Esta é a segunda das duas entrevistas que fizemos a artistas do catálogo
da Kranky Records. A conversa com Scott Morgan do projecto Loscil pode ser recordada
aqui. Desta vez,
é um trio de Olympia que responde à chamada. Quando andávamos
em vigília pelos festivais de Verão no ano passado, os Growing editaram
o seu primeiro trabalho, “The Sky’s Run Into the Sea”. O disco
é a auscultação da linha do horizonte onde as forças
dos elementos colidem e se sobrepõem. Intervalos de silêncio e latência
electrónica contra a guitarra e algumas linhas de baixo. Joe DeNardo responde.
Qual
é o significado do tÃtulo "The Sky's Run Into the Sea"?
O tÃtulo é uma citação de um filme francês chamado Lola.
É uma expressão dita por uma senhora idosa frustrada com a sua pintura da linha
do oceano e do céu, enquanto estava sentada no café onde a maior parte dos desenvolvimentos
da pelÃcula têm lugar. Pareceu-nos um tÃtulo apropriado para o disco por sabermos
já quais seriam as fotografias da capa, pelos múltiplos significados que a expressão
pode assumir e por causa das referências naturais que queremos fazer na nossa
música.
No press release está escrito que os Growing
têm tocado na costa ocidental dos Estados Unidos em diferentes contextos. Como
conseguem transportar a vossa música de um local para o outro, de uma arena punk rock para uma galeria de arte?
Nós temos muita pujança e, por isso, conseguimos idealizar
o nosso
set, tanto em termos temporais e de duração como estruturais,
para uma grande variedade de espaços e propósitos, de uma actuação de 25 minutos
num clube para um
set longo pela madrugada fora no interior de uma habitação.
E como é que a audiência reage?
A maior parte das pessoas têm-se mostrado prontamente
receptivas aos diferentes tipos de actuações que fazemos. Não é preciso muito
tempo para saber como reagir à nossa música. Se gostas dela, geralmente torna-se
óbvio como te deves posicionar para conseguires o máximo deleite. E o volume
também funciona de múltiplas formas. Para aqueles que gostam do que ouvem, a
música pode preencher cada espaço e afectar o corpo. Para os que os não gostam,
não resta outra alternativa senão sair, que é a melhor coisa que se pode fazer
nestas situações.
Em que compartimentos colocarias a tua música
tendo em conta o espectro de imagens que o tÃtulo sugere?
Não estou certo de que tenhamos muita escolha quanto Ã
categoria em que somos colocados, mas também não vemos nenhum sentido em categorizar
a música. As categorias são claramente limitadoras e sustentam uma certa divisão
e fragmentação, numa altura em que nenhuma dessas tendências parece particularmente
necessária.
O que querem dizer com o subtÃtulo "all music
is folk music" da terceira faixa do álbum?
Infelizmente esse subtÃtulo não apareceu na versão final
do disco, apenas na cópia promocional. É citado de um livro de Steve Reich nos
seus escritos sobre música. Relaciona-se especificamente com essa faixa, 'Tepsije',
porque a melodia principal é inspirada numa canção de coro das mulheres de etnia
albanesa, do Kosovo, com o mesmo nome. Genericamente, relaciona-se com os nossos
pensamentos sobre música e musicalidade, ou o nosso desagrado por a música já
não ser tão difundida como produto cultural e praticada mais extensivamente
de um modo colectivo ou contextualizante.
Como conseguem fazer penetrar uma estrutura de
guitarra pesada em elementos subtis de melodia?
Nós pensamos sobretudo em termos de balanço e dinâmica,
e normalmente acontece podermos alcançar uma certa variedade, uma vez que as
partes mais pesadas e as mais melódicas ocupam espaços diferentes no espectro
de som. Trabalhamos todos juntos. Embora possamos escrever algumas coisas individualmente,
nenhum de nós é mais responsável por um apelo mais pesado ou mais melódico do
que o outro.
As vossas performances são suportadas por
uma forte componente visual, designadamente através de um slideshow.
Qual é a importância da visualização do som por meio de um trabalho fotográfico?
Embora nem todas as nossas actuações tenham efeitos visuais,
há sempre interesse nisso. O som e a cor há muito que são pensados como estando
intensamente relacionados. A fotografia é meramente uma organização rÃgida de
cor e luz. O facto da fotografia ser estática assenta bem na nossa música, que
esperamos posicionar-se ao nÃvel de um certo estatismo, convidando à contemplação.
A melhor forma de apreciar uma fotografia é sentarmo-nos a olhá-la fixamente.
Algumas das nossas actuações mais bem sucedidas possibilitaram às pessoas fazer
isso com a nossa música. No essencial, a componente visual ajuda a criar um
ambiente. Quando o espaço em que tocamos o permite, tentamos explorar sentidos
múltiplos.
Como é que os Growing e a equipa de fotografia
Thin Ice começaram a trabalhar juntos?
Eu sou um quarto dessa equipa, portanto a colaboração
foi uma extensão natural dos interesses dos Growing. As fotos do grupo Thin
Ice disponibilizaram uma provisão de narrativas soltas em torno das quais se
pode construir música.
O que significou a evolução dos 1000 AD e dos
Black Man White Man Dead Man para os Growing no que respeita a música e as artes
visuais?
Numa palavra, é a velha história de tentarmos descobrir
o que querÃamos fazer exactamente, estando juntos em diferentes bandas, consolidando
os nossos esforços, etc. Esse processo tende a demorar anos a consumar-se.
O que têm feito desde a edição do álbum?
Estivemos a trabalhar nas bandas sonoras de alguns projectos
de vÃdeo, um dos quais envolveu uma instalação de canais múltiplos. O mês de
Outubro foi passado a trabalhar nisso e noutros projectos de gravação, incluindo
alguns esboços para o próximo disco. O nosso 7 polegadas foi reintroduzido no
mercado pela Nail in the Coffin e Troubled Unlimited. Gravámos ainda um
split de 12" com Mark Even Burden para a Fast Weapons Records. Vamos tentar tocar
na costa leste durante o Inverno e esperamos vir a fazer uma digressão pelos
Estados Unidos no final da Primavera.