DISCOS
Fucking Champs
VI
· 10 Abr 2007 · 08:00 ·
Fucking Champs
VI
2007
Drag City / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Fucking Champs
- Drag City
- AnAnAnA
Fucking Champs
VI
2007
Drag City / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Fucking Champs
- Drag City
- AnAnAnA
Evite a ressaca imposta pelo ridículo, mantenha-se bêbado ao som do rock mais debochado que a Drag City tem para oferecer.
Tal como já anunciavam os Dillinger Escape Plan e Mike Patton, com um monstruoso EP lançado há alguns anos na Epitaph:Irony is a Dead Scene. Enquanto recurso basilar ou norteio de uma banda, a ironia é decididamente um daqueles rastilhos acessos a que se acompanha a queima na certeza de que, assim que estoirar em saturação o barril, não sobrarão cuidados intensivos que revitalizem um corpo musical que sofreu overdose de deboche. Não deixa de ser relativa qualquer acusação dirigida a uma banda que se reja pelo insustentável gozo da ironia, mas não há mesmo como engolir vivo o sapo Fucking Champs – turma de São Francisco que ocupa 80% deste VI (a numeração romana simboliza virilidade) com um gorduroso pastiche de hard-rock de orgulhosa colheita 80, tão desgastado como os posters dos Scorpions ou Journey, e os restantes 20% com interlúdios de folk reflectiva e caricatural (“That Crystal Behind You?” deve ser acompanhada com incenso). Além disso, cometem ainda o descaramento de surgirem na fachada da obra com óculos espelhados e num molde tão desleixado que os condena de imediato a figurar nas próximas compilações de capas de discos absolutamente risíveis.

Estranha-se a presença destes compinchas dos (não menos subversivos) Trans Am num catálogo tão respeitável (mas nem por isso sisudo) como o da Drag City - do mesmo modo que mais riso provocam, por contraste, os telediscos de Twisted Sister quando intercalados com a actualidade que vai exibindo o VH-1 generalista. Mas toda a corte tem o seu bobo e os Fucking Champs dispõem de convicta classe de fiéis que aguardam sedentos qualquer tilintar aos guizos de rock retro-musculado e completamente despreocupado perante qualquer preenchimento intelectual. Assim marcha VI, tal como já avançavam os capítulos anteriores, IV e V: decidido a cumprir zero exigências racionais, a partir de dupla penetração conferida por duas guitarras de movimentos lubrificados pela bateria de Tim Soete. Muito mais elevadas são as exigências técnicas que, tal como manda a regra nesse campo, obrigam os Fucking Champs a exibir virtuosismo capaz de deixar túrgidos os mamilos do primeiro pelotão de groupies e empolgados os corpos daqueles que se sujeitarem à violência do mosh pit, numa “Earthen Sculptor” que esbanja riffs como quem vira “canecas” numa tarde ao sol no Parque das Nações, em Lisboa.

É, contudo, obsoleto denegrir as intenções puramente recreativas dos Fucking Champs, que absorvem como esponja comentários maldizentes e outras demonstrações de escárnio (leia-se a hilariante compilação de hate mail que reuniram no seu site oficial). De ânimo leve, pode alguém desagradado decidir-se por despachar a cosia com um Deixai-os ser alegres e estupidamente eufóricos na vampirização do rock cabeçudo. Outro alguém demasiado embriagado pode encontrar em VI o álbum exacto para acompanhar uma madrugada em que um grupo de amigos se decida por réplicas possíveis dos sketches Jackass nas traseiras de um hiper-mercado vigiado pela incompetência de um guarda sonolento. Na verdade, os Fucking Champs só provocam dores significantes quando consumidos em sobriedade. E daí que também nunca serviu o puro rock como banda-sonora para a vida de qualquer santo ou beato.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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