DISCOS
V/A
Plague Songs
· 26 Mar 2007 · 08:00 ·
V/A
Plague Songs
2006
4AD / Popstock Portugal!
Sítios oficiais:
- 4AD
- Popstock Portugal!
Plague Songs
2006
4AD / Popstock Portugal!
Sítios oficiais:
- 4AD
- Popstock Portugal!
V/A
Plague Songs
2006
4AD / Popstock Portugal!
Sítios oficiais:
- 4AD
- Popstock Portugal!
Plague Songs
2006
4AD / Popstock Portugal!
Sítios oficiais:
- 4AD
- Popstock Portugal!
As Dez Pragas bíblicas servem de mote a igual número de exercícios musicais profetizados por luxuoso elenco de músicos.
A crer que o Google serve como indicador estatístico do duelo que levam a cabo o Bem e o Mal pela supremacia do catálogo da 4A, urge apontar que o primeiro braço da balança ainda terá que suportar mais umas quantas medidas para equilibrar o sistema que tudo gere. Com propósitos meramente científicos, seleccionaram-se três termos frequentemente associados à música da label britânica 4AD – “etéreo”, “celestial” e “virginal” – e efectuou-se uma pesquisa separada que conjugava cada um desses (escritos em inglês) com o número e duas letras que nomeiam a casa. A soma disso foi de 203.665 resultados, apenas mais 12.665 dos que acumulou a procura por “4AD”+”Mal”(Evil), que alcançou a esclarecedora marca dos 191.000. A matemática Google não será propriamente exacta, mas deixa bem assente a ideia de que ainda permanece por conhecer predominância absoluta o espaço que reserva ao Bem e Mal a 4AD, que, nem por acaso, conta com álbuns suficientes de Cocteau Twins – auratos da luminosidade – para uso como antídoto do veneno e perversão que possa suportar a discografia dos Pixies. Perante isto, acreditar-se-ia que um disco conceptualmente vinculado às Dez Pragas do Egipto, constante do livro do Êxodo, poderia vir definir a tendência da batalha, mas só vem mesmo baralhá-la – se bem que isso não é necessariamente negativo.
Em termos resumidos, explica-se a fundação de Plague Songs como uma ideia da multi-facetada artista Penny Woolcock que foi incumbida de servir uma exposição dedicada às Dez Pragas com músicas propositadamente compostas para a ocasião, que haveria de ocorrer no museu Winter Gardens na pequena vila de Margate, em Inglaterra. O brainstorm que moveu a selecção das figuras musicais foi ganhando volume e a dimensão do projecto adquiriu uma envergadura passível de ser divisível por vários formatos. Plague Songs acaba por ser o disco que cimentou o conceito em disco. O que à partida parece condenado a ser um objecto pretensioso, acaba por ter no seu elenco de luxo o melhor remédio para sarar as chagas que infligem um par de momentos mais descabidos. Além disso, facilitar uma colaboração inédita entre os históricos Brian Eno e Robert Wyatt não acontecerá todos os dias e a ressurreição – mesmo que momentânea – do supra-cool Cody ChesnuTT é o milagre operado por um disco coincidentemente bíblico.
A favor da ideia de que o cinzento é a cor mais apropriada ao simbolizar da 4AD, são vários os momentos em que, na abordagem às dez circunstâncias bíblicas, os músicos assumem a perspectiva dos agentes da ira que Deus encarregou Moisés de transmitir. Em modo de songwriter inspirado, o simpático King Creosote assume, em nome dos sapos, a interrogação existencialista que sobre eles se terá abatido quando foram encarregados de devastar as terras do Faraó. Conformemente cerimoniosa é a praga de moscas que Brian Eno - recuado até ao romantismo típico dos seus contemporâneos Current 93 e Martyn Bates - encomenda à voz manipulada de Robert Wyatt numa “Flies” que muito facilmente podia ser expandida até ao porte de longa-duração. Completamente desnecessário – se bem que igualmente neutro - acaba por ser o capricho Euro-pop cometido por Stephin Merritt (o senhor Magnetic Fields) numa piolhenta “The Meaning of Lice” que infesta de kitsch as serpentinas rítmicas daquilo que poderiam ser os !!! após um mergulho em mezcal.
Outros contributos há que desfazem por completo a linha que separa as cores do Yin-Yang e deixam que impere uma só cor. Scott Walker necessita apenas da sua voz tenebrosa, coro paranóico e seco pulsar constante para assegurar a “Darkness” uma consistente amostra do espesso negrume que cobria por completo o hiperbólico The Drift. O hip-hop tão fatal quanto urbano de Klashnekoff não é plenamente suficiente a uma “Blood” que reclama mesmo pela presença de uns Dälek ou Clipse. Em jeito de clareio que sucede ao eclipse, “Katonah”, assinada por um Rufus Wrainwright que percebe bem o que lhe é pedido, faz acreditar que a rendição da espécie humana será cantada de whisky velho na mão e dedos esqueléticos sobre o marfim do piano.
