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Labirinto
Encontrar a saída


Uma olhadela pela muito movimentada cidade de São Paulo encontra uma banda - que é um colectivo. Chamam-se Labirinto e lançaram até aos dias hoje alguma música que apelidam - e confirmamos - de experimental ou ambiental. Neste universo convivem nomes como Ennio Morricone, Kronos Quartet, Godspeed You ! Black Emperor, Shostakovich e os A Silver Mt. Zion, algo que pode ser confirmado no lançamento de 2007 com o selo da Dissenso. Os Labirinto são um dos bons exemplos da boa música que nasce nas longas avenidas de São Paulo, uma cidade com mais de 11 milhões de habitantes. E foi precisamente em São Paulo que, em entrevista, Erick Cruxen e Joaquim Prado falaram do mundo labiríntico que os une e prometeram um novo disco (cheio) para 2008 - uma possível saída para o labirinto em que se meteram.
O que é que nos podem contar acerca do início da banda? Podem fazer-nos um pequeno resumo?

Erick Cruxen: O labirinto surgiu há 4 anos, sempre com a proposta de ser uma banda instrumental dentro do universo do rock, mas extrapolando e experimentando novos timbres, texturas, sonoridades e instrumentos. Começamos com 3 integrantes; hoje somos em 7. No início não havia muita aceitação para conjuntos instrumentais, principalmente bandas que não fossem estritamente de “música brasileiraâ€.

O que é que nos podem contar acerca dos lançamentos dos Labirinto até agora? Tanto quanto sei lançaram dois EPs até hoje…

Joaquim Prado: Gravamos 2 EPs e 1 CD Split com uma banda do Brasil. Estamos compondo e gravando músicas novas, para lançarmos nosso primeiro álbum cheio no início de 2008.

Como é que funcionam no seio da banda em termos de composição dos temas. Que papel desempenha a improvisação em todo o processo?

E.C.: Utilizamos em nossas composições diversas influências (musicais, filmes, imagens) “colhidas†no quotidiano de cada integrante. Procuramos materializar sensações através das nossas composições. Construímos texturas imagéticas que normalmente surgem de alguma ideia/sensação individual, e é lapidada no seio colectivo da banda.

No vosso myspace diz-se que procuravam materializar as “diversas influências musicais e pessoais através da composição instrumental, cujas sonoridades e timbres se mesclassem evitando a predominância de uma fonte sonora unívocaâ€. Isto quer dizer que procuram reunir as influências de cada um dos membros sem que um deles seja, digamos o líder estilístico? Impõem barreiras estilísticas aos Labirinto?

E.C.: Toda a acção humana é permeada e balizada por parâmetros, sejam conscientes, ou não. Não impomos paradigmas para compormos, mas certamente somos norteados por diversos. As nossas composições flúem naturalmente, dento de um contexto específico da música. O caminho que seguimos é o que realmente nos emociona e sensibiliza.

Ennio Morricone, Kronos Quartet, G.Y.B.E, Antonin Dvorak, Gustav Mahler, Música Celta e Irlandesa, Shostakovich, A Silver Mt. Zion... São estas as influências que apontam no vosso myspace. Como é que gere todas estas referências?

E.C.: Essas são diversas influências entre muitas que permeiam os integrantes da banda, e que levamos para os Labirinto. Certamente, algumas são mais evidentes, e ajudam-nos estética e conceptualmente na elaboração de nossas ideias.

Falavam há pouco da consciência do Brasil de uma música instrumental. Os Hurtmold foram de certa forma importantes para a aceitação da música instrumental no Brasil?

J.P.: Sempre existiram bandas instrumentais no Brasil, muito antes dos Hurtmold. Contudo, dentro do universo do rock, experimentando outros instrumentos, eles foram pioneiros. Certamente, a aceitação desde que surgimos cresceu muito. Mas creio que essa mudança se deu devido à Internet. Graças a sites como o Myspace, as pessoas puderam entrar em contacto com grupos de diversas regiões do planeta, com “propostas instrumentais†diferenciadas.

São Paulo é uma metrópole inspiradora para a criação deste tipo de músicas. Como se sentem ao viver na cidade?

E.C.: São Paulo é uma enorme metrópole, cheias de signos e informações diárias, na maioria contrastantes e efémeras. Todos os integrantes vivem na cidade e são bombardeados por essas sensações que levamos conscientes para as nossas músicas. Mas procuramos buscar informações muito mais distantes do que as encontradas no nosso ambiente; imagens, bandas sonoras de filmes, contacto com bandas de outros lugares, entre outros, fazem-nos romper os limites da nossa cidade.

Basta dar uma volta ao myspace para perceber que, lentamente, começam a nascer cada vez mais projectos de música experimental no Brasil. Concordam? O que é que recomendam?

J.P.: Realmente surgiram diversas bandas instrumentais e/ou experimentais, principalmente a partir de 2006. Contudo, são poucas que apreciamos. Muitas dessas bandas são clones de bandas estrangeiras, e isso é lamentável. Algumas que recomendo, entre outras são: Fóssil (Fortaleza), Ruído MM (Curitiba), Hangin Freud (São Paulo), Cosmorama (São Paulo) Gray Strawberries (Indaiatuba), Músicas Intermináveis (Porto Alegre), e os Qatsi (Maceió).

No mesmo myspace, na vossa página, é possível ver uma série de concertos marcados para os próximos tempos, especialmente em São Paulo. Como funcionam os Labirinto em concerto?

J.P.: Adoramos fazer shows, são neles que podemos realmente extravasar com outras pessoas as nossas composições. Sempre levamos todos os nossos equipamentos, já que 95% das casas de show não contam com infra-estruturas satisfatórias, principalmente para o tipo de músicas que tocamos. Mas é muito gratificante tocar em lugares onde as pessoas não nos conhecem, e sentem-se envolvidas pela nossa música. Para nós, é uma das melhores sensações que a banda pode proporcionar.

A Dissenso é a vossa casa, a vossa editora. Como funcionam com o vosso selo?

J.P.: A Dissenso é um selo destinado a bandas experimentais, instrumentais e/ou com vozes; funciona como uma gravadora, produtora e distribuidora de bandas brasileiras e estrangeiras. Bandas brasileiras como Maqno, Labirinto, Himmel Arsch und Zwirn e estrangeiras como God is an Astronaut, entre outras, estão no catálogo da Dissenso.

Li algures que estavam a preparar já um novo disco que será lançado em 2008. O que é que nos podem contar acerca dele? Consideram-no o primeiro disco dos Labirinto?

E.C.: Vamos lançar o nosso primeiro álbum cheio no início de 2008. Será um CD conceptual, com músicas mais longas e “trabalhadas†do que as gravadas anteriormente. Contudo, não o consideramos como primeiro CD do Labirinto, pois os outros também materializaram as nossas ideias e sensações inerentes à época, apesar de possuírem poucas músicas.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
12/09/2007