ENTREVISTAS
Marc Copland
Good Cop, Bad Cop
· 20 Set 2011 · 23:47 ·
© Konstantin Kern
Começou como saxofonista, mas numa decidiu mudar para o piano. Porquê esta mudança de instrumento?
Foi uma decisão tomada com o coração, para dizer a verdade. Andava cada vez mais atraído por determinados tipos de harmonias que só conseguia tocar com o piano – um novo mundo de cores. Na altura andava a escrever composições com aquelas harmonias, que eram muito mais adequadas ao piano que ao saxofone, e sentia-me em casa. E quando encontrei essa casa, decidi que a parir daí era ali que ia morar.
A sua abordagem do piano é considerada inovadora e tem muitos seguidores. Como vê a sua contribuição para a evolução do piano na história do jazz?
Esse tipo de análise prefiro deixar para os outros. Tudo aquilo que faço musicalmente é guiado por uma única decisão: a decisão não tocar uma nota, um acorde, a menos que ele tenha um certo som, uma certa textura e sentimento; a decisão de não tocar uma nota a menos que ela tenha um certo toque, que mostre que vem de dentro, do coração; a decisão de não tocar uma nota a menos que ela conte algo de uma experiência humana; a decisão de não tocar uma nota a menos que seja tenha honestidade.
A sua música tem evoluído constantemente ao longo dos anos. Tem por objectivo continuar sempre a trilhar um caminho de evolução e mudança?
O meu objectivo é evitar ser um simples músico, mas tentar ser um artista que transmita um significado através da música. Para se conseguir fazer isso deve-se continuar a evoluir, não é possível ficar parado. A capacidade de fazer uma música com significado depende, por um lado, do crescimento da alma e espírito, e por outro lado, das capacidades necessárias para expressar esse espírito. A alma e as capacidades podem ser deterioradas, ou então poderão ser fortalecidas. O facto de crescerem ou murcharem depende se são nutridas e desenvolvidas ou não. Isto são coisas que não se mantém sempre no mesmo sítio, estão sempre em movimento. E eu prefiro ir em frente, sempre que possível.
Uma palavra utilizada recorrentemente para classificar a sua música é “poética”. Sente que a sua música com uma especial qualidade emocional?
Sem emoção, a música tal como a conheço seria impossível.
Quem são os pianistas que o entusiasmam, hoje em dia?
Qualquer músico que toque daquela forma que descrevi. Gosto muito do Bill Carrrothers.
As suas gravações “New York Trio Recordings” ganharam um certo culto e em parte serão responsáveis pela sua música ter chegado a audiências mais vastas. Como vê esses discos?
Julgo que são discos honestos... Se um disco soa honesto então eu sei que é o melhor que pude fazer, porque não tentei ser outra pessoa, ou não tentei ser algo que não sou.
O formato que melhor revela a sua expressividade será o piano solo. Pessoalmente prefere tocar sozinho ou aprecia a partilha dessa criação de música com outras pessoas?
Acaba tudo por ser música, não tenho preferência. Se perguntar a alguém se prefere estar sozinho, ou com outras pessoas, as respostas poderão ser diferentes hoje ou na próxima semana. É tão simples quanto isso.
Como surgiu a possibilidade de trabalhar neste duo com o John Abercrombie?
Nós somos amigos e já tocamos juntos há muito tempo. Foi algo que aconteceu de uma forma muito natural.
A sua ligação com John Abercrombie remonta ao início da década de 1970, em que tocavam juntos no quarteto de Chico Hamilton. O que se recorda dessa altura?
Seria difícil para mim subestimar a importância de John na minha vida, especialmente naquela época. Eu era um saxofonista jovem e ambicioso que queria tocar no limite, tocar milhões de notas, tornar-me muito famoso - eu andava na música para todas as razões erradas. Nessa altura o John entrou na banda do Chico e eu fiquei atordoado. Ele era um músico a sério - tudo o que ele tocava tinha significado - mas ele não tocava notas a mais, não era impetuoso, não tinha absolutamente nenhum interesse em fama, só queria tocar a melhor música que ele podia. Então senti-me embaraçado, para ser honesto. Era óbvio para mim John era um verdadeiro artista, e eu senti que eu não era. Ele falou-me na linguagem das harmonias e cores e eu soube que era por aí que eu tinha que ir. O John foi o catalisador que ajudou a despertar essa parte de mim.
Ao longo destes anos todos tem colaborado com John Abercrombie em contextos muito diversos. Como vê a evolução da vossa relação musical ao longo dos ano?
Nós entendemo-nos muito bem e enquanto algumas coisas vão mudando (os métodos, as abordagens, as ideias), há uma coisa que continua sempre: nós não queremos tocar aquilo que não estamos sentir.
Além de John Abercrombie, quem são os seus colaboradores favoritos?
Qualquer músico pode ser um favorito. Se está a acontecer, é o meu favorito!
O que poderemos esperar deste concerto no CCB, em Lisboa?
Espero que consigamos criar alguma boa música!
Que música tem ouvido por casa, recentemente?
Tenho andado a ouvir os estudos para piano de Ligeti e, acredite se quiser, os Doobie Brothers com Michael McDonald.
Que projectos tem em mãos para os próximos tempos?
Estou a planear um álbum em trio e outro a solo – vamos ver. Na primavera do ano que vem vou andar em tour pela Europa, com o John num quarteto com Drew Gress e Joey Baron. E nós também queremos gravar este grupo.