Por acumulação de encaixes indecifráveis, Plague Songs acaba por ser um objecto atraentemente estranho. Não se chega a perceber ao certo como se combina a pop radio-friendly da britânica Imogen Heap e a imagem da incessante queda de granizo, mas a verdade é que isso resulta no encadeamento (nunca em quarentena que o isolasse do mesmo). Também terá existido, entre a turba devastada, quem não acreditasse no que testemunhava. Acaba a oscilação entre géneros por ser tão imprevisível como o avanço das pragas invocadas. Quando só a Madonna e as baratas dominarem a terra, sobrarão ecos vagos da compilação que só não prestigia mais o nome da 4AD porque esse valor já transbordar aos três caracteres que nunca deixaram de ser sinónimo de música extremamente interessante.
Miguel ArsénioEm termos resumidos, explica-se a fundação de Plague Songs como uma ideia da multi-facetada artista Penny Woolcock que foi incumbida de servir uma exposição dedicada às Dez Pragas com músicas propositadamente compostas para a ocasião, que haveria de ocorrer no museu Winter Gardens na pequena vila de Margate, em Inglaterra. O brainstorm que moveu a selecção das figuras musicais foi ganhando volume e a dimensão do projecto adquiriu uma envergadura passível de ser divisível por vários formatos. Plague Songs acaba por ser o disco que cimentou o conceito em disco. O que à partida parece condenado a ser um objecto pretensioso, acaba por ter no seu elenco de luxo o melhor remédio para sarar as chagas que infligem um par de momentos mais descabidos. Além disso, facilitar uma colaboração inédita entre os históricos Brian Eno e Robert Wyatt não acontecerá todos os dias e a ressurreição – mesmo que momentânea – do supra-cool Cody ChesnuTT é o milagre operado por um disco coincidentemente bíblico.
A favor da ideia de que o cinzento é a cor mais apropriada ao simbolizar da 4AD, são vários os momentos em que, na abordagem às dez circunstâncias bíblicas, os músicos assumem a perspectiva dos agentes da ira que Deus encarregou Moisés de transmitir. Em modo de songwriter inspirado, o simpático King Creosote assume, em nome dos sapos, a interrogação existencialista que sobre eles se terá abatido quando foram encarregados de devastar as terras do Faraó. Conformemente cerimoniosa é a praga de moscas que Brian Eno - recuado até ao romantismo típico dos seus contemporâneos Current 93 e Martyn Bates - encomenda à voz manipulada de Robert Wyatt numa “Flies” que muito facilmente podia ser expandida até ao porte de longa-duração. Completamente desnecessário – se bem que igualmente neutro - acaba por ser o capricho Euro-pop cometido por Stephin Merritt (o senhor Magnetic Fields) numa piolhenta “The Meaning of Lice” que infesta de kitsch as serpentinas rítmicas daquilo que poderiam ser os !!! após um mergulho em mezcal.
Outros contributos há que desfazem por completo a linha que separa as cores do Yin-Yang e deixam que impere uma só cor. Scott Walker necessita apenas da sua voz tenebrosa, coro paranóico e seco pulsar constante para assegurar a “Darkness” uma consistente amostra do espesso negrume que cobria por completo o hiperbólico The Drift. O hip-hop tão fatal quanto urbano de Klashnekoff não é plenamente suficiente a uma “Blood” que reclama mesmo pela presença de uns Dälek ou Clipse. Em jeito de clareio que sucede ao eclipse, “Katonah”, assinada por um Rufus Wrainwright que percebe bem o que lhe é pedido, faz acreditar que a rendição da espécie humana será cantada de whisky velho na mão e dedos esqueléticos sobre o marfim do piano.
Por acumulação de encaixes indecifráveis, Plague Songs acaba por ser um objecto atraentemente estranho. Não se chega a perceber ao certo como se combina a pop radio-friendly da britânica Imogen Heap e a imagem da incessante queda de granizo, mas a verdade é que isso resulta no encadeamento (nunca em quarentena que o isolasse do mesmo). Também terá existido, entre a turba devastada, quem não acreditasse no que testemunhava. Acaba a oscilação entre géneros por ser tão imprevisível como o avanço das pragas invocadas. Quando só a Madonna e as baratas dominarem a terra, sobrarão ecos vagos da compilação que só não prestigia mais o nome da 4AD porque esse valor já transbordar aos três caracteres que nunca deixaram de ser sinónimo de música extremamente interessante.
migarsenio@yahoo.com
ÚLTIMOS DISCOS
ÚLTIMAS