ENTREVISTAS
Perry Blake
Os dias que correm
· 03 Set 2007 · 08:00 ·
A carreira de Perry Blake é um tudo ou nada imprevisível. Tanto em termos musicais como em termos de existência do homem no mundo - leia-se exposição. Essa imprevisibilidade é especialmente sublinhada com este novo disco, Canyon Songs, um registo que vai beber directamente ao country, algo que sempre correu nas veias de Perry Blake mas que só agora se manifestou de forma evidente. Este é o Perry Blake que faz aquilo que lhe vai na alma, que não cede a pressões. Cada vez mais longe das luzes da fama (relativa, mas a certo ponto significativa), Perry Blake faz música primeiro para si e depois para os outros. Em entrevista, e apesar de algumas criticas ao seu trabalho mais recente, o músico irlandês mostrou-se fundamentalmente confiante com o presente, esperando que o futuro lhe dê razão.
Como é que se sente ao lançar o sexto disco da sua carreira, quase 10 anos após o lançamento do primeiro disco?

Eu sinto-me feliz com o disco, quer as pessoas gostem ou não tenho controlo. Obviamente sinto que é um óptimo trabalho e gosto de muito do meu material – a história vai julgá-lo.

A sua carreira é bastante peculiar. Começou com uma quantidade considerável de reconhecimento – especialmente em França – e agora parece, digamos assim, estar a fugir intencionalmente das luzes da fama. Por exemplo na escolha de editoras. Concorda? É uma protecção para si?

The lights of fame have grounded many a dazzled rabbit! Eu samplei a fama durante 10 minutos e apercebi-me que não era para mim. Quanto a fugir – bem, eu agora possuo as minhas próprias mastertapes mundialmente por isso estou de longe melhor financeiramente do que o que estava, especialmente com a Naïve. Eu tenho um estúdio numa casa velha na floresta e ninguém me chateia.


Por falar na França, tem alguma explicação para o sucesso que a sua música teve no país? Como eram os concertos quando tocou lá?

A França foi o primeiro país a entrar no Perry Blake e sinto-me muito agradecido. Eu não teria dado um bom vendedor de hortaliças. Os concertos na França são sempre muito bons para mim, eles apreciam o meu trabalho lá.

Como sente este novo disco, Canyon Songs, quando comparado com outros discos do passado? Sente-se confiante com este novo disco?

Canyon Songs é uma mudança mas eu acredito que todos têm de mudar com o intuito de atingir a longevidade – sinto-me confiante que o Canyon Songs vai durar mais tempo do que outros discos que por aí andam. Tem subtilezas que demoram algum tempo a vir à superfície.

Neste novo disco sentem-se influências claras da música country, algo que nunca tinha explorado nos seus discos anteriores – pelo menos nunca tão directamente. Gosta de mudar de cenários de vez em quando? Como é que a sua música evoluiu nessa direcção?

Sempre gostei da música country americana e este álbum evoluiu de certa forma nesse sentido - não tenho a certeza porquê! – mas senti-o certo na altura. O próximo álbum podia ser electro punk ou ska!

Acha que os seus fãs ficarão chocados com a nova direcção que este disco tomou?

Alguns fãs expressaram a sua descrença na direcção do Canyon Songs. Mas é importante não ouvir ninguém e seguir o próprio percurso de cada um na vida ou na arte – o futuro vai dar-me razão ou não.


Nos primeiros dias da sua carreira explorou o trip-hop. Sente que alguma vez o voltará a explorar? O seu futuro como músico é um livro aberto? Gosta de pensar desta forma?

O meu futuro na música pode, espero eu, envolver qualquer número de direcções. Espero eu, as decisões serão feitas pelas razões certas. Nunca tentei ser hip hop, simplesmente não tenho uma boa livraria de samples de bateria e não tinha um bom baterista.

Muitos críticos dizem que a sua música é mais forte quando tocada ao vivo, mais do que nos seus discos. Apesar de ser apenas uma opinião, concorda com eles? Sente isso?

Certamente, o espectáculo ao vivo tornou-se algo forte e não tenho mais medo da audiência e agora consigo cantar melhor o meu catálogo mais antigo.

Sente Broken Statues como um momento especial da sua carreira? É muitas vezes descrito como um disco ao vivo muito forte…

A Naïve gravou o Broken Statutes e pressionou-me para o lançar. Acho que poderia fazer melhor e nunca recebi um único cêntimo desse disco!

Quais são as melhores vozes hoje em dia na sua opinião? Tenta ouvir muita nova música actualmente?

Gosto do Mark Langegan com os Soulsavers e aquele disco que ele fez com a Isobel Campbell – gosto muito desse. Sou um grande fã da Feist – grande cantora!

Nos últimos anos parece ter desenvolvido uma relação muito próxima com Portugal. Já tocou algumas vezes por cá. Tem alguma explicação para este facto?

Portugal tem sido bom para mim – não tenho bem a certeza porquê – mas talvez pela tradição do fado as pessoas estão bastante abertas a canções tristes. Na Irlanda eu mal consigo chegar à rádio quando mais tocar para uma audiência decente. No entanto, a América mostrou muito interesse no Canyon Songs – vamos ver.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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