DISCOS
White Magic
Dat Rosa Mel Apibus
· 23 Mar 2007 · 07:00 ·
White Magic
Dat Rosa Mel Apibus
2006
Drag City / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Drag City
- AnAnAnA
White Magic
Dat Rosa Mel Apibus
2006
Drag City / AnAnAnA


Sítios oficiais:
- Drag City
- AnAnAnA
Mira Billotte oferece em Dat Rosa Mel Apibus um salmo espiritual capaz de expurgar os pecados da alma humana.
White Magic é um dos nomes da célebre compilação Golden Apples of the Sun, digno oráculo representativo de uma explosão estilística e musical que tanta curiosidade e interesse despertou. Dat Rosa Mel Apibus é o primeiro álbum da banda, após um par de EPs e singles. Apesar da ligação à compilação neo-hippie desenganem-se aqueles que, redutoramente, podem cair na tentação de os catalogar como mais uns friques do folclore. Pelo contrário, o álbum é construído numa mescla de sonoridades e estilos que vão do jazz ao dub ou ao experimentalismo.

Mira Billotte é a figura principal deste colectivo mutável cujo único elemento recorrente é Douglas Shaw, músico de blues por conta própria saído recentemente de uma longa licença sabática. O leque de músicos convidados impõe respeito, e denota o cuidado que Mira teve na concepção do disco. Só para a bateria são quatro os músicos convidados, entre eles Jim White (Current 93 e Cat Power), Jesse Lee (Rusty Santos) e Tim DeWitt (Gang Gang Dance). Participam também a cantautora Samara Lubelski no violino e Shahzad Ismaily (Doveman e Burnt Sugar) no baixo.

As músicas estão em constante queda, atraídas para um abismo em espiral que fornece à música uma eteriedade flutuante. Muito por causa da fusão instrumental, catalizadora das composições para a heterogeneidade das diversas mentes criativas que participam no disco. Sítaras, acordeões e percurssões de vários tipos reflectem a noção de atemporalidade que as músicas de Dat Rosa Mel Apibus encerram. As letras giram em torno da Natureza – fauna e flora, o sol ou a lua, enquanto temas centrais da vida, e logo, do ser humano. E é essa a melhor definição para o álbum – humano. As composições são criadas do ponto de vista do Homem e da sua relação com a Natureza ao longo dos tempos, salientando os seus medos, conquistas e credos.

Cada faixa é uma história de comportamento humano e de celebração da vida. O título do disco, Dat Rosa Mel Apibus - “O Mel que a Rosa dá à Abelha” - é o fio condutor e explicativo da natureza do álbum. Provém de uma expressão latina utilizada por peregrinos e que significa que apesar do caminho ser tortuoso e difícil, o destino é doce como mel. O título do álbum, provavelmente retirado de uma pintura homónima de Anselm Kiefer, dá o mote para a leitura da música. Tal como o quadro, a música evoca paisagens complexas e sombrias perdidas entre a luz e a sombra, numa cúpula de energia primitiva.

Dat Rosa Mel Apibus é um disco atemporal, criado numa atmosfera de procura por uma união etno-musical enquanto resposta para a desagregação da espiritualidade humana. A voz de Mira, marcada pelos cantos nómadas do médio-oriente ou dos índios norte-americanos, é a portadora da razão, conduzindo a panóplia de influências e instrumentos que pululam em todo o álbum, num discurso apaziguador de procura em que tudo se acondiciona para justificar uma só ideia, superior à somas das partes.
Bruno Moreira

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