DISCOS
Svarte Greiner
Knive
· 02 Abr 2007 · 08:00 ·
Svarte Greiner
Knive
2006
Type


Sítios oficiais:
- Type
Svarte Greiner
Knive
2006
Type


Sítios oficiais:
- Type
O norueguês Erik K. Skodvin pinta uma paisagem de beleza e horrores, uma interessante cirurgia não convencional.
Knive, nos seus quase 45 minutos, é o disco mais extremo e inesperado de sempre vindo da britânica Type – e um dos mais desafiantes. Talvez experimental seja a palavra mais acertada; da editora que lançou discos de Helios, Khonnor e Xela. O norueguês Erik K. Skodvin é metade dos Deaf Center (projecto que tem igualmente a Type como casa), e em Knive explora aquilo que o próprio apelida de “acoustic doom”, que é o mesmo que dizer que este é um disco assumidamente e democraticamente negro. Esta será talvez a tradução real das áreas mais obscuras do cérebro de Svarte Greiner. Já os Deaf Center não são propriamente luminosos.

Em “The boat was my friend”, o primeiro tema de Knife estão quase todos os elementos que Erik K. Skodvin explora nos próximos oito temas. A electrónica, a guitarra (que bem que soa quando rasga a paisagem), violoncelo e vozes - profundamente espirituais. Em “Ocean out of wood” adensa-se o horizonte, saturam-se as ambiências ao mesmo tempo que se respeita escrupulosamente o silêncio. Preciosos os momentos em que o violoncelo interrompe o sossego e instala a incerteza. Enquanto que “My Feet, over there” parece recolher ruídos mínimos e sons anónimos, “Easy on the Bones” explora misteriosamente a união do violoncelo com vozes femininas para grande satisfatção de quem ouve. Ao longe afiam-se facas para um derramamento de sangue – cultos preparam-se para cumprir a passagem.

A metade do disco já todos teremos gasto a palavra “inquietante” como se fora um vinil velho. Nenhuma palavra descreverá melhor o trabalho de Erik K. Skodvin neste disco – claustrofóbico é também uma boa hipótese para quem aqui entrar desprevenido. “An Ordinary hyke” confirma-o com uma secreta caminhada pelos bosques e “The black Dress” é a banda sonora para a anunciada cerimónia propriamente dita. Em mais de nove minutos, o norueguês serve uma série de sons que combinam tão acertadamente juntos como o pão e a manteiga. O mesmo se aplica para as ultimas duas faixas do disco, “The Dinning Table” (a fazer lembrar de certa forma o mexicano Murcof) e “Final Sleep”, duas faces de uma mesma moeda. A última resume de forma enternecedora (vozes ao alto) o que este disco representa. Do inicio ao seu fim, Knife é um álbum que parte da mente para trabalhar a mente. Todos sabemos quais são os riscos de tamanha ambição, mas Erik K. Skodvin, conhecedor das paisagens da Noruega, é um óptimo neurocirurgião.
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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