DISCOS
V/A
Jukebox Buddha
· 02 Abr 2007 · 08:00 ·
V/A
Jukebox Buddha
2006
Staubgold / Flur


Sítios oficiais:
- Staubgold
- Flur
V/A
Jukebox Buddha
2006
Staubgold / Flur


Sítios oficiais:
- Staubgold
- Flur
Apesar do oportunismo que lhe pode ser apontado, não deixa de ser heróica a intenção dos quinze intervenientes presentes em Jukebox Buddha: partir de um objecto à partida dado como estático e esgotável como qualquer gadget, e fazer desse um pretexto para reinvenções pós-modernas geradas a partir do mesmo ponto inicial – a badalada Buddha Machine e os nove loops que encaixa. Mais que meras remisturas ou reaproveitamentos directos dos sons mais célebres do experimentalismo Chinês, escuta-se à compilação da Staubgold (monitorizada pelos próprios FM3) toda a variedade possível de aplicações e permutas no que toca aos sons que debita o dispositivo minúsculo, interpretações diversas do sibilar que emitiu, no regresso, o Boomerang Buddha. Exercícios há que se projectam como satélites de árdua catalogação muito vagamente ligados ao imaginário do mote (caso do trip-hop esotérico de “Karma-Cola”, a cargo de dois nomes normalmente associados ao dub, Adrian Sherwood e Doug Wimbish).

Mas a fadiga também afecta todo aquele que se leva demasiado a sério neste jogo de apropriações: Robert Henke – o senhor Monolake que não deve ser confundido com o ex-guardião do Benfica – afoitou-se já a um disco inteiro centrado nos loops da caixa e o resultado foi o previsível Layering Buddha, derivativa corpolarização gradual das camadas, à priori úteis a acumulação espiritual, que passam, no seu disco, a conhecer ligeiras mutações (e a adquirir uma progressividade mais musical). O contributo dos Kammerflimmer Kolleftief não é muito mais interessante e prende-se demasiado ao que se espera dos mesmos: uma micro-banda-sonora, a trailer de um biopic dedicado à vida do fantasma que habita a Buddha Machine.

Tudo o resto é digno de ser escutado e prova de que o gadget também aguça o engenho. A sabedoria de Aki Honda manifesta-se numa “The Buddha in New York” que alterna, com resultados dramáticos, entre um drone hipnótico e terapia de choque servida em vagas electrocutantes (a relembrar que a Machine também tem um interruptor). Os supracitados Adrian Sherwood e Doug Wimbish levam a cabo uma digressão robotico-zen através de selecção inteligente dos trechos mais serenos da Machine. Gudrun Gut (um dos dois Einstürzende Neubauten envolvidos no projecto) “chula” as capacidades sensuais que pode eventualmente encerrar a caixinha originalmente baseada num propósito religioso. A equipa de sonho, Jelinek / Pekler / Leichtmann, brinca com os rios de dinheiro que rendeu a máquina e transformam os loops em jingles publicitários na elucidativa “BuddhaMachineCommercial”. E mesmo que a balança entre o trigo e joio não tombasse, por dilema, para um dos lados, “BP//Simple”, a cargo da superlativa dupla SunnO))), justificaria por si só a aquisição de Jukebox Buddha como complemento perfeito para a sua base. Pois se o drone é o responsável por toda esta euforia e fenómeno, quem melhor que os SunnO))) para uma monumental tese sobre o assunto? Não podiam ser mais respeitáveis as honras prestadas à Buddha Machine.
Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com

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