Nuno CatarinoFoi uma decisão tomada com o coração, para dizer a verdade. Andava cada vez mais atraído por determinados tipos de harmonias que só conseguia tocar com o piano – um novo mundo de cores. Na altura andava a escrever composições com aquelas harmonias, que eram muito mais adequadas ao piano que ao saxofone, e sentia-me em casa. E quando encontrei essa casa, decidi que a parir daí era ali que ia morar.
A sua abordagem do piano é considerada inovadora e tem muitos seguidores. Como vê a sua contribuição para a evolução do piano na história do jazz?
Esse tipo de análise prefiro deixar para os outros. Tudo aquilo que faço musicalmente é guiado por uma única decisão: a decisão não tocar uma nota, um acorde, a menos que ele tenha um certo som, uma certa textura e sentimento; a decisão de não tocar uma nota a menos que ela tenha um certo toque, que mostre que vem de dentro, do coração; a decisão de não tocar uma nota a menos que ela conte algo de uma experiência humana; a decisão de não tocar uma nota a menos que seja tenha honestidade.
A sua música tem evoluído constantemente ao longo dos anos. Tem por objectivo continuar sempre a trilhar um caminho de evolução e mudança?
O meu objectivo é evitar ser um simples músico, mas tentar ser um artista que transmita um significado através da música. Para se conseguir fazer isso deve-se continuar a evoluir, não é possível ficar parado. A capacidade de fazer uma música com significado depende, por um lado, do crescimento da alma e espírito, e por outro lado, das capacidades necessárias para expressar esse espírito. A alma e as capacidades podem ser deterioradas, ou então poderão ser fortalecidas. O facto de crescerem ou murcharem depende se são nutridas e desenvolvidas ou não. Isto são coisas que não se mantém sempre no mesmo sítio, estão sempre em movimento. E eu prefiro ir em frente, sempre que possível.
Uma palavra utilizada recorrentemente para classificar a sua música é “poética”. Sente que a sua música com uma especial qualidade emocional?
Sem emoção, a música tal como a conheço seria impossível.
Quem são os pianistas que o entusiasmam, hoje em dia?
Qualquer músico que toque daquela forma que descrevi. Gosto muito do Bill Carrrothers.
As suas gravações “New York Trio Recordings” ganharam um certo culto e em parte serão responsáveis pela sua música ter chegado a audiências mais vastas. Como vê esses discos?
Julgo que são discos honestos... Se um disco soa honesto então eu sei que é o melhor que pude fazer, porque não tentei ser outra pessoa, ou não tentei ser algo que não sou.
© Konstantin Kern |
O formato que melhor revela a sua expressividade será o piano solo. Pessoalmente prefere tocar sozinho ou aprecia a partilha dessa criação de música com outras pessoas?
Acaba tudo por ser música, não tenho preferência. Se perguntar a alguém se prefere estar sozinho, ou com outras pessoas, as respostas poderão ser diferentes hoje ou na próxima semana. É tão simples quanto isso.
Como surgiu a possibilidade de trabalhar neste duo com o John Abercrombie?
Nós somos amigos e já tocamos juntos há muito tempo. Foi algo que aconteceu de uma forma muito natural.
A sua ligação com John Abercrombie remonta ao início da década de 1970, em que tocavam juntos no quarteto de Chico Hamilton. O que se recorda dessa altura?
Seria difícil para mim subestimar a importância de John na minha vida, especialmente naquela época. Eu era um saxofonista jovem e ambicioso que queria tocar no limite, tocar milhões de notas, tornar-me muito famoso - eu andava na música para todas as razões erradas. Nessa altura o John entrou na banda do Chico e eu fiquei atordoado. Ele era um músico a sério - tudo o que ele tocava tinha significado - mas ele não tocava notas a mais, não era impetuoso, não tinha absolutamente nenhum interesse em fama, só queria tocar a melhor música que ele podia. Então senti-me embaraçado, para ser honesto. Era óbvio para mim John era um verdadeiro artista, e eu senti que eu não era. Ele falou-me na linguagem das harmonias e cores e eu soube que era por aí que eu tinha que ir. O John foi o catalisador que ajudou a despertar essa parte de mim.
Ao longo destes anos todos tem colaborado com John Abercrombie em contextos muito diversos. Como vê a evolução da vossa relação musical ao longo dos ano?
Nós entendemo-nos muito bem e enquanto algumas coisas vão mudando (os métodos, as abordagens, as ideias), há uma coisa que continua sempre: nós não queremos tocar aquilo que não estamos sentir.
Além de John Abercrombie, quem são os seus colaboradores favoritos?
Qualquer músico pode ser um favorito. Se está a acontecer, é o meu favorito!
O que poderemos esperar deste concerto no CCB, em Lisboa?
Espero que consigamos criar alguma boa música!
© Konstantin Kern |
Que música tem ouvido por casa, recentemente?
Tenho andado a ouvir os estudos para piano de Ligeti e, acredite se quiser, os Doobie Brothers com Michael McDonald.
Que projectos tem em mãos para os próximos tempos?
Estou a planear um álbum em trio e outro a solo – vamos ver. Na primavera do ano que vem vou andar em tour pela Europa, com o John num quarteto com Drew Gress e Joey Baron. E nós também queremos gravar este grupo.
nunocatarino@gmail.com
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