DISCOS
David Kristian + Ryosuke Aoike
Ghost Storeys
· 25 Abr 2007 · 08:00 ·
David Kristian + Ryosuke Aoike
Ghost Storeys
2007
COCOSOL1DC1T1


Sítios oficiais:
- David Kristian + Ryosuke Aoike
- COCOSOL1DC1T1
David Kristian + Ryosuke Aoike
Ghost Storeys
2007
COCOSOL1DC1T1


Sítios oficiais:
- David Kristian + Ryosuke Aoike
- COCOSOL1DC1T1
Aqui há fantasmas – subliminarmente sobrepostos e ampliados a partir de fonte tenebrosa.
Faz todo o sentido ver citado, no diário de bordo que acompanha o híbrido Ghost Storeys, um conceito japonês referente à manha das imobiliárias: Jiko Bukken serve como termo à redução de preço de venda que torne mais apetecível uma habitação anteriormente ocupada por alguém que cometeu suicídio. Flexibilizem-se-lhe os termos e o conceito passa a ser perfeitamente aplicável às peças mais climáticas que trespassam por completo um Ghost Storeys, que, em formato luxurioso, une em colaboração o know how de compositor para cinema de David Kristian aos visuais de manga mortificado que apresenta na metade DVD Ryosuke Aoike.

Jiko Bukken pelo trato traiçoeiro que assume o ambient mais sombrio com os ouvidos que se crêem envoltos por sons esparsos e vagos, mas que afinal se encontram imersos num dilúvio de texturas quase inaudíveis (e Kristian combina até 30 dessas). Acabam por receber mais do que aquilo que pagaram os sentidos votados à absorção de Ghost Storeys: licitam uma primeira porção capaz de conter as texturas mais superficiais e, numa segunda fase de aprofundamento, colocam em risco a sanidade assim que todas as outras texturas mais subterrâneas ganham nitidez (e semelhanças com as que Daniel Menche salientava a condutas de ar em Vent).

Mais perigosos são os danos de afogamento no impalpável lodo textural porque David Kristian, calejado por um currículo extenso em bandas-sonoras, não se fica por um moderado meio termo na selecção dos micro-sons que manipula de modo a que soem a corpos isométricos arrastados. A meticulosidade do canadiano chega ao ponto de aproveitar apenas alguns segundos de ruído que quebraram várias horas de silêncio captadas por um mini-disc estrategicamente colocado em obras abandonadas ou espaços urbanos recônditos. O terror de Ghost Storeys é muito mais psicológico que gore - assenta sobre a ideia de que o minimalismo aguça o conteúdo tenebroso, porque no vácuo ninguém ouve um grito por socorro.

Por sua vez, os visuais desoladores a cargo de Ryosuke Aoike (a conhecer em http://www.aoike.ca) frisam a verticalidade das grandes cidades como símbolo de enorme vazio – dando quase a entender que pode existir uma discografia paralela de alguém como Vidna Obmana entre as paredes de um arranha-céus inabitado. No que se refere à estética que lhe imprime David Kristian, Ghost Storeys acaba por ser parecer com uma vistoria completa dos mais inteligentes enquadramentos sonoros desenvolvidos pelas bandas-sonoras para conjugação com diversos pontos da narrativa em filme de terror. Com a variante de, neste caso imaginário, muito mais importar a ampliação do murmúrio que emite o oculto sobrenatural do que manipular as emoções com um quarteto de cordas que rasga o silêncio a cada vez que a vil criatura surge em cena.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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