ENTREVISTAS
Growing
Os Sons do Silêncio
· 10 Jan 2004 · 08:00 ·
Esta é a segunda das duas entrevistas que fizemos a artistas do catálogo da Kranky Records. A conversa com Scott Morgan do projecto Loscil pode ser recordada aqui. Desta vez, é um trio de Olympia que responde à chamada. Quando andávamos em vigília pelos festivais de Verão no ano passado, os Growing editaram o seu primeiro trabalho, “The Sky’s Run Into the Sea”. O disco é a auscultação da linha do horizonte onde as forças dos elementos colidem e se sobrepõem. Intervalos de silêncio e latência electrónica contra a guitarra e algumas linhas de baixo. Joe DeNardo responde.
Qual é o significado do título "The Sky's Run Into the Sea"?

O título é uma citação de um filme francês chamado Lola. É uma expressão dita por uma senhora idosa frustrada com a sua pintura da linha do oceano e do céu, enquanto estava sentada no café onde a maior parte dos desenvolvimentos da película têm lugar. Pareceu-nos um título apropriado para o disco por sabermos já quais seriam as fotografias da capa, pelos múltiplos significados que a expressão pode assumir e por causa das referências naturais que queremos fazer na nossa música.

No press release está escrito que os Growing têm tocado na costa ocidental dos Estados Unidos em diferentes contextos. Como conseguem transportar a vossa música de um local para o outro, de uma arena punk rock para uma galeria de arte?

Nós temos muita pujança e, por isso, conseguimos idealizar o nosso set, tanto em termos temporais e de duração como estruturais, para uma grande variedade de espaços e propósitos, de uma actuação de 25 minutos num clube para um set longo pela madrugada fora no interior de uma habitação.

E como é que a audiência reage?

A maior parte das pessoas têm-se mostrado prontamente receptivas aos diferentes tipos de actuações que fazemos. Não é preciso muito tempo para saber como reagir à nossa música. Se gostas dela, geralmente torna-se óbvio como te deves posicionar para conseguires o máximo deleite. E o volume também funciona de múltiplas formas. Para aqueles que gostam do que ouvem, a música pode preencher cada espaço e afectar o corpo. Para os que os não gostam, não resta outra alternativa senão sair, que é a melhor coisa que se pode fazer nestas situações.

Em que compartimentos colocarias a tua música tendo em conta o espectro de imagens que o título sugere?

Não estou certo de que tenhamos muita escolha quanto à categoria em que somos colocados, mas também não vemos nenhum sentido em categorizar a música. As categorias são claramente limitadoras e sustentam uma certa divisão e fragmentação, numa altura em que nenhuma dessas tendências parece particularmente necessária.

O que querem dizer com o subtítulo "all music is folk music" da terceira faixa do álbum?

Infelizmente esse subtítulo não apareceu na versão final do disco, apenas na cópia promocional. É citado de um livro de Steve Reich nos seus escritos sobre música. Relaciona-se especificamente com essa faixa, 'Tepsije', porque a melodia principal é inspirada numa canção de coro das mulheres de etnia albanesa, do Kosovo, com o mesmo nome. Genericamente, relaciona-se com os nossos pensamentos sobre música e musicalidade, ou o nosso desagrado por a música já não ser tão difundida como produto cultural e praticada mais extensivamente de um modo colectivo ou contextualizante.

Como conseguem fazer penetrar uma estrutura de guitarra pesada em elementos subtis de melodia?

Nós pensamos sobretudo em termos de balanço e dinâmica, e normalmente acontece podermos alcançar uma certa variedade, uma vez que as partes mais pesadas e as mais melódicas ocupam espaços diferentes no espectro de som. Trabalhamos todos juntos. Embora possamos escrever algumas coisas individualmente, nenhum de nós é mais responsável por um apelo mais pesado ou mais melódico do que o outro.

As vossas performances são suportadas por uma forte componente visual, designadamente através de um slideshow. Qual é a importância da visualização do som por meio de um trabalho fotográfico?

Embora nem todas as nossas actuações tenham efeitos visuais, há sempre interesse nisso. O som e a cor há muito que são pensados como estando intensamente relacionados. A fotografia é meramente uma organização rígida de cor e luz. O facto da fotografia ser estática assenta bem na nossa música, que esperamos posicionar-se ao nível de um certo estatismo, convidando à contemplação. A melhor forma de apreciar uma fotografia é sentarmo-nos a olhá-la fixamente. Algumas das nossas actuações mais bem sucedidas possibilitaram às pessoas fazer isso com a nossa música. No essencial, a componente visual ajuda a criar um ambiente. Quando o espaço em que tocamos o permite, tentamos explorar sentidos múltiplos.

Como é que os Growing e a equipa de fotografia Thin Ice começaram a trabalhar juntos?

Eu sou um quarto dessa equipa, portanto a colaboração foi uma extensão natural dos interesses dos Growing. As fotos do grupo Thin Ice disponibilizaram uma provisão de narrativas soltas em torno das quais se pode construir música.

O que significou a evolução dos 1000 AD e dos Black Man White Man Dead Man para os Growing no que respeita a música e as artes visuais?

Numa palavra, é a velha história de tentarmos descobrir o que queríamos fazer exactamente, estando juntos em diferentes bandas, consolidando os nossos esforços, etc. Esse processo tende a demorar anos a consumar-se.

O que têm feito desde a edição do álbum?

Estivemos a trabalhar nas bandas sonoras de alguns projectos de vídeo, um dos quais envolveu uma instalação de canais múltiplos. O mês de Outubro foi passado a trabalhar nisso e noutros projectos de gravação, incluindo alguns esboços para o próximo disco. O nosso 7 polegadas foi reintroduzido no mercado pela Nail in the Coffin e Troubled Unlimited. Gravámos ainda um split de 12" com Mark Even Burden para a Fast Weapons Records. Vamos tentar tocar na costa leste durante o Inverno e esperamos vir a fazer uma digressão pelos Estados Unidos no final da Primavera.
Hélder Gomes
hefgomes@gmail.com

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