo?

Erick Cruxen: O labirinto surgiu há 4 anos, sempre com a proposta de ser uma banda instrumental dentro do universo do rock, mas extrapolando e experimentando novos timbres, texturas, sonoridades e instrumentos. Começamos com 3 integrantes; hoje somos em 7. No início não havia muita aceitação para conjuntos instrumentais, principalmente bandas que não fossem estritamente de “música brasileira”.

O que é que nos podem contar acerca dos lançamentos dos Labirinto até agora? Tanto quanto sei lançaram dois EPs até hoje…

Joaquim Prado: Gravamos 2 EPs e 1 CD Split com uma banda do Brasil. Estamos compondo e gravando músicas novas, para lançarmos nosso primeiro álbum cheio no início de 2008.

Como é que funcionam no seio da banda em termos de composição dos temas. Que papel desempenha a improvisação em todo o processo?

E.C.: Utilizamos em nossas composições diversas influências (musicais, filmes, imagens) “colhidas” no quotidiano de cada integrante. Procuramos materializar sensações através das nossas composições. Construímos texturas imagéticas que normalmente surgem de alguma ideia/sensação individual, e é lapidada no seio colectivo da banda.

No vosso myspace diz-se que procuravam materializar as “diversas influências musicais e pessoais através da composição instrumental, cujas sonoridades e timbres se mesclassem evitando a predominância de uma fonte sonora unívoca”. Isto quer dizer que procuram reunir as influências de cada um dos membros sem que um deles seja, digamos o líder estilístico? Impõem barreiras estilísticas aos Labirinto?

E.C.: Toda a acção humana é permeada e balizada por parâmetros, sejam conscientes, ou não. Não impomos paradigmas para compormos, mas certamente somos norteados por diversos. As nossas composições flúem naturalmente, dento de um contexto específico da música. O caminho que seguimos é o que realmente nos emociona e sensibiliza.


Ennio Morricone, Kronos Quartet, G.Y.B.E, Antonin Dvorak, Gustav Mahler, Música Celta e Irlandesa, Shostakovich, A Silver Mt. Zion... São estas as influências que apontam no vosso myspace. Como é que gere todas estas referências?

E.C.: Essas são diversas influências entre muitas que permeiam os integrantes da banda, e que levamos para os Labirinto. Certamente, algumas são mais evidentes, e ajudam-nos estética e conceptualmente na elaboração de nossas ideias.

Falavam há pouco da consciência do Brasil de uma música instrumental. Os Hurtmold foram de certa forma importantes para a aceitação da música instrumental no Brasil?

J.P.: Sempre existiram bandas instrumentais no Brasil, muito antes dos Hurtmold. Contudo, dentro do universo do rock, experimentando outros instrumentos, eles foram pioneiros. Certamente, a aceitação desde que surgimos cresceu muito. Mas creio que essa mudança se deu devido à Internet. Graças a sites como o Myspace, as pessoas puderam entrar em contacto com grupos de diversas regiões do planeta, com “propostas instrumentais” diferenciadas.

São Paulo é uma metrópole inspiradora para a criação deste tipo de músicas. Como se sentem ao viver na cidade?

E.C.: São Paulo é uma enorme metrópole, cheias de signos e informações diárias, na maioria contrastantes e efémeras. Todos os integrantes vivem na cidade e são bombardeados por essas sensações que levamos conscientes para as nossas músicas. Mas procuramos buscar informações muito mais distantes do que as encontradas no nosso ambiente; imagens, bandas sonoras de filmes, contacto com bandas de outros lugares, entre outros, fazem-nos romper os limites da nossa cidade.

Basta dar uma volta ao myspace para perceber que, lentamente, começam a nascer cada vez mais projectos de música experimental no Brasil. Concordam? O que é que recomendam?

J.P.: Realmente surgiram diversas bandas instrumentais e/ou experimentais, principalmente a partir de 2006. Contudo, são poucas que apreciamos. Muitas dessas bandas são clones de bandas estrangeiras, e isso é lamentável. Algumas que recomendo, entre outras são: Fóssil (Fortaleza), Ruído MM (Curitiba), Hangin Freud (São Paulo), Cosmorama (São Paulo) Gray Strawberries (Indaiatuba), Músicas Intermináveis (Porto Alegre), e os Qatsi (Maceió).


No mesmo myspace, na vossa página, é possível ver uma série de concertos marcados para os próximos tempos, especialmente em São Paulo. Como funcionam os Labirinto em concerto?

J.P.: Adoramos fazer shows, são neles que podemos realmente extravasar com outras pessoas as nossas composições. Sempre levamos todos os nossos equipamentos, já que 95% das casas de show não contam com infra-estruturas satisfatórias, principalmente para o tipo de músicas que tocamos. Mas é muito gratificante tocar em lugares onde as pessoas não nos conhecem, e sentem-se envolvidas pela nossa música. Para nós, é uma das melhores sensações que a banda pode proporcionar.

A Dissenso é a vossa casa, a vossa editora. Como funcionam com o vosso selo?

J.P.: A Dissenso é um selo destinado a bandas experimentais, instrumentais e/ou com vozes; funciona como uma gravadora, produtora e distribuidora de bandas brasileiras e estrangeiras. Bandas brasileiras como Maqno, Labirinto, Himmel Arsch und Zwirn e estrangeiras como God is an Astronaut, entre outras, estão no catálogo da Dissenso.

Li algures que estavam a preparar já um novo disco que será lançado em 2008. O que é que nos podem contar acerca dele? Consideram-no o primeiro disco dos Labirinto?

E.C.: Vamos lançar o nosso primeiro álbum cheio no início de 2008. Será um CD conceptual, com músicas mais longas e “trabalhadas” do que as gravadas anteriormente. Contudo, não o consideramos como primeiro CD do Labirinto, pois os outros também materializaram as nossas ideias e sensações inerentes à época, apesar de possuírem poucas músicas.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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